Lara Marin, pesquisadora de Educação, aponta – nestes tempos de aulas online e crianças confinadas e quase restritas à distração nas telas – que a internet pode, sim, ser mais aliada na educação do que uma ameaça
Uma
das maiores mudanças e adaptações que tivemos de realizar por causa do
isolamento social devido à pandemia foi a ampliação de trabalhos e estudos à
distância. As longas e intermináveis reuniões de trabalho, aulas remotas e
encontros virtuais em família fizeram com que celulares e computadores se
tornassem nossos companheiros diários. Na vida das crianças e dos jovens não
foi diferente e, com isso, veio o medo dos familiares quanto à exposição de
seus filhos à internet e tudo aquilo que ela traz.
A
preocupação das famílias é que crianças e jovens passem horas em frente às
telas, com medo de que isso possa ser prejudicial à sua saúde e à sua educação.
Mas o que, de fato, é tão ruim na internet que poderia prejudicar nossos
educandos? Muitas vezes, tais preocupações estão amparadas apenas em um
estranhamento, recusa ou insegurança do que é novo, e é isso que precisamos
desmistificar.
Uma
das maiores questões em se expor tanto à internet tem a ver com os conteúdos
que ela traz. Não ter total controle sobre o que crianças e jovens consomem
causa preocupação, e é justamente aí que os responsáveis devem atuar: em
mostrar para esse público que a verdade não está em uma única referência de um
único website e assumir que não teremos o controle sobre tudo o
que os educandos consomem culturalmente.
CURADORIA
E DIRECIONAMENTO
E
é aqui que entra a escola. Mesmo à distância, professores e professoras se
empenham em ensinar aos seus estudantes que estar neste mundo da informação
exige que aprendamos a lê-lo, entendamos de onde vêm os fatos para, então,
formarmos a nossa opinião. É na escola que crianças e jovens aprendem a usar as
ferramentas de pesquisa, a selecionar informações de fontes confiáveis e a
debater sobre os assuntos cotidianos e o próprio procedimento de uso da
internet.
Professoras
e professores sempre estiveram interessados e empenhados em ensinar
procedimentos, promover experiências, estruturar aprendizados, orientar sobre
fontes e pesquisas e oferecer materiais. Faz tempo que esses profissionais não
se importam apenas com o conteúdo a ser ensinado. A internet é apenas mais uma
ferramenta do mundo que entrará nos currículos escolares e com a qual
professores irão trabalhar.
Enquanto
crianças e jovens aprendem a lidar com esse recurso tão precioso nos tempos
atuais, constroem conhecimento sobre as ferramentas e os conteúdos da internet,
aumentando sua autonomia com relação ao uso que podem fazer dela. Essa é uma
demanda social e o tempo de exposição deles na internet colabora para que
tenhamos sujeitos hábeis a lidar com os avanços tecnológicos. Não tenhamos
medo.
Garantimos
o ensino do uso das ferramentas e dos conteúdos na internet e observamos os
educandos interagindo com ela, sempre diversificando essa experiência com
outras atividades da vida que continuam relevantes, como exercícios físicos,
interação social e estudos formais.
O
que nos resta é confiar no nosso ensino e transmitir essa confiança às crianças
e aos jovens, acreditando em seu discernimento no uso das tecnologias da
informação.
LARA MARIN - Autora do livro “A Cultura nos Livros Didáticos” (Editora
Appris), Lara Marin é mestre em Estudos Culturais pela Escola de Artes,
Ciências e Humanidades da USP. Além de sua atuação como pesquisadora, é autora
de projetos e materiais didáticos desde 2008.
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