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terça-feira, 22 de março de 2022

Endometriose: revisão de protocolos muda forma de diagnosticar problema que atinge 30% de mulheres com dificuldade de engravidar

Ginecologista da Origen explica importância do trabalho conduzido pela Sociedade Europeia de Reprodução Assistida

 

A Sociedade Europeia de Reprodução Assistida (ESHRE) acaba de revisar os protocolos de diagnóstico e tratamento para endometriose – uma das condições mais associadas à infertilidade feminina, chegando a ser diagnosticada em mais de 30% das pacientes que não conseguem engravidar e buscam avaliação médica. O objetivo da revisão é contribuir com sugestões e novos achados sobre como tratar o problema, até hoje sem causas bem estabelecidas. 

De acordo com o médico ginecologista da clínica Origen, Rodrigo Hurtado, professor do Departamento de Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), não se sabe ainda se a endometriose é fruto de uma questão genética, imunológica, metaplásica ou correlacionada a outras doenças – fato é que ela é hormônio dependente: sua atividade responde à produção do estrogênio, hormônio feminino mais prevalente entre a primeira menstruação e a menopausa. 

Duas revisões interessantes no guia 2022 dizem respeito ao diagnóstico da endometriose: uma delas abrange dois grupos de mulheres cujas faixas etárias não eram previstas antes - meninas que ainda não menstruaram e mulheres pós-menopausa. “Essa abrangência trazida agora é interessante, pois leva o médico a ter um olhar mais ampliado do problema, que pode aparecer mais cedo do que imaginávamos e persistir pós período fértil, afinal, esta é uma doença que impacta a vida da mulher desde sempre”, diz o médico. No caso das meninas jovens ele avalia que a nova diretriz é importante, uma vez que o atraso no diagnóstico e início de tratamento pode chegar a 12 anos – um tempo, segundo ele, inadmissível do ponto de vista de saúde pública.

A segunda mudança no protocolo diz respeito ao diagnóstico e tratamento inicial: antes, se havia suspeita de endometriose, eram solicitados obrigatoriamente exames de ultrassom e sangue, e, na sequência, laparoscopia e biópsia. “Esta linha de raciocínio deixou de ser o chamado “padrão ouro”. Se a paciente tem sintomas muito significativos – dor pélvica, menstruação dolorosa e, em casos mais graves, dificuldade em engravidar, já iniciamos o tratamento imediato. Se respondeu bem, assume-se que é endometriose. Se não responde, aí parte-se para uma investigação mais detalhada”, comenta Hurtado.   

A primeira edição do guia para endometriose foi feita em 2005, teve uma revisão em 2014, e a versão mais atual, de 2022. “Esse aglomerado de informações técnicas é importante para orientar médicos do mundo todo sobre como tratar a endometriose e traz novas evidências. Propõe também linhas de pesquisa que podem ser exploradas nos centros científicos para, cada vez mais, entendermos a endometriose e adotarmos procedimentos mais bem direcionados e assertivos”, diz. 

Segundo Hurtado, desde o início da publicação do guia – há 17 anos – tentou-se agrupar mulheres com padrão similar de ocorrência da endometriose, mas o formato não trouxe grande impacto positivo. “O que sempre vemos é um agrupamento de pacientes com sintomas que sugerem o problema - a endometriose não deveria ter uma sistematização de sintomas e sim, individualização do tratamento para cada mulher. É como a febre: um achado clínico que pode indicar várias doenças e infecções.”

 

Tratamentos – Para tratar a endometriose, inicia-se com o bloqueio do hormônio estrogênio, fisiologicamente ativo, por meio de anticoncepcional. A segunda linha é tratar a dor pélvica, geralmente com analgésicos e anti-inflamatórios, de acordo com a intensidade e a localização da dor. “Se as queixas da paciente vêm acrescidas da dificuldade de engravidar, aí partimos para a reprodução assistida (RA). Na Origen, trabalhamos sob duas óticas: “menor acometimento por endometriose, é possível adotar a inseminação artificial; maior acometimento, fertilização in vitro passa a ser a melhor opção”, esclarece.

Para mulheres já diagnosticadas, sem filhos e que querem ser mães, Rodrigo Hurtado alerta para a importância de se buscar informações. “Muitos ginecologistas tratam as mulheres do ponto de vista hormonal, da dor e cirurgicamente. Alerto para uma questão delicada, mas real: a possibilidade de ter a reserva ovariana diminuída pela operação de endometriose. Cirurgia ovariana, por mais cuidadosa que seja, interfere diretamente na reserva da mulher, que fica menor do que era antes. Lembrando que a mulher nasce com essa reserva ovariana já pré-estabelecida e, com o passar dos anos, sua taxa de óvulos vai declinando, pelo número de menstruações e pela idade.Deve-se sempre, antes da cirurgia, oferecer a opção de congelamento de óvulos ou embriões”.


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