Reinspeção do bacalhau. Fotos: Utra/Itajaí-SC |
Produtos como bacalhau e vinho, alguns do mais comercializados na Semana Santa, são alvo de fiscalização e inspeção dos auditores fiscais federais agropecuários. Quanto ao chocolate, fiscalizam a qualidade das amêndoas do cacau
Com a proximidade da Páscoa, itens como bacalhau,
vinho e chocolate normalmente estão na lista de compras do brasileiro. A
questão é redobrar a atenção para fazer escolhas seguras. Cuidados com a
procedência e a qualidade desses produtos ajudam a evitar fraudes e outras
armadilhas, geralmente fáceis de identificar pela observação de rótulos
adulterados. No caso do bacalhau, a dificuldade está em saber escolher o
legítimo, diante de tantas ofertas de peixes salgados, comercializados como se
fossem bacalhau.
“Na inspeção são avaliados todos os aspectos
sanitários na importação do produto e os problemas mais comuns são a presença
de parasitas, a falsificação de espécies e a rotulagem adulterada”, explica
Rodrigo Mabilia, auditor fiscal federal agropecuário (affa), que atua na área
de inspeção de pescados, da Divisão de Importação de Produtos (Dimp), do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O auditor também
esclarece que peixes como abrótea e pirarucu costumam ser erroneamente
rotulados como bacalhau.
Além da atuação dos auditores fiscais federais
agropecuários (affas), que garantem a segurança alimentar no país, a escolha
segura também pode ser feita com base nas orientações da cartilha
elaborada pelo Mapa, em parceria com o ANFFA Sindical (Sindicato Nacional dos
Auditores Fiscais Federais), que traz informações valiosas para evitar fraudes
e riscos sanitários na aquisição do produto.
A publicação esclarece que nem todo peixe salgado é
um bacalhau. E ensina que o bacalhau não é simplesmente um processo de
fabricação que utiliza a salga. Segundo a cartilha, somente podem ser chamados
de bacalhau as espécies de peixe Gadus morhua (conhecidas como bacalhau do
Porto ou Cod), Gadus macrocephalus (que podem ser chamados de bacalhau ou
bacalhau do Pacífico) e Gadus ogac.
"No Brasil é obrigatório informar os nomes
científicos no rótulo do bacalhau", informa Caio Júlio Cesar Augusto,
fiscal federal agropecuário que atua na área de pescados há mais de 15 anos.
Segundo ele, normalmente as adulterações na rotulagem ocorrem quando o peixe
chega ao nosso país.
Vinho
Com relação ao vinho, o ANFFA também divulga uma cartilha
produzida a partir de conteúdo elaborado pelo Affa Juliano Simioni, Chefe do
Serviço de Inspeção de produtos de Origem vegetal -- Sipov/Mapa, em Santa
Catarina. Segundo Simioni, o cenário de fraudes e clandestinidade que envolve o
vinho pode ser alimentado pelo próprio consumidor, sem saber. A busca por
preços tentadores, que não condizem com o praticado no mercado e com a
qualidade e procedência do vinho pode levar as pessoas a adquirir vinhos
falsificados, com misturas e outras adulterações. “Há um preço mínimo para cada
tipo de vinho. E se estiver sendo vendido abaixo desse patamar, o consumidor
tem que desconfiar”, recomenda.
Sobre os vinhos produzidos no Brasil, Juliano
orienta que também se observe no rótulo o número do registro do produto,
concedido pelo Mapa, e o nome da vinícola que produziu a bebida. Conforme a
legislação de vinhos e bebidas no Brasil, todos os estabelecimentos que
produzem bebidas devem ser registrados no Ministério e no rótulo deve constar o
número desse registro. Se não constar, o consumidor pode estar adquirindo um
produto clandestino, em que não há garantias quanto à segurança e qualidade do
produto para consumo, pois não passou pelo controle dos auditores fiscais
federais agropecuários, explica Juliano, que há 13 anos inspeciona
estabelecimentos de vinhos e bebidas quanto às condições sanitárias e
tecnológicas.
Entre as várias informações sobre o tema, a
cartilha também esclarece uma dúvida muito comum quando se fala em espumantes.
Explica que os espumantes também são vinhos. E que conforme a legislação
brasileira, espumante é uma bebida em que as borbulhas (gás carbônico) ocorrem
devido a uma segunda fermentação da bebida, podendo ocorrer em garrafas, método
conhecido como Champenoise/tradicional; ou em grandes recipientes, chamado
método Chaussepied/Charmad. As classificações dos espumantes, conforme o teor
de açúcar, também são informadas na publicação.
Chocolate
Outro item indispensável na Páscoa, o chocolate
também requer atenção na compra. Mas, o que poucos sabem é que o produto mais
desejado nesse período do ano é fiscalizado pelos affas, antes mesmo de se
transformar na delícia que conquista o paladar de milhares de consumidores
mundo afora.
Está entre as atribuições de auditores fiscais
federais agropecuários (affas) fiscalizar a qualidade das amêndoas do cacau,
principalmente as importadas, para verificar se existem pragas e ou doenças,
assim primando por um produto de qualidade, para obter um chocolate de alto
valor nutritivo bem como outros produtos derivados. "De cada 10kg de cacau
de qualidade é possível produzir 8kg de chocolate", informa Milton Jose da
Conceição, Chefe de Divisão de Sistema de Produção da Coordenação Regional de
Pesquisa e Inovação da Bahia e Espírito Santo, maiores produtores do fruto.
Segundo Milton, vários fatores contribuem para o
chocolate de boa qualidade, entre eles, a colheita no tempo certo, a
fermentação, "que é o ponto-chave para um bom produto". Também
destaca os processos de secagem, onde se define a umidade ideal do cacau, até a
classificação das amêndoas, processo que também é fator determinante para um
chocolate de qualidade.
Todo esse processo envolve um árduo trabalho dos
produtores, que ainda têm que lutar contra a praga mais temida na região
produtora de cacau, a vassoura-de-bruxa, causada pelo fungo Moniliophthora
perniciosa. A vassoura-de-bruxa tem esse nome porque deixa os ramos do
cacaueiro secos como uma vassoura velha. As áreas afetadas secam e não conseguem
realizar fotossíntese, os frutos apodrecem e não servem para aproveitamento
comercial, causando grandes prejuízos. “O produtor cultiva o cacau com muito
esmero", destaca Milton e informa que na maioria das plantações de cacau
da Bahia e do Espírito Santo, onde existe a praga, é difícil para os pequenos
produtores manterem o cultivo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário