O Dia Mundial de Conscientização sobre o Abuso de
Idosos -- 15 de junho --, foi oficialmente reconhecido pela Assembleia Geral
das Nações Unidas em sua resolução 66/127, de dezembro de 2011, a pedido da
Rede Internacional para a Prevenção do Abuso de Idosos (INPEA), que instituiu a
comemoração pela primeira vez em junho de 2006. A data representa o dia do ano
em que o mundo inteiro se opõe aos abusos e sofrimentos infligidos a algumas de
nossas gerações mais velhas.
O abuso de idosos é um ato intencional ou
negligente de qualquer pessoa que cause dano ou um sério risco de dano a um
idoso, afetando milhões de idosos anualmente.
Os idosos são maltratados em vários ambientes
(lares, lares de idosos) por familiares, amigos e vizinhos, profissionais e
estranhos. O abuso pode resultar em morte prematura, deterioração da saúde
física e psicológica, destruição de relacionamentos sociais e familiares e
perdas financeiras devastadoras.
A pandemia de covid-19 criou desafios sem
precedentes para nosso país e para o mundo, mas impactou desproporcionalmente
os idosos. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) relata que 8 em cada 10 mortes relacionadas à
covid-19 ocorreram entre adultos com 65 anos ou mais e 40% das mortes
relacionadas à doença estão entre residentes de casas de repouso. A pandemia
também isolou muitos idosos, minando nossa capacidade de detectar o abuso.
Em muitas partes do mundo, o abuso de idosos ocorre
com pouco reconhecimento ou resposta. Até recentemente, esse grave problema
social era escondido da opinião pública e considerado um assunto privado. Ainda
hoje, a temática continua a ser um tabu, subestimado e ignorado pelas
sociedades. No entanto, as evidências estão se acumulando para indicar que o
abuso de idosos é um importante problema de saúde pública e social.
O problema existe em países desenvolvidos e em
desenvolvimento, mas geralmente é subnotificado globalmente. As taxas ou
estimativas de prevalência existem apenas em países desenvolvidos selecionados
— variando de 1% a 10%. Embora a extensão dos maus-tratos aos idosos seja
desconhecida, seu significado social e moral é óbvio. Como tal, exige uma
resposta global multifacetada, que se concentre na proteção dos direitos das
pessoas idosas. Do ponto de vista social e de saúde, a menos que os setores de
atenção primária à saúde e serviços sociais estejam bem equipados para
identificar e lidar com o problema, o abuso de idosos continuará sendo subdiagnosticado
e negligenciado.
A prevenção da violência contra o idoso pressupõe,
antes de tudo, que sejam conhecidos os fatores que os colocam em situação de
vulnerabilidade. Se conseguirmos identificar esses fatores de risco, podemos
atuar para reduzi-los ou eliminá-los, prevenindo o desenvolvimento de novos
casos ou a progressão negativa de situações existentes. Nossa compreensão
desses fatores também contribui para a mobilização de políticas públicas de
prevenção.
Vários países têm feito esforços para aumentar as
estratégias de prevenção, desde o desenvolvimento de projetos e campanhas
publicitárias de prevenção primária focadas nesta forma específica de
violência, até a formação especializada de profissionais de primeira linha
(como enfermeiros, médicos e policiais) ou ações judiciais nos casos de
violência contra o idoso.
De fato, é necessário fornecer informações que
sejam sensíveis a todos e é importante que a comunidade se envolva em ações de
redução e prevenção da violência contra o idoso. Exemplos disso são as
atividades que envolvem diferentes gerações para momentos de partilha e afeto
(por exemplo, leitura, caminhada), bem como ações de sensibilização dos
profissionais que trabalham com idosos, alertando-os para a necessidade de
ajuda, para evitar uma possível exploração financeira ou outros tipos de
violência e desrespeito aos seus direitos.
A capacitação de profissionais, visando aprimorar o
atendimento ou informação prestada ao idoso vítima de violência, bem como a
divulgação de materiais e manuais de capacitação e informação, estão entre os
esforços para reduzir o risco e contribuir para o apoio direcionado e
especializado ao idoso.
Rubens
de Fraga Júnior - professor de
Gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná (FEMPAR) e é médico
especialista em Geriatria e Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria
e Gerontologia (SBGG).
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