Nestes
quase dois anos de pandemia, o mundo ainda tenta se ajustar à vida na presença
do novo CoronaVirus. Vacinas, variantes e lockdowns têm influenciado a presença
do SARS-CoV-2 entre nós, mas especialistas ainda são categóricos sobre o não
relaxamento das medidas de segurança em andamento, incluindo a testagem e a
vigilância. No entanto, uma pesquisa online, envolvendo
mais de 3 mil pessoas no Reino Unido e EUA revelou que o desconhecimento sobre
os tipos de testes de COVID-19 disponíveis tem prejudicado significativamente a
resposta à pandemia em nível de saúde pública.
Desde que
os testes de COVID-19 chegaram ao mercado, observamos um esforço educacional
muito grande, tanto da comunidade científica quanto de autoridades
(responsáveis) em saúde pública, em demostrar que alguns testes são mais
precisos do que outros. Hoje já é ponto pacífico, respaldado por inúmeros estudos
científicos, que os testes de antígeno têm menor sensibilidade e maior risco de
resultados falso-negativos do que os testes de PCR, considerados o padrão ouro
para testes de diagnóstico molecular. No entanto, a percepção generalizada de
mais da metade dos americanos (56%) e de quase metade dos britânicos (48%) é de
que as tecnologias são equivalentes, não importando o tipo de teste realizado.
As pessoas
em geral não estão cientes das diferenças entre os testes de
antígeno e PCR. Apenas 30% afirmam saber a diferença entre os dois.
Curiosamente, a percepção acerca dos diferentes testes caiu desde o início
deste ano entre os estadunidenses, quando uma pesquisa de fevereiro mostrou que
36% deles podiam diferenciar entre um PCR de COVID-19 e um teste de antígeno.
Essa tendência é revertida no Reino Unido, onde apenas 32% dos adultos sabiam a
diferença entre os testes de antígeno e PCR na pesquisa de fevereiro, mas em
setembro, quase metade (47%) alega entender a diferença entre os testes.
Vale notar
que, quando solicitadas para que escolhessem entre um teste mais preciso, com
um tempo mais longo para o resultado, ou um teste mais rápido, porém menos
preciso, a maioria das pessoas escolheria a precisão (63% nos EUA e 66% no
Reino Unido). Isso mostra que se as pessoas estivessem mais conscientes das
diferenças entre os testes, isso poderia influenciar suas escolhas de testagem
e, consequentemente, alterar o número de casos e óbitos ao redor do mundo.
Sabemos que o Brasil não é exatamente o que podemos
chamar de exemplo no tocante ao combate à pandemia de COVID-19. Para além das
mensagens um tanto quanto truncadas das autoridades locais, os dados mostram que o Brasil testa cerca de 15 vezes
menos que EUA e 12,5 vezes menos que Reino Unido.
Complica
mais a preferência sobre os tipos de testes, como revela um artigo recente de
um grupo de pesquisa da Universidade Federal do Paraná. No trabalho, os
pesquisadores mostraram que que os testes imunológicos (dentre testes de
antígenos e sorológicos) respondem por 84,2% dos testes aprovados pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e apenas 15,8% são testes baseados em
ácido nucléico, onde situa-se o PCR.
Outro
estudo brasileiro, agora da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ, Rio de Janeiro),
destacou que a taxa de resultados falso-negativos em testes que detectam
anticorpos IgM contra SARS-CoV-2, utilizados para detecção de COVID-19 na fase
aguda, variou de 10 a 44%. Esses números indicam com clareza que teríamos
números bem melhores na pandemia se, dentre outras ações, adotássemos uma
política de testagem preferencialmente focada em testes moleculares de PCR.
É provável
que a falta de conhecimento sobre os testes disponíveis esteja afetando a
estratégia de testagem, porém é mais preocupante ainda que percepções
equivocadas sobre os testes estejam impedindo as pessoas de se testarem em
geral. Embora persista a visão equivocada sobre os testes de COVID-19, a
ciência nos diz que a testagem segue sendo uma ferramenta fundamental para
rastrear e monitorar as taxas de infecções em todo o mundo. Uma estatística
positiva da pesquisa em questão sugere que a testagem esteja num crescente,
ainda que lento, nestes países.
Nos EUA,
quase dois terços (58%) dos adultos foram testados pelo menos uma vez, contra
40% em fevereiro. Esses números são ainda maiores no Reino Unido, onde 68% dos
adultos já fizeram o teste pelo menos uma vez, ante 33% em fevereiro. No
entanto no Brasil o prognóstico é preocupante já que a testagem segue
diminuindo a cada mês, segundo dados de monitoramento do Ministério da Saúde.
Infelizmente, o país parece ignorar a estratégia de
testagem, considerada por especialistas a melhor opção em termos
sanitários e econômicos, para tentar viver às cegas com a pandemia, o que é
cada vez mais prejudicial para sociedade como um todo.
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