Lavouras avaliadas
na BA e no RS pelas últimas equipes do Rally da Safra surpreendem e contribuem
para uma produtividade média recorde no Brasil
A safra brasileira
de soja 2020/21 foi marcada
pela irregularidade climática que causou grandes transtornos do plantio à
colheita. Apesar disso, a temporada termina com um surpreendente recorde
triplo.
O primeiro refere-se à maior área já plantada no
país – 38,6 milhões de hectares, 1,6 milhão de hectares acima da safra
anterior. Na sequência, o recorde de produção, cuja estimativa foi elevada para
137,1 milhões de toneladas pela Agroconsult, organizadora do Rally da Safra, ao
final de três meses percorrendo as principais regiões produtoras do país e
confirmando a projeção de safra recorde divulgada no início do Rally (era de
134,0 milhões em 23 de fevereiro). São mais de 10 milhões de toneladas acima da
safra passada, o equivalente a um crescimento de 8,5%. E, por fim, o recorde de
produtividade, inesperadamente alta numa temporada de tantos problemas. A
expectativa é de que os produtores brasileiros colham na média 59,3 sacas por
hectare – 2,3 sacos acima da safra passada e 0,8 sacos sobre a melhor marca
anterior, obtida em 2018.
Rio Grande do Sul
O bom desempenho
se deve em parte às regiões de soja mais tardia, percorridas em março pelas últimas equipes da
etapa de avaliação de soja do Rally 2021. É o caso do Rio Grande do Sul, que
tem tudo para retomar a segunda posição no ranking dos principais estados
produtores, com uma safra de 21,1 milhões de toneladas. A produtividade média
do estado é projetada em 57,9 sacas por hectare, recuperando-se do péssimo
desempenho da safra anterior, na qual as lavouras produziram apenas 37,1 sacos
por hectare, prejudicadas por uma forte seca. Até o final de março, apenas 30%
da área do estado havia sido colhida – se as lavouras mais tardias continuarem
produzindo bem, não se descarta uma revisão positiva nas estimativas.
“O início da safra no Rio Grande do Sul
parecia pouco promissor. A chuva demorou para regularizar e o plantio atrasou.
Em fevereiro e março, porém, choveu na medida, favorecendo o peso do grão e
permitindo ótimos resultados”, explica André Debastiani, coordenador do Rally.
MAPITO-BA
Na região Norte e
Nordeste o destaque positivo
fica por conta da Bahia, que deve alcançar a marca histórica no estado de 67
sacos por hectare de produtividade média. As chuvas regulares de fevereiro em
diante e a boa luminosidade favoreceram principalmente a soja mais tardia. Esse
resultado supera a maior marca alcançada, de 66,6 sacos por hectare, em 2018.
A produção
de soja da Bahia deve chegar a 6,9 milhões de toneladas (foi 6,2 milhões em
2019/20). O Maranhão também bate recorde de produtividade, com 54,7 sacas por
hectare (0,4% acima da safra anterior). Choveu nos momentos certos no estado e
a produção deve chegar a 3,4 milhões de toneladas, ante 3,2 milhões na
temporada passada.
No Piauí, os constantes e longos
veranicos limitaram o potencial produtivo. Em relação à safra anterior, o rendimento
médio vai subir de 55,9 para 57,0 sacos por hectare, levando a uma produção de
2,9 milhões de toneladas. Entre os estados da região, apenas o Tocantins terá
resultados ligeiramente inferiores aos de 2019/20. Apesar de ter sido o estado
com o melhor início de safra da região, acabou sendo fortemente prejudicado
pelo excesso de chuvas na colheita – mas ainda assim será uma boa safra, de 3,7
milhões de toneladas.
Mesmo nessas
regiões de destaque, houve momentos complicados. O plantio atrasou no Rio Grande
do Sul. Houve veranicos mais ou menos prolongados no MAPITO-BA (além da chuva
fora de hora no Tocantins). Mas nenhum desses casos foi tão preocupante quanto
em outras regiões. O
Norte e Oeste do Paraná, o Mato Grosso do Sul e o Mato Grosso foram os mais
prejudicados pelas irregularidades climáticas e obtiveram as maiores perdas de
produtividade em relação à safra passada.
Paraná
A falta de chuva
no Oeste e Norte do
Paraná durante o plantio gerou um atraso histórico na implantação das lavouras.
Já em janeiro foi o excesso de chuvas que prejudicou seu desenvolvimento
gerando, inclusive, um alongamento do ciclo das plantas. A realidade do
Sudoeste do estado e dos Campos Gerais é totalmente diferente, onde o clima se
comportou de maneira muito mais regular, permitindo que as lavouras
expressassem seu potencial e contribuindo para que o rendimento do estado se
mantenha em torno de 61 sacas por hectare (abaixo das 63,8 de 2019/20). A
produção no estado deve atingir 20,4 milhões de toneladas (21,1 milhões em 2019/20).
O maior problema resultante do atraso no plantio e alongamento de ciclo da soja
recai sobre o milho segunda safra. Segundo estimativas do Rally da Safra, 81%
das lavouras de milho do Oeste do Paraná foram plantadas em uma janela de alto
risco climático.
Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
O Mato Grosso também teve o pior início
de safra da história. A chuva foi irregular durante quase todo o ciclo –
inclusive na colheita, quando choveu demais, causando perdas de qualidade e de
produtividade, especialmente no Médio-Norte. Houve, no entanto, fatores
positivos, como a alta luminosidade que favoreceu o peso dos grãos. Os bons
resultados da soja de ciclo médio e tardio permitiram que as perdas das
lavouras precoces fossem recuperadas parcialmente. Com isso, a produtividade
média no estado é estimada em 57,9 sacas por hectare, contra 60 sacas na safra
passada, e uma produção de 36 milhões de toneladas,
semelhante à da safra passada. Já no Mato Grosso do Sul, a chuva demorou a
regularizar, e a produtividade média deverá ficar em 58,6 sacas por hectare
(61,4 na safra 2019/20), com produção de 11,3 milhões de toneladas (11,1
milhões na safra anterior).
“Foi uma safra
muito difícil não só para
o produtor, que perdeu o sono em alguns momentos com a falta de chuva e em
outros com o excesso de umidade, mas também para nós que trabalhamos com
estimativas de safra. Os dados de campo desse ano foram fundamentais para que
pudéssemos chegar no resultado dessa estimativa de 137,1 milhões de toneladas”,
explica Debastiani.
Apesar das
dificuldades, houve
também muitos aprendizados. Um deles foi a importância do manejo adequado do
solo, tanto por meio da construção do perfil de solo quanto da manutenção de
cobertura. Com isso, mesmo em situação de estresse, as lavouras puderam desempenhar
muito bem, como ocorreu na Bahia. Foi fundamental também um bom dimensionamento
operacional de estrutura e máquinas para plantio e colheita. “Quem ganhou neste
ano foi o produtor que conseguiu aproveitar todas as brechas nas quais o clima
foi bom para plantar e colher suas lavouras”, explica o coordenador do Rally.
Milho segunda
safra
Com relação ao
milho segunda safra, há dois pontos positivos: o crescimento de área e de tecnologia. Há, no entanto, um viés
de baixa para a produtividade. O plantio tardio desta safra aumentou
consideravelmente o percentual de lavouras implantadas fora da janela ideal, o
que eleva a preocupação não somente com a falta de chuvas, mas também com a
ocorrência de geadas. O resultado da safra vai depender muito do clima na
segunda metade de abril e em maio, períodos que vão concentrar as fases
críticas para produtividade do milho. A estimativa de produção atual é de 78,3
milhões de toneladas numa área plantada de 14,3 milhões de hectares (7,3% acima
da safra anterior, quando foram colhidas 75,7 milhões de toneladas). Em maio e
junho as equipes do Rally da Safra voltam a campo para avaliar as condições das
lavouras e consolidar as estimativas da segunda safra no Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Goiás e Paraná.
Trabalho durante a
pandemia
As 18 equipes do
Rally da Safra percorreram
mais de 42 mil quilômetros na etapa soja, passando por 455 municípios em 9
estados produtores. Cada equipe trabalhou de forma mais independente, sem a
interação entre os técnicos e produtores, como ocorria em outras edições. A
atenção das equipes se voltou ao levantamento de campo. Foram coletadas no
total 1.092 amostras de lavouras de soja, com informações sobre população de
plantas, número de grãos por planta, estádio de desenvolvimento, peso de grãos,
umidade e incidência de pragas e doenças, entre outras. Devido à pandemia, não
houve visitas aos produtores nas propriedades, mas nem por isso se deixou de
interagir com eles: foram realizadas 70 reuniões online com agricultores que
permitiram coletar informações não somente sobre o volume produzido, como
também sobre a conjuntura atual.
Organizado pela Agroconsult, o Rally da
Safra 2021 chega à 18ª edição com patrocínio da FMC, Banco Santander, Phosagro
e Rumo, e o apoio da Plant UP, Unidas Agro, FIESP e Universidade Federal de
Mato Grosso.
O trabalho das
equipes e o roteiro completo da expedição podem ser acompanhados pelo http://bit.ly/RallyRedesSociais.
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