Psicóloga
ressalta que as pessoas não têm um natural, elas vivem em uma sociedade baseada
em conceitos de identidade que ancoram a autoaceitação a partir do
reconhecimento pelo mundo externo.
Quando as pessoas conseguem se olhar no espelho e
se enxergarem da forma que estão, a gostarem do que veem, elas passam a se aprovar
para si mesmas e para o mundo. "Lidar com a diversidade deve ser aprendido
desde a infância. E até parece bobagem, mas a ‘simples’ aceitação por um cabelo
é capaz de interferir em escolhas de vida importantes, como profissões,
parcerias sexuais e a forma como existir no mundo", analisa a psicóloga
Alethéa Vollmer, que atua há mais de 20 anos com atendimento clínico e é uma
estudiosa de comportamentos raciais.
A especialista ressalta que "as pessoas
nunca chegam no ponto de se aceitar como são naturalmente, isso desde criança,
porque elas não têm um naturalmente. Estão baseadas em um conceito de
identidade que ancora o psicológico a partir do reconhecimento pelo mundo
externo. E apresentar episódios que ilustram a realidade social é um desafio
aos pais", explica Alethéa.
Para a psicóloga, transição capilar, por exemplo,
é uma prática libertadora que foi intensificada no período de isolamento social
e vem sendo frequentemente adotada por homens e mulheres do mundo todo. E essa
auto permissão é capaz de prevenir uma série de sentimentos autodestrutivos que
ainda perduram em pleno século XXI. "Não seria necessário transição
capilar se a humanidade ainda não se deparasse com tantos padrões
pré-determinados em sociedade", acrescenta Alethéa.
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde
(OMS), o Brasil é o país com a maior índice de ansiedade no mundo e o segundo
nas Américas quando o tema é depressão. E os episódios racistas em diferentes
áreas estão inseridos neste contexto, especialmente quando se tem 54,9% da
população negra, considerando pretos e pardos.
Alethéa lembra que durante muito tempo o cabelo
crespo, sobretudo o negro, era um cabelo chamado de ‘cabelo duro’, que não
tinha reconhecimento nenhum, não era aceito. Então, a única forma que se podia
era não ter este cabelo. E aí vem um movimento, sobretudo político, que diz:
pessoal, sejam protagonistas e se aceitem. Neste contexto, o termo de transição
capilar, por exemplo, é muito feliz pelo seu significado, porque se trata da
mudança que acontece aos poucos. "Eu vou começar a me constituir de outra
forma e a sociedade vai me autorizando a isso. Antigamente, não existia um
produto específico para cabelo crespo. Hoje, são diversas as opções
apresentadas pela indústria, porque ela abraçou este discurso e está dizendo
para essas pessoas que elas podem ter esse cabelo. Então, existe o
reconhecimento. Não tem esse natural, é uma produção que se naturaliza",
explica a psicóloga.
Esse reconhecimento pelo mundo causa completa
mudança, porque à medida que as pessoas se aceitam, as crianças crescem com
esse entendimento, a autoestima melhora, todos passam a se sentir prestigiadas
pelo outro. O ser humano está constantemente em busca deste sentimento, que vem
de um processo muito lento. "Por muitos anos esse cabelo crespo que hoje é
aceito e cobiçado, símbolo de conquista, foi tiranizado e ainda há muita ferida
aberta por conta desse pré-conceito social", complementa Alethéa.
Alethéa Vollmer - Psicóloga com know-how de 20 anos em atendimento clínico presencial e, desde 2020, virtual. Graduada em Psicologia pela UNISINOS, no Rio Grande do Sul, Mestre em Ciências Criminais com ênfase em Violência pela PUC do Rio Grande do Sul, professora de MBA em Gestão de Marcas - Branding e Assistente Técnica do Judiciário em Processos. No segmento corporativo, Alethéa é partner do Saindo da Média, metodologia que visa auxiliar a empregabilidade desde os estudantes na Universidade, até pessoas que buscam por trabalho, recolocação profissional, executivos etc.
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