Nos
corredores dos hospitais e outras unidades de saúde de todo o país,
profissionais cumprem turnos extensos, com paramentação pesada e muitos
equipamentos de proteção individual. O risco de contaminação é alto, mesmo que
eles não lidem diretamente com os pacientes de Covid-19. Embora a rotina seja
parecida, não se tratam de médicos ou enfermeiros, mas de trabalhadores da
limpeza hospitalar, incansáveis em sua missão de manter os ambientes,
equipamentos e superfícies impecavelmente higienizados, uma atividade imprescindível
no combate à pandemia.Divulgação
O
coronavírus é apenas uma das muitas ameaças biológicas que esses profissionais
enfrentam todos os dias. Ainda corria o século XIX quando o médico húngaro
Ignaz Semmelweis descobriu que o simples ato de lavar as mãos poderia diminuir
de forma significativa as infecções e mortes dos pacientes na enfermaria da
maternidade de um hospital em Viena, na Áustria. Uma prática que, atualmente,
não é apenas normal, mas absolutamente imprescindível em unidades de saúde,
ainda não era costume há 150 anos.
A
partir dali, a história da limpeza dessas instituições mudaria de modo rápido e
definitivo. O lavar de mãos evoluiu para práticas pessoais de higiene mais
ostensivas e começou-se a pensar em outros protocolos que pudessem contribuir
para que os hospitais se tornassem não apenas limpos, mas desinfetados e,
portanto, mais seguros para pacientes, médicos, enfermeiros e quem mais pudesse
frequentá-los. Com isso, muito antes da pandemia de Covid-19, a limpeza e a
desinfecção de superfícies em locais de atendimento à saúde tornou-se uma das
condições básicas de funcionamento. As chances de um paciente contrair as
chamadas infecções relacionadas à assistência à saúde (Iras) podem ser
reduzidas em até 90% com a simples adoção de uma higiene correta do ambiente
hospitalar, segundo alguns estudos.
Popularmente
conhecidas como infecções hospitalares, as Iras ocorrem em pacientes internados
em instituições de saúde e são causadas por microrganismos adquiridos a partir
de outras pessoas que também estiveram no hospital. É o que a ciência chama de
infecção cruzada. Elas também podem ser adquiridas por meio de objetos ou
substâncias recentemente contaminadas por outra fonte humana, a infecção
ambiental. A ocorrência de ambos os tipos de infecção pode ser minimizada se a
higienização for realizada por profissionais de limpeza bem capacitados e
orientados, visto que a execução dessas tarefas demanda conhecimento sobre
técnicas, produtos e equipamentos específicos.
Ao
contrário do que muitos ainda acreditam, ninguém nasce sabendo limpar. E, no
ambiente hospitalar, essa máxima é ainda menos verdadeira. O conhecimento
adequado de técnicas, produtos e equipamentos vai garantir uma limpeza e
desinfecção corretamente realizadas. Além disso, também é preciso que os
profissionais de limpeza que atuam nesses espaços estejam emocionalmente
preparados. Afinal, eles estarão lidando diretamente com vidas humanas - e a
recuperação e sobrevida dessas pessoas dependem da responsabilidade e boa
conduta pessoal frente aos quadros clínicos, bem como da sensibilidade
emocional.
A
pandemia de Covid-19 escancarou uma realidade que muitos ainda se negam a
encarar: profissionais de limpeza que atuam na área da saúde precisam ser
altamente especializados. Não basta saber fazer a higienização, é necessário o
desenvolvimento da percepção global de sua função, com compreensão de questões
relacionadas à biossegurança antes, durante e depois do expediente. Trata-se de
uma escolha profissional que traz consequências para a conduta dessas pessoas
dentro e fora do ambiente laboral. Trabalhar com a limpeza hospitalar exige
seriedade e renúncias pessoais.
Por
isso, esses profissionais devem ser devidamente valorizados. O investimento
feito neles deve sempre aliar equipamentos e produtos de limpeza adequados a um
programa de capacitação continuada. Assim, mesmo em tempos de pandemia, quando
o número de infectados pressiona o sistema de saúde e os profissionais que
atuam na linha de frente - incluindo a equipe de limpeza -, a formação
profissional ajuda a trazer segurança para realizar os procedimentos com
eficiência e qualidade, apesar das dificuldades.
Eliza de Lima - auxiliar de
hotelaria hospitalar e ex-aluna da Fundação de Asseio e Conservação, Serviços
Especializados e Facilities (Facop). Mário Guedes é biólogo e coordenador dos
cursos de limpeza da Facop.
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