Vista da Floresta Amazônica / Foto: Tamara Saré/Agência Pará
O Dia de Proteção às
Florestas, comemorado em 17 de julho, nos provoca à reflexão e nem tanto à
celebração. A superfície emersa do nosso planeta, o único que temos para
habitar, é de aproximadamente 15 bilhões de hectares, dos quais a metade (cerca
de 7,5 bilhões de hectares) já foi floresta, total que hoje está reduzido a
cerca de 5,5 bilhões de hectares.
Resultado do contínuo e por muito tempo explosivo crescimento da
população humana, suas migrações e colonizações com conquistas intermináveis de
territórios, essa perda de estimados 2 bilhões de hectares de florestas
corresponde a mais que a soma de todos os países das Américas do Sul e Central.
Ou quase a América do Norte inteira, com Canadá, Estados Unidos e México,
lembrando que os dois primeiros estão entre os cinco maiores países do
mundo.
Dos
estimados 5,5 bilhões de hectares remanescentes, pelo menos 1,5 bilhão estão
bastante degradados em sua estrutura e composição, não cumprindo muito das suas
funções ecológicas essenciais à saúde do planeta. Esta situação, que por si só
já não é boa, torna-se pior quando vemos que a destruição segue desenfreada, e
nosso país é um ponto de atenção mundial nesse triste e altamente preocupante
assunto.
Temos, obviamente, muitos componentes associados ao problema do
desmatamento e da degradação das florestas aqui no Brasil e no mundo todo onde
elas existem. Trata-se, portanto, de problemas complexos, para os quais não
existem soluções simples.
Todavia, posso destacar que entre nossos mais urgentes e difíceis
desafios estão a falta de qualidade da nossa educação e as graves imperfeições
do nosso sistema político, com sua falha representatividade quanto aos
interesses nacionais, no qual impera a super representatividade corporativa
setorial.
No fundo, seguimos como uma colônia com capitanias hereditárias
hoje substituídas por outros interesses, mas que ainda buscam a conquista do
território a qualquer custo, o que inclui a destruição ambiental, o genocídio
indígena e a manutenção do trabalho escravo ou equivalente, num círculo vicioso
que sistematicamente agrava a questão. Não há dúvidas de que, além de
complexos, são gigantescos os desafios a vencer!
É inacreditável seguirmos agindo hoje em dia, com as informações
científicas disponíveis, como se estivéssemos na primeira metade do século
passado. Mas é isso o que acontece por aqui em termos ambientais e florestais.
Mas não só. Lembre o que temos presenciado de negacionismo explícito durante a
trágica pandemia que enfrentamos. Se nem com vida humana as lideranças
políticas estão preocupadas, o que esperar delas para plantas e bichos?
A esperança repousa, portanto, nas novas gerações. Precisamos
superar o negacionismo, nos apoiar na ciência – na boa ciência e nos bons
cientistas, porque há os charlatões. Mas deve-se ressaltar também que, apesar
do impressionante volume de informações de qualidade atualmente disponível,
renovado e aprofundado diariamente, a deficiente formação educacional combinada
com a mentalidade arcaica dominante entre as lideranças dos poderes da
república – notadamente nos diferentes níveis do Executivo e do Legislativo,
mas também no Judiciário – não permitem o seu devido e adequado uso no
enfrentamento dos problemas nacionais.
A sociedade, grosso modo, já está mais sensível ao problema que a
classe política que a representa. Assim, enquanto essa situação não muda,
necessitamos unir forças entre os conscientes do problema para conscientizar
mais e mais pessoas de diferentes classes e setores para o desafio de salvar as
florestas que ainda restam e com elas restaurar muito do que perdemos. Afinal,
a floresta é vida e sem floresta não há espaço para as sociedades humanas
florescerem.
Miguel Milano -
doutor em Ciências Florestais e membro da Rede de Especialistas em Conservação
da Natureza (RECN)
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