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terça-feira, 13 de julho de 2021

Pós-pandemia, as escolas estão preparadas para a implementação do Novo Ensino Médio?

Às vésperas da implementação do Novo Ensino Médio e lidando com os impactos negativos que a pandemia causou à educação, gestores de escolas públicas e privadas têm que lidar com a complexidade das mudanças educacionais. Na análise de Claudio Sassaki - mestre em Educação pela Universidade de Stanford e cofundador da Geekie -, enfrentar o desafio vale a pena. Um estudo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) defende que entre os avanços educacionais da nação nas últimas três décadas estão a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o Novo Ensino Médio e a expansão da Educação Profissional e Tecnológica.


Menos de seis meses para a implementação do Novo Ensino Médio, as escolas de educação básica do Brasil, públicas e particulares, vivem o desafio de programar as mudanças e adaptações em meio aos danos causados pela pandemia à rotina educacional. Aprovado em 2017, o Novo Ensino Médio se desdobrou na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – homologada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), em 2018 – e na definição dos itinerários formativos: conjunto de unidades curriculares que possibilitam que o estudante aprofunde os conhecimentos e se prepare para dar prosseguimento aos estudos ou para atuar no mundo do trabalho, de forma a contribuir com a construção de soluções para problemas específicos da sociedade. Até o início do ano letivo de 2022, a reformulação deve estar implementada em todo o país. Mas, será que as escolas estão preparadas diante dos impactos negativos provocados pela crise sanitária?

Segundo Claudio Sassaki, mestre em Educação pela Universidade de Stanford e cofundador da Geekie, a demanda pela implementação é legítima e a motivação do grande debate que se estabeleceu para a Reforma do Ensino Médio tem base em análises do desempenho dos estudantes conduzidas por organizações como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). Os resultados – no Brasil, 43% dos estudantes ficaram abaixo do nível básico de proficiência em três áreas avaliadas, sendo 55% em Ciências, 68% em Matemática e 50% em Leitura – reforçam a necessidade de questionar o ensino e criar arranjos novos para gerar experiências de aprendizagem capazes de elevar esses resultados de aprendizado e de endereçar soluções para os danos causados pela pandemia na educação.

“Esses números – em um contexto anterior à pandemia – mostram que 50% dos nossos jovens não conseguem identificar a ideia principal em um texto de extensão moderada; mais da metade não dá conta de interpretar e reconhecer a explicação correta de fenômenos científicos familiares. Então, a nossa forma de ensinar não está endereçando os desafios da aprendizagem. Essa reflexão explica a necessidade de repensar e remodelar a educação no Brasil”, detalha, acrescentando que a iniciativa do Novo Ensino Médio tem sido apontada pelos especialistas como um grande avanço educacional.

Lançado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e apoio técnico do Todos pela Educação, o estudo A Educação no Brasil: uma Perspectiva Internacional explora os principais desafios de qualidade e equidade, além de indicar os 10 passos para melhorar os resultados educacionais na nação. “Interessante notar que na análise dos avanços obtidos nas últimas três décadas – que endereçam a necessidade de reparar a dívida histórica que temos em relação à educação pública, principalmente – estão a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o Novo Ensino Médio e a expansão da Educação Profissional e Tecnológica”, destaca Sassaki.  

Na análise da OCDE dos 10 passos, o oitavo se refere à necessidade de aumentar a relevância da educação para os alunos – que dialoga diretamente com a reestruturação do Ensino Médio e o respectivo aumento de itinerários disponíveis para os estudantes, com a oferta de formação prática e opções profissionais nessa etapa do ensino. “A publicação traz que as reformas educacionais atuais, incluindo a do Ensino Médio, têm como um dos objetivos aumentar a motivação, o engajamento e o sucesso dos alunos fora das escolas. Uma opção apresentada pelo estudo é o desenvolvimento de programas em nível local, em colaboração com empregadores para responder ao engajamento e à demanda pelas habilidades envolvidas, além do desenvolvimento de itinerários profissionais que possam alimentar essa vivência do aluno”, analisa Sassaki.


Novo Ensino Médio e o combate à evasão escolar

Em uma perspectiva complementar, Sassaki aponta que há um quadro grave de evasão escolar no Brasil, problema que aumentou com a pandemia. “O desafio tem sido superar a barreira da falta de interesse e de engajamento dos estudantes, tornando a escola mais significativa do ponto de vista do aluno. A elaboração de itinerários formativos que unam as demandas do mercado e da vida aos interesses dos estudantes tem como uma das justificativas a troca de um currículo engessado por novas possibilidades de estudo”, afirma. De acordo com o especialista, se antes o aluno percorria três séries do Ensino Médio com um currículo fechado e sem opções, com a reforma, esse aluno tem a possibilidade de criar diversos ambientes de aprendizagem, ou seja, ele pode escolher algumas disciplinas. “É importante que pais e responsáveis saibam que a Reforma do Ensino Médio é o primeiro passo para transformar o processo de ensino e aprendizado; ela tem o potencial, real, de tornar a escola – na percepção do aluno – mais significativa”, reflete.

Na percepção de Claudio Sassaki, há três alterações que ele considera como as principais mudanças na Reforma do Ensino Médio; todas elas estão atreladas ao objetivo de trazer mais protagonismo aos jovens, garantindo o exercício dos direitos de aprendizagem. A primeira é a ampliação da carga horária de 2.400 para 3.000 horas até o início do ano letivo de 2022; a segunda, a elaboração dos currículos com conteúdos norteados pela Base Nacional Comum Curricular; e, por último, os estudantes podem selecionar caminhos distintos de formação, optando pelos que estão mais em sintonia com os projetos de vida deles.

“Quando falamos do alinhamento dos currículos à BNCC, o cerne da questão é que eles darão as diretrizes para repensar o aprendizado. Há muito tempo, acompanhamos o desinteresse dos jovens pela escola; as taxas de evasão escolar são a prova viva dessa desconexão. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a Pnad Contínua e avaliação de Todos pela Educação, no período de 2012 a 2019, um em cada três estudantes de 19 anos – idade considerada ideal para a conclusão dessa etapa de ensino – não concluiu o Ensino Médio. Com a pandemia há uma preocupação muito grande que esse processo de abandono da sala de aula se acentue. Nesse sentido, a Reforma do Ensino Médio – que oferece ao aluno a possibilidade de escolher disciplinas em sintonia como o plano de vida desse estudante – pode transformar essa relação com a escola; acredito que aumentará a percepção de valor e sentido no aprender”, avalia o especialista. Segundo Sassaki, esse estudo mostra que, no Pará, a cada dois alunos, um não conclui essa importante etapa na idade considerada adequada. A taxa de conclusão é de apenas 45,6%.

Como mensagem aos pais e responsáveis que estão preocupados com o impacto da pandemia no cronograma de implementação da Reforma do Ensino Médio, Claudio Sassaki salienta que este é um processo benéfico para o futuro dessa geração. “Os alunos que estão na escola, hoje, têm necessidades e perspectivas de vida muito diferentes das registradas nas gerações anteriores. O modelo do Novo Ensino Médio, no entanto, há muito tempo não era adaptado à luz das mudanças geracionais; agora houve um redesenho para fazer frente a dados tão preocupantes quanto à conclusão da educação básica e à qualidade da aprendizagem ofertada neste segmento”, afirma o especialista.

O mestre em educação ressalta, também, a importância de incluir as famílias neste processo de adaptação do Novo Ensino Médio: “Os pais precisam ser corresponsáveis pela aprendizagem dos estudantes. Essa fase é um momento de muitas definições para a vida futura do adolescente. Portanto, a partir de 2022, com o novo formato do segmento, esses jovens poderão ter perspectivas mais concretas, experimentar as áreas de conhecimento pelas quais se sentem atraídos antes de decidir definitivamente o curso superior que irão fazer. Já os pais devem acompanhar essas escolhas e definições do projeto de vida de seus filhos para apoiá-los e dar o suporte necessário para que o futuro de cada estudante seja pautado pelas possibilidades e pelos sonhos reais e concretos formados durante essa trajetória do final da educação básica”, finaliza.



GEEKIE 

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