Este ano, enfrentamos a maior pandemia do século 21. Com a necessidade de isolamento social, a Covid-19 causou um grande choque na economia do país e na vida cotidiana de toda a população, mas sem dúvida as pessoas com deficiência tiveram um impacto ainda maior por seus desafios de mobilidade e, muitas vezes, a necessidade do auxílio de terceiros. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 1 bilhão de pessoas têm algum tipo de deficiência no mundo. No Brasil, essa população chega a quase 46 milhões, segundo o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Pelo alto nível de contágio de um vírus que age
de diferentes formas em cada organismo e que pode ser fatal para muitas
pessoas, a área da saúde teve que se reinventar para atender essa nova demanda
sem prejudicar os serviços já executados. Os centros de reabilitação física e
motora tiveram que ser temporariamente fechados e logo começaram a surgir os
questionamentos: como deixar de lado tratamentos tão fundamentais para uma
melhor qualidade de vida ou recuperação imediata de traumas e/ou cirurgias?
Como manter os atendimentos e garantir a segurança se o contato físico é
necessário na terapia?
Diante de uma demanda alta de pacientes por
algum tipo de terapia, as instituições de saúde tiveram que se reinventar para
não os deixar de lado. A AACD realiza cerca de 800 mil atendimentos por ano.
Para garantir a continuidade dos tratamentos em meio a pandemia, foi preciso um
planejamento minucioso para garantir a segurança de todos, mas sem comprometer
o tratamento.
A prioridade foi para os pacientes de
pós-operatório. Nos períodos de março e abril, foi utilizada uma estrutura
menor, com protocolos de segurança e controle, com o apoio da equipe de
infecção hospitalar para dar continuidade aos atendimentos dessa população que
não podia esperar. Depois, para atingir um número maior de pessoas, foram
gravadas uma série de vídeos, disponibilizados no canal do Youtube da
instituição, com exercícios que abrangessem os mais diversos perfis, desde
crianças a adultos e diferentes tipos de doenças.
Em maio foi iniciado um plano de retomada
gradual - cada unidade seguiu os protocolos das secretarias municipais de cada
cidade- que abrangeu contato telefônico para entender condições de
deslocamento, de segurança, vontade de voltar a terapia e demandas sociais dos
pacientes. O plano terapêutico de cada paciente foi rediscutido, a estrutura
física foi adaptada, adquirido EPIs, adequada as agendas para ter um período
maior entre um atendimento e outro para ter tempo de fazer a higienização e
evitar contato entre muitas pessoas.
A liberação da telemedicina foi um grande marco
e tem sido fundamental nesse período. Apesar de nem todos os tratamentos
puderem ser realizados por esse meio por necessitarem de aparelhos e recursos
físicos, mas foi extremamente importante para quem não podia comparecer
presencialmente, no entanto, podia receber orientação e avaliação de forma
virtual. A partir de junho os atendimentos foram liberados gradualmente mês a
mês, até atingirem a capacidade total com segurança garantida. Os processos
foram tão bem alinhados e executados que o resultado foi muito satisfatório com
uma aderência de 95% do total de pessoas atendidas.
Esses são exemplos de algumas ações importantes
para garantir o acesso ao tratamento das pessoas com deficiência física durante
a pandemia. Essa população também está inserida na sociedade civil exercendo as
mais diversas atividades, assim como qualquer pessoa, e garantir o direito
delas de acesso a um tratamento de qualidade que promova a sua autonomia e
competências é um dever das instituições de saúde, sejam públicas ou privadas.
Dra. Alice Rosa Ramos - Superintendente
de Práticas Assistenciais da AACD
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