Encontrar e reter talentos. Essa é a grande missão
do RH em uma empresa. Buscar a pessoa certa para uma posição e proporcionar uma
cultura e clima corporativos que a motive a permanecer na empresa é uma arte.
Junto à minha equipe, sou responsável por trazer
muitos profissionais para a empresa, selecionando as habilidades, a formação, a
experiência e os interesses necessários para funções que eu mesma nunca exerci,
mas cujos desafios conheço bem.
Como profissional de RH, uma das minhas maiores
alegrias é assinar a contratação de um novo colaborador. Mas, ao longo dos
últimos anos, o que se vê é um movimento muito forte no sentido contrário. Em
um mundo que muda constantemente, com novas startups e carreiras promissoras -
seja como contratado ou empreendedor -, manter os talentos dentro das
organizações é cada vez mais difícil.
Talvez isso seja reflexo da nova geração que está
entrando no mercado de trabalho. Uma geração acostumada com o instantâneo e o
descartável e um pouco ansiosa pelo desenvolvimento de sua carreira. Claro que
não podemos generalizar, mas alguns profissionais mais jovens pensam em
alcançar altos cargos rapidamente e se entediam com as rotinas diárias. Vi
pessoas em quem a empresa investiu muito mudarem para ser “só mais um” em outra
empresa. A ansiedade do agora acabou, nesses casos, protelando um crescimento
que seria certo dentro de poucos meses.
Não se trata de uma tendência apenas no setor de
tecnologia, mas de um mercado de trabalho que já não vê muitos casos de
carreiras com muitos anos na mesma empresa, como as gerações passadas. E é
natural que o perfil das pessoas mude ao longo dos anos. Hoje, os profissionais
não querem apenas pagar suas contas no final do mês. Querem reconhecimento. É
papel dos líderes e gestores manter a equipe inspirada, entender as
necessidades de cada membro, ajudar no desenvolvimento de carreira, valorizar
as qualidades e contribuir, por meio do feedback, para melhorar alguns gaps
importantes para cada função.
O turnover - rotatividade dos
funcionários de uma empresa - tornou-se o pesadelo de muitos recrutadores.
Evitá-lo é uma missão com muitas facetas, mas tudo começa pelo alinhamento de
propósitos. O propósito da organização deve fazer parte ou ter alguma relação
com o propósito do candidato. Sem esse elemento, é fácil se encantar com as
muitas outras oportunidades do mercado.
Do ponto de vista de quem fica, a troca de
colaboradores também é um problema. A rotatividade mexe com a autoestima de
quem permanece na empresa e investiu tempo treinando o novo colaborador. Quando
esse colaborador passa a ser "produtivo" e finalmente pode aliviar o
tempo de seu tutor e produzir entregas valiosas, ele sai da empresa e tudo
precisa recomeçar com um novo profissional.
A resposta para o problema requer esforço. Os
gestores de RH e também os líderes de cada equipe precisam acompanhar de perto
o time, valorizando, ouvindo as demandas e removendo os obstáculos, colaborando
para a carreira e desenvolvimento, sendo firmes nas melhorias e entregas, dando
exemplo e - indispensável - reconhecendo emocional e financeiramente, sempre
que possível.
Desenvolver ações de engajamento também é um
recurso válido para empresas que querem reduzir o turnover.
Plataformas que permitem registrar os feedbacks, por exemplo, são boas
ferramentas para isso. Em algumas delas é possível agendar e registrar reuniões
individuais - as chamadas 1:1 -, criar planos de desenvolvimento individual,
registrar e acompanhar objetivos pessoais e da empresa. Além disso, celebrar as
conquistas e momentos individuais faz a diferença.
Por fim, a famosa “dor de dono” é uma importante
aliada, mas só pode existir em um ambiente de trabalho leve, com respeito às
pessoas e suas ideias, com poder de decisão, de questionar, de gerar mudanças,
de ser especialista no assunto. Não se pede demissão da “própria empresa”, mas,
para que isso funcione, só o discurso não basta. É preciso demonstrar que todos
são um pouco donos da empresa por meio de ações concretas.
Andreza Shibata - head de
Recursos Humanos da DealerSites, startup de Curitiba e uma das 10 startups
brasileiras selecionadas para o programa de aceleração Google For Startups
Brasil.
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