O poder dessas empresas se explica não somente pelo produto, pela inovação ou pela facilidade com que seus formatos podem ser replicados, mas também pelo volume e valor da informação que milhares de usuários produzem ao utilizá-las
País com a
maior penetração de rede 5G, a China inspira inventividade
e é responsável por uma nova era mercadológica. Com modelos de
negócios potentes, as chamadas Big Techs chinesas - Alibaba, Tencent, Didi
Xuxing e Baidu -, maiores empresas do ramo de tecnologia, direcionam
a fórmula de sucesso de grandes empresas brasileiras, como, por exemplo, a
Magazine Luiza.
O poder dessas empresas se
explica não somente pelo produto, pela inovação ou pela facilidade com que seus
formatos são replicados, mas também pelo volume e valor da informação que
milhares de usuários produzem ao utilizá-las.
Um desses fenômenos é um
aplicativo multiplataforma que começou como um serviço similar ao Whatsapp.
Hoje, o Wechat tem mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo e se tornou uma
ferramenta usada para basicamente tudo.
Além de possibilitar a troca
de mensagens, ele também é usado como redes sociais, para realizar compras e
pagamentos, transferir dinheiro para outras pessoas, compartilhar conteúdos,
jogar pelo celular, chamar táxis, usar o transporte público, reservar hotéis e
até acessar serviços do governo.
A Alibaba é detentora da
Alipay (pagamentos), taobao.com (ecommerce), Alibaba Cloud (nuvem), KuWo Music
(música), Weibo (redes sociais), entre outros negócios.
Todo esse universo criado por
um único negócio é um dos diferenciais das big techs. Elas criaram uma
nova lógica em que tudo, ou quase tudo, pode ser resolvido por meio de apenas
uma plataforma.
E existem tantos outros
exemplos. Para tudo o que habitualmente utilizamos na rede, como Facebook,
Spotify, Amazon, YouTube, Google Maps e outros, o mercado chinês criou um
equivalente e desenvolveu todo um novo conceito em cima dessa base.
Como grandes empresas de
tecnologia que dominam o mercado, esses negócios, muitas vezes, começaram como
pequenas startups, que criaram serviços inovadores que moldam a forma de viver
e de comunicar da sociedade.
NOVAS ESCOLHAS
Se durante muito tempo vimos
um mercado de dispositivos polarizado em Samsung e Apple, a entrada da Xiaomi
muda esse cenário radicalmente.
Da mesma forma, quando
pensamos em plataformas de busca na internet, tradicionalmente temos o Google e
seus algoritmos em mente. No entanto, muitos já consideram outras ferramentas,
como o Baidu, ou pensando em buscas específicas para compras, entram os grandes
marketplaces chineses como Alibaba e Shopee.
Em crescimento constante,
essas empresas aproveitaram investimentos públicos e o desenvolvimento de toda
uma indústria de serviços que permite de forma simples que tantas propostas
inovadoras cheguem a milhões de habitantes.
Outra característica dessas
companhias é a agilidade em perceber futuras concorrentes ainda em estágio
inicial. As big techs registraram recorde no ritmo de compra de concorrentes
menores em 2021.
Dados levantados pela
Refinitiv, fornecedor global de dados e infraestrutura, estimam que essas
empresas tenham gasto algo em torno de US$ 264 bilhões entre fusões e
aquisições. O número é o maior desde 2000, quando houve a explosão do comércio
eletrônico.
Foram mais de nove mil
contratos para aquisição de startups por menos de US$ 1 bilhão, cerca de 40% a
mais do que os níveis vistos na virada do milênio, de acordo com a Refiniitiv.
Atualmente, Baidu, Alibaba e Tencent controlam ou investem em pelo menos 50%
das startups chinesas.
CHEIAS DE PODER
Sair comprando negócios
promissores se tornou o jeito mais rápido de crescer e se tornar mais
funcional. O Facebook, agora chamado de Meta, também adotou a estratégia e
comprou o WhatsApp e o Instagram para ter todo tipo de público de redes
sociais.
Nesse verdadeiro ecossistema
de serviços, as aquisições do Magazine Luiza – ou Magalu – também deram um
salto em 2020, quando a gigante varejista brasileira adquiriu 11 empresas
(Shoestock, Época Cosméticos, Estante Virtual, Steal the look, entre outras).
De livraria virtual a site de
notícias de tecnologia, passando por startup de delivery e soluções de
logística, entre outras, o ritmo continuou neste ano com segmentos ainda mais
variados - plataforma de beleza, sistema de gestão de restaurante e por aí vai.
Mas, nem tudo são flores.
Cheias de poder nas mãos, essas empresas se tornaram o centro das discussões
sobre uma maior regulamentação pelo governo de Pequim. Isso causou impacto no
mundo todo e levantou dúvidas sobre uma possível limitação da força de atuação
dessas empresas.
Ocorre que muitas vezes os
valores de mercado dessas empresas ultrapassam até mesmo o PIB dos países em
que estão inseridas e, claramente, esse domínio dá aos executivos poderes
desproporcionais na economia e na cidade.
O Google, por exemplo, é
suspeito de usar seu mecanismo de busca para privilegiar seus próprios
produtos, enquanto o Facebook é acusado de impedir a concorrência no mercado de
redes sociais.
Ou seja, sem muitas amarras
legais, essas empresas constroem suas próprias regras. Sob a justificativa de
combater o monopólio no território asiático, a China tem reprimido suas
gigantes locais de tecnologia. Órgãos reguladores do país estão expandindo essa
batalha e também tentam focar em regulamentações mais rígidas sobre a proteção
de dados individuais.
Muito dinâmicas e diante de
uma legislação de dados relativamente frouxa, essas gigantes tecnológicas têm
conseguido coletar grandes quantidades de dados pessoais na China. São hábitos
de viagens, refeições, tipos de compras e pagamentos e muito mais sendo
revelado por meio de inúmeros aplicativos usados por eles diariamente, que
podem levar a abusos em diversos setores, como o bancário, comércio, saúde,
entre outros.
Com a nova lei de segurança
de dados que começou a vigorar nos últimos meses, Pequim terá mais uma
ferramenta para colocar as gigantes contra a parede. Desde então, o governo
luta para que os gigantes da internet sigam novos padrões para garantir que
essas companhias sejam mais contidas ao coletar dados pessoais.
A intenção é que nenhuma big
tech se torne um super banco de dados, com mais dados pessoais do que o próprio
governo, e muito menos possa usá-los como quiser.
No que tange os direitos do
usuário, essas reformulações tornam possível, por exemplo, a opção de exigir
acesso às suas informações armazenadas, solicitar correções e até mesmo ordenar
que as companhias apaguem tudo o que desejar. Ele também pode conceder ou
retirar a permissão de um site para coletar e tratar seus dados quando quiser.
Enquanto isso, os Estados
Unidos e países da Europa tentam adotar uma abordagem unificada para limitar o
crescente poder dessas gigantes de tecnologia.
No Brasil, apesar da Lei
Geral de Proteção de Dados (LGPD), o governo ainda não avançou em ações
direcionadas à regulamentação e trabalha com análises individuais sobre
posições dominantes no mercado e condutas em violação e política antitruste, ou
seja, uma legislação contrária à formação de monopólios e fatores que possam
prejudicar a livre concorrência.
Repórter mserrain@dcomercio.com.br
Fonte: https://dcomercio.com.br/categoria/tecnologia/o-que-voce-precisa-saber-sobre-as-big-techs-chinesas
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