Há um ano, o Brasil anunciava o seu primeiro caso de COVID-19 na cidade de São Paulo, em um paciente recém-chegado da Itália. Em 26/02/2021, dados oficiais registraram 10.455.630 casos e 252.835 óbitos no Brasil. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), em pesquisa realizada em 2020, revelou que 13,5% dos urologistas brasileiros entrevistados afirmaram ter sido infectados pela Covid-19.
A COVID-19 é uma
doença causada pelo coronavírus, denominado SARS-CoV-2 e que pode apresentar
desde infecções assintomáticas até quadros gravíssimos e óbitos. Em
aproximadamente 20% dos casos, faz-se necessário atendimento hospitalar por
apresentarem dificuldade respiratória; e destes, aproximadamente 5% podem
necessitar de suporte ventilatório.
Em um ano, três
variantes do coronavírus SARS-CoV 2 (mutações) foram identificadas no mundo, o
que justifica a manutenção de todos os cuidados sanitários recomendados. A
situação atual é preocupante, como foi demonstrada em recente pesquisa
promovida pela Coalizão Covid Brasil (Hospitais: Albert Einstein, HCor,
Sírio-Libanês, Moinhos de Vento, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa, além
do Brazilian Clinical Research Institute e da Rede Brasileira de Pesquisa em
Terapia Intensiva) revelando que 25% dos pacientes entubados por COVID -19
morreram em um período de 6 meses após alta hospitalar. Outro dado identificado
foi de que a mortalidade é de 2% para pacientes internados que não precisaram
de ventilação mecânica, além de outras complicações como: ansiedade (22%),
depressão (19%) e estresse pós-traumático (11%).
A doença não se
restringe apenas ao sistema respiratório, ela é considerada sistêmica e pode
comprometer outros órgãos como rins, pênis e testículos, resultando em
insuficiência renal, disfunção erétil e talvez até infertilidade. Algumas
teorias sugerem que essas complicações sejam resultado de alterações
enzimáticas e lesões do endotélio vascular, provocadas pelo vírus,
desencadeando processos inflamatórios e fenômenos tromboembólicos (obstrução do
fluxo sanguíneo).
A disfunção erétil
pode ser desencadeada a partir do comprometimento do sistema circulatório e
cardiorrespiratório somada a questões emocionais, que podem levar à insegurança
e piora da performance sexual.
Em trabalho
recentemente publicado, pesquisadores brasileiros da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo mostraram que pacientes com COVID-19 podem evoluir
com processo inflamatório incidental no epidídimo, complicação que pode
interferir na fertilidade.
Diante de inúmeros
problemas na esfera urológica desencadeados pela COVID-19, a Sociedade
Brasileira de Urologia, em seu portal, lembra que medidas de isolamento social são
necessárias. Mas diante de algumas doenças urológicas, como por exemplo:
infecções, cálculos renais e cânceres, uma rápida intervenção médica faz-se
necessária; embora, por medo da infecção pela COVID-19, muitos pacientes tenham
adiado a procura médica, o que pode resultar em danos à saúde, às vezes
irreversíveis.
Em outra pesquisa, a
SBU avaliou junto aos seus associados o impacto da pandemia de COVID-19 na
saúde urológica brasileira, identificando que cerca de 90% dos urologistas
relataram uma redução igual ou maior que 50% nas cirurgias eletivas e 54,8%
mencionaram a diminuição de pelo menos 50% no número de cirurgias de
emergência. Esta pesquisa sugere que boa parte dos pacientes com doenças urológicas
(como cânceres, hiperplasia obstrutiva de próstata, incontinência urinária,
entre outras) possam ter postergado o tratamento pelo receio de contraírem o
vírus. Fica evidente que algumas doenças urológicas não podem esperar o fim da
pandemia para serem tratadas. Dessa forma, quanto mais cedo forem
diagnosticadas melhor será o prognóstico do tratamento.
Visando a melhor
prática médica, urologistas brasileiros publicaram artigo científico em revista
de renome internacional, em junho de 2020, na qual abordaram os cuidados a
serem observados frente a pandemia, no trabalho intitulado "Uma revisão
sistemática das diretrizes e recomendações padrão de cuidado urológico durante
a pandemia de COVID-19". Este estudo foi realizado a partir da análise de
diretrizes, recomendações ou declarações das melhores práticas de organizações
internacionais e centros de referência sobre cuidados urológicos em diferentes
fases da pandemia de COVID-19 e seu objetivo foi obter o modo prático e seguro
de como acolher e tratar pacientes com patologias urológicas.
De modo resumido:
• COVID-19 é uma
doença sistêmica;
• Outras doenças
continuam existindo e precisam ser tratadas;
• Doenças urológicas
secundárias à COVID-19 podem ser desencadeadas;
• A vacina existe e
está sendo disponibilizada, vacine-se assim que possível;
• Medidas de proteção,
como lavar as mãos frequentemente com água e sabão, uso de álcool em gel,
manter o distanciamento social e usar máscara, funcionam, inclusive contra as novas
variantes identificadas até o momento;
• Hospitais e
consultórios seguem rigorosos protocolos de prevenção ao coronavírus, conforme
orientações do Ministério da Saúde e Vigilância Sanitária; portanto, se
precisar, não tenha receio em procurar o seu Urologista (de modo presencial, por
telefone ou videoconferência, ele vai saber lhe orientar).
Dr. Marco
Aurélio Lipay - Doutor em Cirurgia
(Urologia) pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), Titular em
Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia, Membro Correspondente da Associação
Americana e Latino Americano de Urologia e Autor do Livro "Genética
Oncológica Aplicada à Urologia".
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