Às vésperas da
implementação do Novo Ensino Médio e lidando com os impactos negativos que a
pandemia causou à educação, gestores de escolas públicas e privadas têm que
lidar com a complexidade das mudanças educacionais. Na análise de Claudio
Sassaki - mestre em Educação pela Universidade de Stanford e cofundador da Geekie
-, enfrentar o desafio vale a pena. Um estudo da Organização para a Cooperação
e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) defende que entre os avanços educacionais
da nação nas últimas três décadas estão a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC), o Novo Ensino Médio e a expansão da Educação Profissional e Tecnológica.
Menos de seis meses para a implementação do Novo
Ensino Médio, as escolas de educação básica do Brasil, públicas e particulares,
vivem o desafio de programar as mudanças e adaptações em meio aos danos
causados pela pandemia à rotina educacional. Aprovado em 2017, o Novo Ensino
Médio se desdobrou na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – homologada pelo
Ministério da Educação e Cultura (MEC), em 2018 – e na definição dos
itinerários formativos: conjunto de unidades curriculares que possibilitam que
o estudante aprofunde os conhecimentos e se prepare para dar prosseguimento aos
estudos ou para atuar no mundo do trabalho, de forma a contribuir com a
construção de soluções para problemas específicos da sociedade. Até o início do
ano letivo de 2022, a reformulação deve estar implementada em todo o país. Mas,
será que as escolas estão preparadas diante dos impactos negativos provocados
pela crise sanitária?
Segundo Claudio Sassaki, mestre em Educação pela
Universidade de Stanford e cofundador da Geekie, a demanda pela implementação é
legítima e a motivação do grande debate que se estabeleceu para a Reforma do
Ensino Médio tem base em análises do desempenho dos estudantes conduzidas por
organizações como o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA).
Os resultados – no Brasil, 43% dos estudantes ficaram abaixo do nível básico de
proficiência em três áreas avaliadas, sendo 55% em Ciências, 68% em Matemática
e 50% em Leitura – reforçam a necessidade de questionar o ensino e criar arranjos
novos para gerar experiências de aprendizagem capazes de elevar esses
resultados de aprendizado e de endereçar soluções para os danos causados pela
pandemia na educação.
“Esses números – em um contexto anterior à pandemia
– mostram que 50% dos nossos jovens não conseguem identificar a ideia principal
em um texto de extensão moderada; mais da metade não dá conta de interpretar e
reconhecer a explicação correta de fenômenos científicos familiares. Então, a
nossa forma de ensinar não está endereçando os desafios da aprendizagem. Essa
reflexão explica a necessidade de repensar e remodelar a educação no Brasil”,
detalha, acrescentando que a iniciativa do Novo Ensino Médio tem sido apontada
pelos especialistas como um grande avanço educacional.
Lançado pela Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE) e apoio técnico do Todos pela Educação, o
estudo A
Educação no Brasil: uma Perspectiva Internacional explora os
principais desafios de qualidade e equidade, além de indicar os 10 passos para
melhorar os resultados educacionais na nação. “Interessante notar que na
análise dos avanços obtidos nas últimas três décadas – que endereçam a
necessidade de reparar a dívida histórica que temos em relação à educação
pública, principalmente – estão a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o Novo
Ensino Médio e a expansão da Educação Profissional e Tecnológica”, destaca
Sassaki.
Na análise da OCDE dos 10 passos, o oitavo se
refere à necessidade de aumentar a relevância da educação para os alunos – que
dialoga diretamente com a reestruturação do Ensino Médio e o respectivo aumento
de itinerários disponíveis para os estudantes, com a oferta de formação prática
e opções profissionais nessa etapa do ensino. “A publicação traz que as
reformas educacionais atuais, incluindo a do Ensino Médio, têm como um dos
objetivos aumentar a motivação, o engajamento e o sucesso dos alunos fora das
escolas. Uma opção apresentada pelo estudo é o desenvolvimento de programas em
nível local, em colaboração com empregadores para responder ao engajamento e à
demanda pelas habilidades envolvidas, além do desenvolvimento de itinerários
profissionais que possam alimentar essa vivência do aluno”, analisa Sassaki.
Novo Ensino Médio e o combate à evasão escolar
Em uma perspectiva complementar, Sassaki aponta que
há um quadro grave de evasão escolar no Brasil, problema que aumentou com a pandemia.
“O desafio tem sido superar a barreira da falta de interesse e de engajamento
dos estudantes, tornando a escola mais significativa do ponto de vista do
aluno. A elaboração de itinerários formativos que unam as demandas do mercado e
da vida aos interesses dos estudantes tem como uma das justificativas a troca
de um currículo engessado por novas possibilidades de estudo”, afirma. De
acordo com o especialista, se antes o aluno percorria três séries do Ensino
Médio com um currículo fechado e sem opções, com a reforma, esse aluno tem a
possibilidade de criar diversos ambientes de aprendizagem, ou seja, ele pode
escolher algumas disciplinas. “É importante que pais e responsáveis saibam que
a Reforma do Ensino Médio é o primeiro passo para transformar o processo de
ensino e aprendizado; ela tem o potencial, real, de tornar a escola – na
percepção do aluno – mais significativa”, reflete.
Na percepção de Claudio Sassaki, há três alterações
que ele considera como as principais mudanças na Reforma do Ensino Médio; todas
elas estão atreladas ao objetivo de trazer mais protagonismo aos jovens,
garantindo o exercício dos direitos de aprendizagem. A primeira é a ampliação
da carga horária de 2.400 para 3.000 horas até o início do ano letivo de 2022;
a segunda, a elaboração dos currículos com conteúdos norteados pela Base
Nacional Comum Curricular; e, por último, os estudantes podem selecionar
caminhos distintos de formação, optando pelos que estão mais em sintonia com os
projetos de vida deles.
“Quando falamos do alinhamento dos currículos à
BNCC, o cerne da questão é que eles darão as diretrizes para repensar o
aprendizado. Há muito tempo, acompanhamos o desinteresse dos jovens pela
escola; as taxas de evasão escolar são a prova viva dessa desconexão. De acordo
com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a Pnad Contínua e
avaliação de Todos pela Educação, no período de 2012 a 2019, um em cada três
estudantes de 19 anos – idade considerada ideal para a conclusão dessa etapa de
ensino – não concluiu o Ensino Médio. Com a pandemia há uma preocupação muito
grande que esse processo de abandono da sala de aula se acentue. Nesse sentido,
a Reforma do Ensino Médio – que oferece ao aluno a possibilidade de escolher
disciplinas em sintonia como o plano de vida desse estudante – pode transformar
essa relação com a escola; acredito que aumentará a percepção de valor e
sentido no aprender”, avalia o especialista. Segundo Sassaki, esse estudo
mostra que, no Pará, a cada dois alunos, um não conclui essa importante etapa na
idade considerada adequada. A taxa de conclusão é de apenas 45,6%.
Como mensagem aos pais e responsáveis que estão
preocupados com o impacto da pandemia no cronograma de implementação da Reforma
do Ensino Médio, Claudio Sassaki salienta que este é um processo benéfico para
o futuro dessa geração. “Os alunos que estão na escola, hoje, têm necessidades
e perspectivas de vida muito diferentes das registradas nas gerações
anteriores. O modelo do Novo Ensino Médio, no entanto, há muito tempo não era
adaptado à luz das mudanças geracionais; agora houve um redesenho para fazer
frente a dados tão preocupantes quanto à conclusão da educação básica e à
qualidade da aprendizagem ofertada neste segmento”, afirma o especialista.
O mestre em educação ressalta, também, a importância
de incluir as famílias neste processo de adaptação do Novo Ensino Médio: “Os
pais precisam ser corresponsáveis pela aprendizagem dos estudantes. Essa fase é
um momento de muitas definições para a vida futura do adolescente. Portanto, a
partir de 2022, com o novo formato do segmento, esses jovens poderão ter
perspectivas mais concretas, experimentar as áreas de conhecimento pelas quais
se sentem atraídos antes de decidir definitivamente o curso superior que irão
fazer. Já os pais devem acompanhar essas escolhas e definições do projeto de
vida de seus filhos para apoiá-los e dar o suporte necessário para que o futuro
de cada estudante seja pautado pelas possibilidades e pelos sonhos reais e
concretos formados durante essa trajetória do final da educação básica”,
finaliza.
GEEKIE
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