Cerca de 8% de crianças e 2% de adultos têm alergia alimentar
Banana está entre as frutas que mais
causam alergias em crianças menores de um ano
Retirar
um alimento da dieta a fim de prevenir possível reação alérgica pode causar
sérios prejuízos nutricionais à saúde da criança. O alerta é da Dra. Renata
Cocco, membro do Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).
As
alergias alimentares são mais comuns nas crianças, provavelmente por uma
imaturidade do sistema imunológico, ou seja, a chance do organismo reconhecer
proteínas dos alimentos como "inimigas" é maior, acarretando sintomas
clínicos diversos. Alguns dados epidemiológicos mundiais apontam para
prevalência de 8% de crianças com alguma forma de alergia alimentar, enquanto
nos adultos esse número fica ao redor dos 2%.
Além
de frutos do mar, leite e ovo, conhecidos por desencadear alergias, amendoim e
castanhas ganharam posição entre os alimentos mais alergênicos.
Abaixo,
Dra. Renata explica mais sobre as alergias alimentares.
Houve
um aumento na prevalência das alergias alimentares?
Sim,
mas apesar do aumento da prevalência das alergias alimentares, o excesso de
diagnósticos é ainda mais expressivo. Enquanto a falta do correto diagnóstico
pode acarretar sintomas graves, potencialmente fatais, a restrição
desnecessária também acaba por levar a estigmas nutricionais, psicológicos e
sociais. O diagnóstico e tratamento deve ser realizado por médico experiente,
preferencialmente um alergista. Outro ponto que merece destaque: não há
indicação de se evitar nenhum alimento como forma de prevenção, seja na dieta
da gestante, da mãe que amamenta ou da própria criança.
Quais
são os alimentos que provocam mais alergias em crianças?
Leite
e ovo ainda são os principais vilões de alergias na infância. Alergia a trigo
também ocupa um papel de destaque. Entretanto, alimentos anteriormente menos
comuns de induzirem reações nessa faixa etária aumentaram muito a
incidência nos últimos anos, caso do amendoim e castanhas. Peixes e frutos do
mar, por fim, completam a lista dos mais alergênicos, embora qualquer alimento
possa ser potencialmente o responsável pelas reações. Uma percepção importante:
as frutas tomam um espaço cada vez maior entre as alergias no primeiro ano de
vida, com destaque para a banana.
Quando
as alergias alimentares se manifestam na infância, há chance de elas
desaparecerem na fase adulta?
Depende
do alimento envolvido. A alergia ao leite, ovo, trigo e soja, na grande maioria
dos casos, são abrandadas espontaneamente até a segunda década de vida.
Amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar são tipicamente persistentes
por toda a vida.
As
crianças que manifestam alergia alimentar possuem tendência a apresentar outros
tipos de alergia?
Não
necessariamente. Existe uma grande parcela de crianças alérgicas a alimentos
que apresentam concomitantemente alergias respiratórias (asma, rinite) ou
cutâneas (dermatite atópica) mas isso não é uma regra.
-Quais
os sintomas da alergia alimentar?
Os
sintomas são bastante variados e podem se manifestar de vermelhidões locais
isoladas a um colapso cardiovascular. Entre as manifestações possíveis,
destacam-se:
-
Cutâneas: placas vermelhas localizadas ou
difusas por todo corpo (urticária), inchaço de olhos, bocas e orelhas
(angioedema), coceira. A dermatite atópica, lesão de pele extremamente
pruriginosa (muita coceira), está associada a alimentos apenas nas formas mais
graves (dermatite ou eczema disseminados pelo corpo e não apenas em dobras de
cotovelos e joelhos).
-
Gastrointestinais: diarreia e vômitos imediatos; um
mecanismo imunológico conhecido por “não mediado por IgE” pode acarretar
sintomas gastrintestinais mais tardios, horas ou dias após a ingestão (leite e
soja são os alimentos mais comumente relacionados) e incluem um ou mais dos
sintomas: diarreia com ou sem sangue, refluxo exacerbado, perda de peso,
vômitos prolongados.
-
Respiratório: falta de ar e chiado no peito
(broncoespasmo) podem ocorrer de forma imediata após a ingestão do alimento.
Pacientes com asma não controlada são mais predispostos a este sintoma. Mas é
importante ressaltar que sintomas crônicos do sistema respiratório, como asma e
rinite, dificilmente são manifestações de alergia alimentar quando não houver
alterações cutâneas e/ou gastrintestinais.
-
Cardiovasculares: a queda da pressão arterial, levando a
desmaio, tontura, arroxeamento dos lábios (hipóxia) caracteriza o choque
anafilático e representa a forma mais grave da doença.
Muito
importante: a definição de anafilaxia não é apenas
quando o paciente apresenta sintomas respiratórios e/ou cardiovasculares. O
acometimento de dois ou mais sistemas (ex: cutâneo e gastrintestinal)
caracterizam uma anafilaxia e devem ser tratados como tal (adrenalina
intramuscular). Um exemplo: paciente com urticária (sistema cutâneo) e vômitos
(gastrintestinal) já deve ser classificado como anafilático.
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