Faz 20 anos que acompanhamos, principalmente pela televisão, o maior ataque terrorista da história contemporânea. Pela primeira vez, um atentado era transmitido ao vivo para os olhos assustados de um mundo que seria profundamente transformado pelo que testemunhava naqueles momentos. Sejam pelos aviões atingindo as torres, pelas pessoas desesperadas se jogando dos andares mais elevados ou pelo desabamento final do World Trade Center, o 11 de setembro de 2001 foi, antes de mais nada, um acontecimento com imenso valor simbólico. O país que se consagrou como a grande potência mundial após a Primeira Guerra assistira o último ataque em seu território 60 anos antes, em Pearl Harbor, durante a Segunda Guerra.
A partir de então, o fenômeno do terrorismo acabou
ganhado cada vez mais atenção da mídia, dos especialistas em segurança e da
comunidade internacional. Os grupos terroristas e suas nomenclaturas se
multiplicaram nos noticiários. Al-Qaeda, ISIS, Boko Haram, El Shabab, Taliban.
A sensação de insegurança em todo o planeta cresceu. Nunca saber o alvo do
próximo ataque modificou a forma como muitos países tratam seus orçamentos
nessa área.
Mesmo depois de duas décadas da Guerra ao Terror,
uma pergunta ainda segue sem resposta: afinal, o que é terrorismo? Se
considerarmos como intenção do terrorismo causar medo, podemos identificá-lo já
na Antiguidade – quando Nero ateou fogo em Roma; na Idade Média – com a Santa
Inquisição, ou mesmo na Idade Contemporânea – na chamada “fase do terror” no
decorrer da Revolução Francesa. A partir da década de 1960, o IRA, o ETA e
outros grupos iniciaram seus atos num contexto revolucionário ou separatista.
Hoje, com grupos como a Al-Qaeda, o objetivo não parece ser separar um país em
vários outros, mas sim causar medo, pânico e gerar mudanças de conduta na
população afetada. É triste reconhecer que as vítimas do terror não são apenas
aquelas atingidas pelo ato em si, mas todas as demais que passam a viver em um
permanente estado de pânico e angústia.
Por isso, atacar alvos supostamente terroristas não
é a solução e tem uma eficácia limitada. E, por mais que essas organizações
sejam combatidas, nunca há certeza da eliminação ou não de um grupo - vide o
próprio Taliban, de volta ao comando do Afeganistão depois de ter sido dado por
vencido pelo governo de George W. Bush. Os Estados Unidos prenderam e
torturaram dezenas de inocentes nas prisões de Guantánamo, em Cuba, e de
Abu-Ghraib, no Iraque, sob a égide de combater o terror. Como é possível
combater o terror com ainda mais terror? Terroristas não vestem a mesma farda e
não defendem sua pátria de nascimento. São combatentes motivados por ódio.
Numa das regiões mais afetadas pelo terrorismo
hoje, que vai do norte da África até regiões da Ásia menor, vivem cerca de 500
milhões de pessoas. Cidadãos que sofrem com a miséria, a fome e outras
privações. Não seria mais inteligente, portanto, investir no desenvolvimento dessa
região? A melhor maneira de combater o terrorismo é melhorando a qualidade de
vida dessas pessoas e lutando contra a ignorância.
Ao longo dos 20 anos de invasão do Afeganistão, os
Estados Unidos tentaram reconstruir algumas partes do país. Para isso, investiram
mais de US$ 1 trilhão, principalmente nas áreas militar e energética. Enquanto
isso, o Taliban engrossava suas próprias fileiras. Nos últimos dias de
ocupação, apoderou-se inclusive de armamentos deixados para trás pelas tropas
americanas e está, hoje, em melhores condições de equipamentos do que estava há
20 anos.
Se as lições deixadas por essas duas décadas ainda
não parecem ter sido devidamente absorvidas, falar sobre essa complexa rede de
fatores com as novas gerações é um passo fundamental para esse entendimento.
Nos últimos anos têm sido incontáveis os casos de jovens – em especial europeus
– que abandonam suas famílias, seus lares e todo seu conforto para seguir
grupos radicais em diversas regiões do mundo. A internet e as tecnologias de comunicação
aproximaram o mundo e permitiram que as utilizassem para difundir ideias –
sejam elas radicais ou não. O terrorismo, o radicalismo e as saídas fáceis para
problemas complexos costumam ser atraentes para mentes ainda em formação. O
diálogo, a reflexão e a tentativa de compreensão do mundo que nos cerca, e que
está cada vez mais próximo de nós, é cada vez mais indispensável.
João
Alfredo Lopes Nyegray - doutorando em estratégia, professor de Geopolítica e
Negócios Internacionais na Universidade Positivo.
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