Estamos em julho de 2021, Califórnia, Estados Unidos. Nas próximas linhas, pretendo fazer uma prévia sobre o que deve acontecer com o mundo nos próximos meses. Espero estar certa nessa radiografia.
No Vale do Silício,
mais de 80% da população já está vacinada contra a covid-19. Ainda há quem seja
contra a vacinação - algo em torno de 25% - mas a boa notícia é que já
atingimos a imunidade de rebanho. Com isso, não é mais obrigatório o uso de
máscaras e nem fazer distanciamento.
Na região, o mundo
está voltando ao normal, porém um normal diferente, mais intenso, no qual as
pequenas coisas estão supervalorizadas. Pessoas que nunca se viram se
cumprimentam, sorriem umas para as outras, se parabenizam pelas pequenas
vitórias e ficam emocionadas com facilidade.
A piscina pública
que eu frequentava abre as portas na próxima semana. Isso significa o retorno
da prática de exercícios físicos após 18 meses sem treinar. Nadar sem máscaras
- claro! - e dividindo as raias. Eu odiava ter que dividir a minha, mas agora
estou na contagem regressiva para isso acontecer.
Será que era preciso
a chegada de um vírus mortal para aterrorizar nossas vidas e nos fazer acordar
para valorizar o que sempre teve valor? Mas não é por esse ponto que eu escrevo
esse artigo. Quero contar mais sobre a retomada das atividades no Vale do
Silício, como é um dia normal no cotidiano dessa região.
No café é que brotam as ideias
Oito da manhã.
Sentada em um café para participar da primeira reunião com o Felipe, sócio de
uma das empresas de educação mais disruptivas atualmente no Brasil e que é
nossa parceira. Que orgulho dessa moçada que veio para "quebrar
tudo", tanto no Vale quanto no Brasil. Por aqui é costume fazermos esses
encontros nos cafés. Após vários goles da minha bebida quentinha, embalada pela
narrativa de retomada das atividades, fico sabendo que eles logo estarão na
mídia no Brasil. Já me deixou muito feliz!
Na sequência,
passada rápida ao supermercado para comprar algumas coisas que estão faltando,
um pulo na Universidade de Stanford e depois almoço com duas grandes figuras do
Vale. Laura, que é uma das líderes responsáveis pela área educacional das
escolas públicas da Bay Area, e Sherry, advogada que atuava em Davos e prefeita
de uma das cidades mais charmosas da região.
Na pauta de nossa
conversa, a abertura da Europa para as nossas próximas viagens de estudo. Nós
fazemos parte de uma associação de arqueologia e estamos desesperados para
voltar aos sítios arqueológicos. Porém, as fronteiras ainda estão fechadas.
No entanto, o que
nos deixa animados é que já temos como pensar em datas e perspectivas concretas
sobre esse retorno, o que é muito mais do que tínhamos há 18 meses. Acho que
sou a única do grupo que não é aposentada. Muitos deles aproveitaram o momento
e penduraram as chuteiras da vida profissional para se dedicar à sua paixão por
arqueologia.
Na parte da tarde,
seis mulheres que integram um grupo de investidores e de startups brasileiros,
que não se encontrava desde o início da pandemia, elegeu a mesa de um restaurante
para retomar seu "tricot" sobre as novidades. Na pauta, além de
maquiagens, o assunto mais importante: como os nossos negócios lidaram com a
covid.
Todas estão se
mexendo para surfar essa retomada. A Debora e a Heloísa estão prestes a
revolucionar a indústria da moda com a BePop, uma startup que desenvolveu uma
plataforma que usa tecnologia para transformar desenhos dos filhos em roupas
lindas. Já a Mirelly está bombando com a Verbena - a Daslu das flores,
disruptiva na entrega, no charme e no escopo do negócio - agora com presença em
São Paulo e no Rio de Janeiro. Já a Lona fundou a Education Journey, uma
startup de educação que nasceu durante a pandemia, recebendo investimentos de
todos os lados e está revolucionando o ensino corporativo.
A Ellen percebeu,
durante a conversa, uma oportunidade de fazer o "landing" de produtos
nos Estados Unidos. Todas deram palpites no negócio de cada uma e voltamos para
casa com ideias trocadas, testadas e prototipadas. Um business plan, que normalmente
demora um ano para ser feito, no Vale é desenvolvido em um guardanapo durante a
conversa em um café e passa para a próxima fase em poucos dias. Essa é a pegada
de funcionamento do Vale.
Reaquecendo os motores
Na Wish
International, estamos neste momento saindo gradualmente do estado de
hibernação. Uma empresa que faz eventos internacionais e tem clientes
brasileiros como maioria esteve no lugar errado na hora errada durante a Covid.
Mas nunca deixamos de acreditar na demanda reprimida. Por isso, não demitimos
ninguém e nem desplugamos parceiros que trabalham em nossos quatro escritórios
instalados em três continentes.
O Vale do Silício
sofreu bastante com a pandemia. Muitos parceiros deixaram a região, mas foram
semear disrupção e inovação pelo mundo. E vejo novas pessoas e empresas
chegando, com novas ideias pulsando nas veias. Se elas tiverem a mente aberta e
a alma generosa, o "novo" Vale do Silício deve abraçar, inspirar e
"vitaminar" essas ideias. E eu estou muito curiosa para acompanhar os
próximos capítulos desse cenário.
Natasha de Caiado Castro - fundadora e
CEO da Wish International, especialista em inteligência de mercado, Content
Wizard e Investor. É também Board Member da United Nations e do Woman Silicon
Valley Chapter.
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