Nas
últimas semanas as mídias foram invadidas por depoimentos e reportagens de
pessoas que, acreditando no sonho do enriquecimento e da prosperidade
financeira, investiram todas as economias financeiras, em muitos casos somas
gigantes de uma vida inteira, e perderam tudo em função de investimentos
monetários fracassados. Infelizmente, casos deste tipo são mais comuns do que
podemos imaginar. E diante dessa enxurrada de histórias de tristeza e
lamentação, vamos refletir como essa situação pode afetar psicologicamente um
indivíduo e o que fazer quando essa realidade bate à sua porta.
O
primeiro ponto que deve ser analisado é a facilidade que os indivíduos possuem
de criar expectativas. Criamos expectativas em relação ao outro, ao futuro e em
relação a nossas conquistas futuras. O grande problema é que nem tudo é
previsível. E é exatamente esse o nosso maior ponto nevrálgico: sofremos por
não controlar tudo. Quando algo foge ao nosso controle, entramos em estado de
desequilíbrio que afeta tanto o comportamento, quanto o emocional.
Isso
porque a necessidade em ter o controle das situações nas mãos é um sentimento
intrínseco de nossa espécie. Tudo o que é externo e nos foge ao controle, gera
insegurança e medo e nos faz sentir vulneráveis. E no caso em questão, estamos
falando de uma situação de perda, muitas vezes perda de somas consideráveis.
Fato é que, ninguém investe para perder, e quando isso ocorre entra em cena
sensações incômodas como: a impotência, o fracasso e a culpa.
Emocionalmente
falando, o indivíduo que perde suas economias e se frustra com o resultado
negativo, se vê angustiado ao ponto de não conseguir sentir-se em paz, o que
gera transtornos emocionais relevantes, como perda de sono, perda de apetite,
estresse generalizado, ansiedade, tristeza profunda, depressão, síndrome do
pânico e, em casos mais extremos, pode até chegar a atentar contra a própria
vida.
Sim,
a saúde financeira pode influenciar diretamente sua saúde mental. Elas são
pilares fundamentais da qualidade de vida de qualquer pessoa. Portanto, não é
possível tratar a saúde financeira sem levar em conta a saúde mental do
indivíduo. Se por um lado, ter uma boa saúde financeira contribui para uma
melhor qualidade de vida e, consequente, uma mente mais saudável e equilibrada,
uma saúde financeira devastada, certamente, será acompanhada de distúrbios
mentais.
Não
há dúvidas de que uma boa saúde financeira irá contribuir para que a mente
esteja em equilíbrio. Prova mais que certa, de que devemos estar sempre atentos
a nossa saúde em todos os aspectos, financeira, mental e física.
Outro
ponto que deve ser observado aqui, é a sensação de fracasso e inutilidade que
pode invadir a mente deste ser humano que se vê perdido e, muitas vezes até sem
recursos. E dependendo das circunstâncias em que esse investimento tenha
ocorrido, as chances de potencialização de um sentimento de inutilidade ou
frustração, por sentir-se enganado, são grandes. Emoções que retroalimentam o estresse,
levando o indivíduo a vivenciar sensações de cabeça pesada, irritabilidade,
alterações de humor, entre outros gatilhos que justificam a desestruturação
mental.
Um
outro fator bem relevante de todo esse processo é que além da tristeza, do medo
e da raiva, o indivíduo pode também carregar o sentimento de culpa. Uma culpa
que distorce a realidade dos fatos e acelera o complexo de inferioridade, a
baixa autoestima e a elevação do estresse. O que pode estimular que ele seja
exteriorizado através de atitudes desesperadoras em busca da falsa ilusão do
alívio e do auto perdão. Visto que, essa impotência também pode estar ligada a
vergonha de se expor e mostrar sua fragilidade para parentes e amigos próximos.
Afirmo
enfim que, as questões de ordem financeira alimentam diretamente os danos a
mente e vice-versa. E se a saúde mental não estiver em dia, sua autoestima e
autoconhecimento não estiverem preservados, certamente você poderá cair em
falsas promessas motivadas por ganhos elevados, sem análise adequada dos riscos
de determinadas operações, gerando ainda mais ansiedade e depressão.
E
o que fazer quando essa realidade se apresenta? O ideal é não se entregar a
comportamentos e emoções, como: o mau humor, irritação, isolamento social,
desatenção, falta de produtividade profissional, culpa excessiva e tristeza
profunda. Se não tratado a tempo, essas questões podem levar a consequências
mais desastrosas como o envolvimento em vícios como cigarro, álcool, comida e
drogas ilícitas, na tentativa de descontar a frustração em excessos ou mesmo na
tentativa de suicídios.
Infelizmente
nem todos percebem que a frustração e a perda podem gerar doenças mentais.
Culpa e vergonha camuflam o problema e ajudam o indivíduo a manter um disfarce
mascarado socialmente. Mas a solução não é se culpar e se esconder.
Se
o equilíbrio mental não acompanhar sua reorganização financeira e esse ciclo
não promover o rompimento com a negação do problema, as questões vão retornar e
você estará novamente em apuros, sem possibilidades de reversão. Não adiantar
fugir dos problemas. Devemos encarar de frente para conseguir perceber sua
dimensão e desta maneira, verificar de que forma poderão ser
solucionados.
Quando
a mente busca um mínimo de equilíbrio ela consegue visualizar saídas muito
eficazes para quitar as pendências. A solução pode ser cuidar da situação
financeira e saúde mental ao mesmo tempo, e isso vale até mesmo para quem não
está afogado em dívidas.
Enfim,
sua saúde mental é muito valiosa e tudo o que possa vir a feri-la deve ser
descartado e eliminado de seu cotidiano. Nada é mais saudável do que viver em
paz com nossos pensamentos e sem o peso das cobranças e culpas, seja de que
natureza for. A terapia pode contribuir para que o indivíduo aprenda a se
organizar melhor, em ações e pensamentos. Sabemos que quando estamos
desajustados internamente, o nosso exterior reflete este desajuste e
potencializa nossas fragilidades e impulsos.
Saber
lidar com seus recursos sem acreditar em falsas promessas e milagres
financeiros impossíveis, é importantíssimo para se ter uma vida tranquila e
repleta de bem-estar. Não deixe que as questões finanças estraguem sua saúde
mental e nem o contrário.
Seja
dono do seu planejamento e elabore estratégias para eliminar estes fantasmas e
fique cada vez mais atento aos seus futuros investimentos, aliado sempre a uma
ajuda profissional para que o equilíbrio emocional seja reestabelecido e sua
saúde mental também não fique à deriva.
Dra Andréa Ladislau - Psicanalista Andréa Ladislau: doutora
em psicanálise, psicopedagoga, palestrante, administradora, membro da Academia
Fluminense de Letras, colunista do site UOL e de outros veículos importantes do
país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário