Em evento online realizado ontem, ativistas apresentaram pesquisas que apontam que os episódios acontecem dentro de casa, no deslocamento pela cidade, no trabalho e em ambientes de lazer.
Uma em cada quatro
mulheres brasileiras (17 milhões) sofreram alguma forma de violência, e as
pessoas do sexo feminino são as que mais temem se deslocar dentro das cidades.
É o que demonstram as pesquisas do Instituto Patrícia Galvão e do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) apresentadas no webinar " Os Impactos da Violência no Cotidiano das Mulheres ", realizado nesta terça (30), pelo Me Too
Brasil, com o apoio da Comissão da Diversidade Sexual e de Gênero da OABSP.
"A pesquisa
mostra que o momento de risco para a mulher é quando ela está dentro de casa, é
quando ela está no transporte público ou quando ela está no ambiente de
trabalho. O assédio acontece na balada, mas não é o principal lugar de
violência. Isso diz muito sobre a nossa cultura, sobre o machismo, a misoginia,
sobre o racismo que são parte desse cálculo cultural do nosso dia-a-dia",
destacou a Samira Bueno, diretora executiva do SBSP, que apresentou a pesquisa Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil .
Já pesquisa do IPG
" Segurança das mulheres nos deslocamentos
pela cidade - as mulheres e seus trajetos " aponta que apenas 16% dos indivíduos que circulam pelas cidades
sentem-se plenamente seguros e a sensação de insegurança não é a mesma para os
diferentes grupos sociais: mulheres, pessoas com deficiência, pessoas negras,
pessoas de baixa renda e população LGBTQIA+ se sentem menos seguras.
A sensação de
insegurança e a violência nos deslocamentos das mulheres nas cidades é maior do
que para os homens. Essa percepção aumenta enquanto avança o dia. "Esse
dado é importante, pois tem a ver com o direito de ir e vir das mulheres, tem a
ver com a possibilidade de trabalho, com a possibilidade de andar com segurança
na cidade", explica Jacira Melo, do IPG. Entre as pessoas do sexo feminino
que participaram da pesquisa sobre segurança em deslocamentos, 68% declararam
ter muito medo de sair sozinha à noite no bairro onde mora. "Dentre as
violências, elas têm medo de sofrer racismo, agressões físicas, sofrer estupro,
importunação ou assedio sexual", afirmou.
Os dois levantamentos
foram feitos com o apoio da Uber, que também realiza, em parceria com o Me Too
Brasil, uma campanha educativa de combate ao assédio. Para Natália Falcón,
gerente de Comunicações de Segurança do aplicativo, a violência de gênero é um complexo social que
demanda soluções a longo prazo. "Os problemas que estão na sociedade, na
cidade, estão refletidos na plataforma e precisamos lidar com eles. É um
problema de todos nós e assumimos o compromisso de ativamente enfrentar",
disse.
Marina Ganzarolli,
presidente do Me Too Brasil, disse que os dados mostram a urgente necessidade
de políticas públicas, de ações da sociedade civil organizada, de empresas e
ações comunitárias e individuais para a prevenção, além da realização de
estudos e pesquisas. Ela destacou que a organização tem realizado parcerias com
empresas e organizações na luta contra a violência sexual.
Lançamento de site e
vídeo educativo
O webinar foi o marco
do lançamento também da nova plataforma da Me Too Brasil que, reformulado, aumentou a sua atuação para além da
oferta de apoio, em parceria com a organização Justiceiras . O canal traz notícias e informações sobre violência sexual
de gênero, espaço para o compartilhamento de depoimentos e voluntariado, além
de vídeo sobre assedio sexual.
"As mulheres são
as principais vítimas, mas a Me Too Brasil é a primeira organização brasileira
que trabalha com o acolhimento de crianças e adolescentes, mulheres e homens,
meninos e meninas. O nosso objetivo, nosso escopo, é o enfrentamento da
violência sexual. Ponto. Não importa se é na infância ou na vida adulta, se é
acometida contra mulheres ou contra homens. Hoje só temos a possibilidade de
acolher voluntárias mulheres, mas a gente acolhe todas as vítimas, homens e
mulheres", finaliza Ganzarolli.
Participaram do evento
as diretoras da organização, as advogadas Luanda Pires e Luciana Terra e a
psicóloga Mariana Luz.
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