Especialista explica a relação entre a infecção e formação de trombos e porque a vacinação é o melhor caminho
Um recente
estudo, conduzido pela Universidade de Oxford, demonstrou que os
riscos de desenvolvimento de trombose como consequência de uma infecção por
COVID-19 podem ser de oito a dez vezes superior aos
casos decorrentes de vacinas. A conclusão da pesquisa “Trombose Venosa
Cerebral e Trombose da Veia Porta: Um Estudo de Coorte Retrospectivo de 537.913
Casos de Covid-19” (em livre
tradução) vem ao encontro de relatos raros de trombose
após a imunização por vacinas de vetor viral, como
a Janssen e AstraZeneca.
As tromboses induzidas por
vacinas contra o coronavírus tendem a atingir vasos
não usualmente envolvidos pelas tromboses de forma geral, como veias
cerebrais e de órgãos, como baço e fígado. “Essas não são as tromboses que a
gente normalmente vê no dia a dia. Os casos mais comuns acontecem em veias
das pernas e braços, por conta do uso de hormônios, obesidade,
inatividade, situações específicas como a gestação e o puerpério,
câncer ou alguma predisposição genética, conhecida
como trombofilia. Casos envolvendo vasos cerebrais e
viscerais são raros”, esclarece o Dr. Marcelo Melzer Teruchkin, cirurgião
vascular do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, e membro da Sociedade
Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) e da Sociedade
Brasileira de Trombose e Hemostasia (SBTH). Os casos de trombose associada
à vacina geralmente ocorrem entre cinco e 20 dias após o
uso da primeira dose, com maior frequência em mulheres abaixo
dos 55 anos e sem comorbidades importantes.
“Inicialmente
essas tromboses, denominadas VITT (trombose e trombocitopenia induzidas
por vacina, em livre tradução do inglês), eram tratadas com o
medicamento padrão chamado heparina. Infelizmente, os
pacientes apresentavam uma piora na evolução do quadro,
com queda do número de plaquetas e
até a morte” explica o doutor Marcelo. “Atualmente,
temos maior conhecimento desse evento adverso raro e usamos um
tratamento alternativo com imunoglobulina, corticoides e
anticoagulantes não heparínicos, o que melhorou muito a
prognóstico dos casos. O tratamento está bem mais eficiente”.
Ainda não se sabe ao certo
o motivo da relação entre algumas vacinas da COVID-19 e a
formação de coágulos de sangue, que podem evoluir para tromboses. No entanto, o
que os estudos demonstram é que a incidência desse quadro pode variar entre um
caso para 125 mil vacinados até um caso para 1 milhão de vacinados. Por
outro lado, o risco de trombose por
COVID-19 é em média 16,5 casos a cada 100
infectados com quadro em estágio inflamatório – um risco muito superior
do que aquele causado pela vacina.
O médico relata que
essas vacinas específicas são desenvolvidas a partir de adenovírus de macacos
ou humanos que não nos acarretam infecção. “A vacina insere o adenovírus
no organismo humano juntamente com uma pequena partícula do vírus da
COVID. Isso faz com que o sistema imunológico interprete
essa composição como algo estranho e passe a
produzir anticorpos – tudo sem expor o organismo saudável ao risco de uma
infecção”, completa. Além dos anticorpos, após duas ou três semanas, também
passamos a produzir células de memória, que irão cuidar de possíveis
infecções futuras. “É como um aprendizado. Depois de entender como lutar
contra o vírus pela primeira vez, o sistema imunológico entende o processo e
passa a reproduzi-lo”. E o médico reforça: “A proteção gerada pelas
vacinas é bem mais eficiente do que a provocada pela exposição ao
vírus, em um caso de infecção pela COVID”.
Relação
entre a COVID-19 e a trombose
A infecção causada pela
COVID-19 não afeta somente os pulmões, mas também pode comprometer a
camada interna da parede dos vasos sanguíneos. “Essa parte, chamada de
endotélio, é uma das responsáveis por não permitir que o sangue coagule.
Nesse caso, se o vírus danifica essa estrutura, o deixa mais
propenso à formação de trombo”, explica Dr. Marcelo.
A relação entre a COVID-19 e a
presença de tromboses gerou, no meio médico, discussões, não somente acerca das
consequências da infecção, mas também sobre qual seria o tratamento mais
adequado. Isso porque o paciente infectado além de apresentar risco
aumentado de trombose, também tem risco de sangramento. “Até o momento, um
paciente com diagnóstico de infecção pelo coronavírus que necessita
de internação deve receber medicação anticoagulante
com objetivos de prevenir ou tratar eventos trombóticos” afirma
Marcelo. “A cada mês, novos estudos são lançados e novos paradigmas
quebrados, então se você tem alguma duvida em
relação aos riscos e benefícios da vacinação contra a COVID -19, entre
em contato com seu médico ou serviço de saúde”, finaliza.
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