Crédito da foto: Thiana Perusso
Referência
nacional na realização de transplantes no público infantojuvenil, Pequeno
Príncipe ressalta a importância desse gesto para salvar vidas
Às vésperas do Dia Mundial do Doador de Medula
Óssea, celebrado no próximo sábado, dia 18, o maior hospital exclusivamente
pediátrico do país, o Pequeno Príncipe, reforça a importância do gesto de doar
para salvar vidas. De acordo com dados do Registro Nacional de Doadores
Voluntários de Medula Óssea (Redome), o Brasil tem pouco mais de 5,4 milhões de
cidadãos cadastrados e é o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do
mundo, ficando atrás somente dos EUA e da Alemanha. Segundo as informações
deste registro, a chance de identificar um doador compatível ao final do
processo fica em torno de 64%, mas para os pacientes das minorias étnicas, esta
chance é muito menor.
Para ajudar neste processo, o Pequeno Príncipe
conta com uma pessoa exclusivamente dedicada a buscar e identificar rapidamente
as chances que um determinado paciente tem para encontrar um doador nos bancos
nacionais ou internacionais. Com campanhas e o alerta sobre a importância de
integrar esse grupo, é possível melhorar esses dados.
Foi o que fez a mãe de Bryan Aleksander Fudal
Silva, de 5 anos. Com família na cidade de Paulo Frontin, interior do Paraná,
Eliane Fudal criou uma campanha em uma rede social com a ajuda de parentes e
amigos para mobilizar toda uma região. “As cidades dali são pequenas. Então
aquelas pessoas jamais fariam um cadastro de doador de medula se não fosse uma
campanha dessa”, afirma. Um mês depois de diagnosticado, pelo Instituto de
Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, com doença granulomatosa crônica (DGC), a equipe
do Hospital ligou para a família avisando que um doador de medula havia sido
encontrado. “Uma das médicas até falou que o Bryan ganhou na loteria, porque é
difícil quem entra para fila conseguir um doador compatível tão
rapidamente", lembra a mãe.
A doença de Bryan é uma imunodeficiência primária
que ocasiona deficiência genética no funcionamento dos glóbulos brancos, que
são os responsáveis por combater os invasores do organismo. Nos pacientes da
DGC, os glóbulos brancos não produzem peróxido de hidrogênio e outras
substâncias que destroem bactérias e fungos. Por se tratar de uma doença
genética, a mãe do menino não pôde doar sua medula, e o pai só tinha 50% de
compatibilidade.
O transplante de medula óssea (TMO) é
fundamental para o tratamento de diversas doenças, entre elas alguns tipos de
neoplasias (como leucemias e vários tumores), doenças do sangue e da imunidade.
“Algumas doenças têm como única opção de cura a realização do TMO e, portanto,
a doação da medula por um doador saudável é essencial para garantir o
tratamento do paciente. Para as crianças com erros inatos da imunidade ou do
metabolismo, os doadores voluntários são ainda mais fundamentais. Como estas
doenças estão ligadas a fatores genéticos, só podemos usar um irmão se ele não
for afetado pela mesma doença”, explica a médica-chefe do Serviço TMO do
Pequeno Príncipe, Carmem Bonfim.
A medula de Bryan pegou 17 dias após
o transplante, e a mãe, antes acostumada à rotina de internamentos e constantes
idas a hospitais, comemorou a rápida recuperação do filho, que aconteceu em um
mês. O menino agora segue a rotina de controle pós-operatório. “Ainda não
sabemos quem foi o doador do Bryan, mas estou muito feliz porque, mesmo sabendo
que com a campanha talvez a gente não encontrasse um doador pra ele, estaríamos
ajudando outras crianças. Há umas três semanas descobri que meu primo foi
chamado para fazer uma doação, e se não fosse a campanha ele jamais teria se
cadastrado”, conclui Eliane.
Referência
Com uma década de atuação, o Serviço de TMO do Pequeno
Príncipe tornou-se uma das principais referências na América Latina,
principalmente na área de transplantes alogênicos, quando as células
transplantadas vêm de outro doador. Durante esse período foram mais de 300
vidas transformadas, e atualmente 30% dos procedimentos realizados são em
pacientes com doenças raras.
Em dez anos de atuação, 26% dos transplantes
realizados foram em crianças com idade abaixo de 3 anos. O atendimento de
pacientes de pouca idade e/ou com doenças raras é uma das especificidades que
fizeram com que o Serviço de TMO do Pequeno Príncipe recebesse pessoas de todo
o país – 61% dos atendimentos são de fora de Curitiba.
O reconhecimento nacional e internacional também
se deve aos procedimentos realizados com doadores haploidênticos – quando a
compatibilidade não é de 100%, uma vez que encontrar um doador compatível é um
dos grandes desafios para realizar um TMO. Mesmo dentro da família, a chance de
conseguir um doador 100% compatível é de apenas 25%.
Histórico
O Serviço de TMO do Pequeno Príncipe iniciou sua
história no Setor de Oncologia e foi implantado em abril de 2011, inicialmente
com três leitos. Um sonho realizado em parceria com o médico Eurípides
Ferreira, hematologista pioneiro na realização de TMO no Brasil, nos anos 1970.
Em 2016, o Serviço foi ampliado, passando a ter
dez leitos e proporcionando a um número maior de crianças e adolescentes um
tratamento humanizado e de qualidade. O fato de ser um hospital que oferece 32
especialidades e dispõe de equipes multidisciplinares também é determinante
para o sucesso do TMO do Pequeno Príncipe, além de sua capacidade de
atendimento ser quase que exclusivamente voltada ao SUS (em torno de 80%).
Mesmo diante do cenário de pandemia pelo
coronavírus, o Hospital realizou 61 transplantes em 2020, apenas um
procedimento a menos que no ano anterior. Neste ano, só no primeiro semestre,
43 crianças e adolescentes foram transplantados.
Como tornar-se um doador
O Dia Mundial do Doador de Medula Óssea foi
criado em 2015 pela World Marrow Donor Association (WMDA), associação mundial
que reúne os registros de doadores de medula óssea, totalizando mais de 38
milhões de doadores em todo o mundo. De acordo com o Redome, para fazer parte
desse grupo é necessário:
- ter entre 18 e 35 anos de idade;
- estar em bom estado geral de saúde;
- não ter doença infecciosa ou incapacitante;
- não apresentar doença neoplásica (câncer),
hematológica (do sangue) ou do sistema imunológico.
Algumas complicações de saúde não são impeditivas
para doação, sendo analisado caso a caso. E vVale lembrar ainda que para se
tornar um doador de medula óssea basta fazer um cadastro no Hemocentro, que vai
efetuar uma breve entrevista e passar as orientações necessárias. Após, será
realizada a coleta de amostra de sangue, e os dados obtidos na análise vão para
um cadastro nacional. Quando houver necessidade, os dados serão acessados e,
caso se confirme a compatibilidade, o doador será consultado para confirmar a
doação.
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