A fome sempre foi um problema grave no Brasil, mas com a Covid-19, a situação piorou muito. Depois de recuar significativamente até meados da década passada, a fome voltou a crescer no Brasil e a chamada insegurança alimentar disparou nos dois últimos anos. São quase 117 milhões de pessoas nessa situação, sem acesso pleno e permanente a alimentos. Além deles, há ainda 19,1 milhões de brasileiros que efetivamente passam fome, em um quadro de insegurança alimentar grave. Antes da pandemia, havia 57 milhões de pessoas vivendo em insegurança alimentar no país, sem acesso pleno e permanente a alimentos. Os dados fazem parte do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede Penssan).
Estabelecer uma relação direta entre o aumento da
insegurança alimentar e o aumento dos índices de desemprego não é uma tarefa
das mais difíceis. Assim como estabelecer uma relação direta entre o aumento do
desemprego e as dificuldades dos empresários em se manterem competitivos em um
cenário de incertezas e insegurança jurídica também não é difícil.
Em outras palavras, devemos salientar a premente
necessidade de sensibilizar os poderes da República bem como a sociedade
brasileira sobre os instrumentos efetivos para alcançar e manter um crescimento
sustentado, tão almejado pela nação que ainda está se recuperando de uma das
piores crises da sua história e não pode conviver com esses níveis de pobreza.
Reiteramos a urgência que o país crie as
condições para a ampliação do investimento produtivo e, simultaneamente,
reduza, senão elimine, as ineficiências sistêmicas para ampliar sua
produção de bens e serviços, complexos e sofisticados, pré-condição necessária
para voltar a crescer e para poder ampliar nossa inserção na economia mundial,
bem como ampliar a oferta de empregos de qualidade, no sentido de contribuir
com a diminuição do desemprego, restaurando, pelo menos em parte, a dignidade
das famílias brasileiras.
A pobreza é algo não só doloroso do ponto de vista
social como um impeditivo brutal para o crescimento. O emprego digno cria
condições sociais mais adequadas e gera crescimento, na medida em que fortalece
o mercado interno.
Tanto isso é uma verdade que Martin Luther King
agiu fortemente nesse sentido. Historicamente sabemos que ele dedicou seus
últimos anos ao combate à pobreza, que via como o próximo desafio a ser
enfrentado pela América, porque sabia ser essa uma luta necessária. Não existe
país que possa crescer e se desenvolver sem empregos de qualidade.
Nesse sentido, sabemos que a indústria desempenha
um papel fundamental, na medida em que tem um papel estratégico na
dinamização de todo o setor produtivo brasileiro, como ofertante e demandante de
tecnologias e como a principal geradora de inovação para os demais segmentos da
economia. Por essa razão, tem um papel fundamental na geração de empregos
de qualidade e no trabalho de reversão dos ambientes institucional e de
negócios brasileiros, que reduzem a eficiência de nossa economia por
serem desfavoráveis ao empreendedorismo e à produção.
De outro lado, a política macro brasileira, há mais
de três décadas, e salvo pequenos intervalos, tem se mantido hostil ao
investimento produtivo. Será necessário a implementação de um conjunto de
instrumentos e políticas públicas tendo como o objetivo estimular e direcionar
novos investimentos produtivos, ou seja, serão necessárias medidas indutoras ao
setor privado na busca de novas oportunidades e na expansão de fronteiras
tecnológicas. Seu sucesso pressupõe a existência de um ambiente macroeconômico
favorável ao investimento produtivo.
Estas políticas precisam ter objetivos permanentes.
Sabemos que o aumento da produtividade depende dessas políticas e representam
crescimento do País, face à estabilização da população economicamente ativa,
através da criação e manutenção de empregos de qualidade.
Reforçar a participação da indústria de
transformação no PIB e dos serviços sofisticados por ela demandados é essencial
para aumentar a produtividade do Brasil; para tanto é indispensável ampliar
fortemente os investimentos em infraestrutura e na indústria, para conseguirmos
gerar crescimento e diminuir a pobreza no país.
João Carlos Marchesan- administrador de empresas,
empresário e presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ.
Nenhum comentário:
Postar um comentário