De acordo com
nutricionista da ABE especializada na dieta, o tratamento reduz, em média, 50%
da frequência das crises de quem tem epilepsia fármaco-resistente
A epilepsia é uma doença neurológica crônica que
faz parte da vida de cerca de 50 milhões de pessoas no mundo, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS). Porém, na atualidade, existem diferentes
tipos de tratamento, inclusive para casos de difícil controle, como a dieta
cetogênica, que engloba o aumento do consumo de alimentos fontes de gordura e a
redução dos que são fontes de carboidrato.
A dieta cetogênica, entretanto, é indicada somente
para aqueles que já fizeram o uso de pelo menos dois medicamentos anti-crise,
isolados ou em associação, e continuam apresentando recorrência das crises
epilépticas, ou seja, possuem epilepsia fármaco-resistente. Nestes casos, a
dieta é adicionada ao tratamento medicamentoso.
Segundo Marcela Gregório, nutricionista
especializada em dieta cetogênica e membro da Associação Brasileira de Epilepsia,
o tratamento impacta em diversos processos do corpo. “Entre os mecanismos em
que atua, a dieta cetogênica traz proteção ao sistema nervoso central, que é
promovida pelos corpos cetônicos, substâncias produzidas pelo fígado por meio
da oxidação das gorduras, também denominadas de ácidos graxos. Além disso,
também aumenta os níveis de ácido gama-aminobutírico (GABA) no cérebro, que é o
mensageiro químico que reduz os impulsos nervosos entre os neurônios. Outra
ação importante é o controle da inflamação no sistema nervoso central, que é
promovido por meio de diversos mecanismos, entre eles, as gorduras
poli-insaturadas (ômega-3 e ômega-6), encontradas em determinados óleos
vegetais e peixes”, diz.
Massas, pães, doces e farináceos, por serem ricos
em carboidrato, são, portanto, alimentos que ficam fora da dieta. Em
contrapartida, todas as frutas, legumes, carnes, ovos, laticínios e demais
alimentos fontes de gordura, devem ser consumidos.
“Todas as verduras têm carboidrato, porém em
pequena quantidade. Neste caso, vale a pena optar pelas verde-escuras, por
serem ótimas fontes de cálcio, ferro e ácido fólico. Os tubérculos, como
mandioca e batata; os cereais, como arroz e aveia; e as leguminosas, como
feijão e ervilha, são permitidos apenas nas frações iniciais da dieta
cetogênica e em porções menores, já que são grandes fontes de carboidrato. É
sempre importante que as pessoas sigam as porções recomendadas pelos
profissionais de saúde”, explica Marcela.
Ainda de acordo com a nutricionista da ABE, em
média, com o tratamento dietético, há uma redução de 50% da frequência de
crises epilépticas, e de 20% a 30% das pessoas têm as crises 100% controladas,
porém, geralmente, estas têm alguma síndrome específica, como a Síndrome de
West. Além do controle das crises, a dieta cetogênica também pode promover
melhoras cognitivas e comportamentais. É importante destacar que para ser
eficaz, é fundamental que as pessoas sigam as orientações dos profissionais
especializados.
“Assim como os medicamentos anti-crise, a dieta cetogênica
também pode trazer efeitos colaterais. Por isso, é essencial que o tratamento
seja acompanhado por um nutricionista e neurologista que, inclusive, podem
manejar os sintomas não desejados. Alguns dos efeitos colaterais de curto
prazo, ou seja, durante a fase de introdução da dieta até a quarta semana,
podem ser sonolência, irritabilidade e complicações digestivas, como náuseas,
vômito e diarreia. Alguns dos efeitos de longo prazo podem ser alterações nos
níveis de colesterol, obstipação intestinal e cálculo renal”, informa.
Também é importante destacar que a dieta cetogênica
surgiu com o propósito de ser, justamente, uma opção de tratamento para pessoas
com epilepsia de difícil controle medicamentoso, não sendo a perda de peso um
objetivo. “É comum algumas pessoas dizerem que estão fazendo a dieta cetogênica
para emagrecer, já que estão reduzindo o consumo de carboidratos, mas na
verdade, neste caso, a dieta se chama low carb. A dieta cetogênica é
caracterizada pelo aumento da gordura em relação aos carboidratos (high fat
low carb)”, ressalta a nutricionista.
Sabendo que a dieta cetogênica para o tratamento da
epilepsia ainda precisa ser melhor compreendida pela sociedade em geral e mesmo
por aqueles que têm a doença, a Associação Brasileira de Epilepsia está
divulgando conteúdos informativos sobre o assunto nas redes sociais. Além
disso, no dia 18, às 19h, no Facebook da associação, aconteceu a live "Dieta
cetogênica: perspectiva de familiares, pacientes e nutricionista", que
trouxe a nutricionista Marcela Gregório, a Mestre em Ciências, Amanda Mosini, e
três convidadas com ampla vivência com dieta cetogênica. Para quem perdeu ou
deseja rever, a live está disponível na rede social. No dia 29, às 19h, será
divulgado o episódio do mês, do ABEcast, podcast da ABE, que também tratará do
assunto.
Para a Presidente da ABE, Maria Alice Susemihl, a
dieta cetogênica é uma opção de tratamento muito eficaz, porém é essencial que
as pessoas tenham mais conhecimento sobre para quais casos é indicada, quais
alimentos engloba, entre outras informações. “Tanto quem tem epilepsia como
qualquer outra pessoa que pode ter um familiar ou um amigo com a doença, é
interessante conhecer e se informar, e é por isso que estamos concentrando
esforços nesta direção. Este tratamento precisa ser mais conhecido”, afirma.
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