A Comissão de Direito e Relações Internacionais da Ordem dos Advogados do Brasil Subseção Santos considera que o retorno ao poder do Talibã no Afeganistão é uma notícia dramática sob múltiplos pontos de vista.
O declínio dos direitos e liberdades do povo afegão
já é um fato e a vontade de promover a democracia desmoronou tão rapidamente
quanto a comunidade internacional decidiu abandonar sua missão no país. Estamos
particularmente preocupados com a situação que as mulheres terão de enfrentar,
que voltarão a ser vítimas de uma visão fundamentalista, retrógrada e
autocrática da vida em sociedade.
Em relação a esse cenário, afirmo que a Comissão de
Direito e Relações Internacionais da OAB Santos é totalmente desafiada pelo
drama humanitário que se desenrola no Afeganistão. A comunidade
internacional deve abandonar imediatamente sua atual posição de não beligerância
em relação ao regime do Talibã e exigir respeito inabalável pelos direitos
humanos.
Acreditamos que as necessidades urgentes do povo
afegão e especialmente da população feminina precisam ser atendidas. A
intervenção da NATO tinha fornecido duas décadas de progresso na igualdade e da
defesa dos direitos das mulheres. O fato de as mulheres serem novamente
forçadas a abandonar a escola e a vida pública, bem como a sofrer todo tipo de
violência física e social, é uma tragédia que a comunidade internacional deve
enfrentar imediatamente.
Os hazaras são um povo que sofre profunda
discriminação étnica dentro do seu próprio país, pois a maioria fundamentalista
sunita, viam os hazaras como infiéis que mereciam morrer. Eles não tinham a
aparência que devia ter um afegão e não faziam suas devoções como devia fazer
um muçulmano. Dizia um ditado afegão: "Aos tadjiques o Tadjiquistão, aos
usbeques o Usbequistão, e aos hazaras o goristão (cemitério)."Os hazaras
são vítimas de vários ataques terroristas, cometidos por grupos armados, em
particular Daëch e o Taliban. Facilmente reconhecíveis por seu rosto asiático,
eles costumam ser sequestrados durante suas viagens entre as principais
cidades.
Celebramos a evacuação de todos os que fugiram do
regime talibã, mas acreditamos que o desafio nesta área também é grande.
E para que, sendo Santos uma Cidade de Acolhimento
e Refúgio, nos empenharemos, em colaboração com todas as administrações, para
que a advocacia, os profissionais do Direito e da Justiça e, em geral, todos os
cidadãos afegãos que não queiram viver sob o jugo do Talibã, possam continuar
suas vidas em países onde seus direitos e liberdades são respeitados.
Richard Geraldo Dias de
Oliveira - presidente da Comissão de Direito e Relações Internacionais da OAB
Santos.
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