Os distúrbios do sono são
muito comuns na gravidez e, dentre eles, a insônia é um dos mais frequentes,
acometendo cerca de 78% das gestantes. Segundo a Dra. Karina Tafner,
ginecologista e obstetra, especialista em endocrinologia ginecológica e
reprodução humana pela Santa Casa, e especialista em reprodução assistida pela
FEBRASGO; a insônia pode estar relacionada a alterações hormonais,
fisiológicas, metabólicas, psicológicas e posturais.
Um estudo recente da
Universidade da Califórnia, em São Francisco, apontou que mulheres que dormiam
menos de 6 horas por noite eram mais propensas a ter trabalho de parto mais
prolongado e 4,5 vezes mais chances de ter uma cesariana. “Intervenções para
tratar os distúrbios do sono são recomendadas para evitar resultados adversos
na gravidez, como hipersonia durante o dia, fadiga, alterações de humor e
dificuldade de concentração, além de afetar negativamente o relacionamento com
o parceiro, interferir no vínculo mãe-bebê e alterar os exames obstétricos”,
afirma Karina Tafner.
Primeiro trimestre
As mudanças nos padrões de
sono começam durante o primeiro trimestre da gravidez, provavelmente
influenciadas pelas rápidas alterações hormonais. “Neste período, a gestante
costuma ter hipersonolência, principalmente pelo aumento da progesterona,
hormônio que também pode causar diminuição do tônus-muscular, aumento do risco
de apneia do sono, ronco e interrupções do sono”.
Segundo e terceiro
trimestre
De acordo com Karina Tafner,
no final do segundo trimestre (23-24 semanas de gestação), o tempo total de
sono noturno diminui. “Mais de 98% das mulheres começa a ter insônia no
terceiro trimestre, relatando despertares noturnos causados por desconforto
geral, dor nas costas, frequência urinária aumentada, movimentos fetais, falta
de ar e câimbras nas pernas”, conta a ginecologista.
Segundo ela, pacientes com
insônia têm citocinas pró-inflamatórias altas, que também são observadas em
depressão pós-parto, parto prematuro e outras complicações da gravidez. “Os
médicos devem tratar os distúrbios do sono imediatamente, pois eles aumentam o
risco de complicações, como depressão no final do terceiro trimestre ou após o
nascimento da criança”.
Manejo da insônia
durante a gravidez
O diagnóstico de insônia na
gravidez deve ser feito em conjunto com distúrbios de ansiedade, transtornos do
humor, distúrbios do sono relacionados à respiração e síndrome das pernas
inquietas. “É importante que o médico indague sobre dificuldades no início do
sono, manutenção ou despertar, e entenda os fatores ambientais e
comportamentais. A obtenção de um histórico médico completo, incluindo quadros
de risco, é essencial para diagnóstico e tratamento, e recomenda-se a
intervenção precoce”, ressalta Karina Tafner.
Intervenções não
farmacológicas
Higiene e educação do sono são
consideradas como estratégias de primeira linha de tratamento. Essas incluem:
- Use luzes noturnas escuras
no banheiro, pois a luz brilhante pode dificultar o retorno ao sono.
- Evite cafeína e chocolate.
Especialmente no final da tarde ou à noite, pois eles podem mantê-la desperta.
- Beba bastante líquido
durante o dia, mas limite a ingestão após às 17h, para diminuir o despertar
frequente para urinar.
- Evite alimentos apimentados,
pesados e fritos para diminuir a azia.
- Se necessário, prefira
cochilos pela manhã, e não à tarde.
- Se for clinicamente
apropriado, exercite-se 30 minutos todos os dias, de preferência, 4 a 6 horas
antes de dormir. Dieta e exercício físico têm um impacto positivo sobre o sono.
- O ambiente do quarto deve
ser o mais confortável possível.
- Evite comidas gordurosas à
noite, pois a digestão fica mais pesada e prejudica o sono.
- Quando já estiver na cama,
evite o tempo de tela, pelo menos uma hora antes de dormir. A luz azul da TV,
do celular ou tablet pode afetar o ritmo circadiano do seu corpo, além de
diminuir a melatonina, hormônio que regula o momento de dormir. Em sincronia
com o fim do dia e da luminosidade, ela passa a ser liberada a fim de preparar
o organismo para o período noturno.
- Durma no lado esquerdo, com
as pernas dobradas e com travesseiros entre os joelhos, abaixo do abdômen e
atrás das costas, para reduzir a pressão na região lombar.
- Para redefinir seu relógio
interno, durma e acorde no mesmo horário, todos os dias.
Terapia
comportamental e cognitiva
As terapias comportamentais
para insônia incluem: relaxamento, restrição do sono, terapia cognitiva e
terapia comportamental. Segundo a ginecologista, o controle de estímulos inclui
o uso da cama apenas para dormir. “Se não consegue pegar no sono, levante-se e
faça algo minimamente estimulante. Tomar um banho relaxante pode deixá-la
sonolenta, mas a temperatura da água não pode ser muito quente. Pode ser
perigoso para o bebê em desenvolvimento”, alerta Karina. Segundo ela, uma
leitura leve também pode ajudar. “Ficar na cama e se preocupar em não dormir
perpetua a insônia”.
Técnicas como relaxamento
muscular progressivo (PMR), que inclui contração e relaxamento alternados de
diferentes músculos, podem ser usadas antes de cada período de sono. A
respiração profunda abdominal, com pensamentos relaxantes, também pode ser útil
se usada antes de cada período de sono.
Já a terapia cognitiva é
direcionada à ansiedade, ao pensamento negativo relacionado ao não dormir e às
expectativas sobre a duração do sono. De acordo com Karina Tafner, algumas
gestantes têm ideias pré-determinadas sobre a quantidade de sono necessária
para funcionar bem. Isso costuma ser tratado a partir de pesquisa e do
histórico de duração do sono das pacientes.
O que é seguro
tomar para insônia durante a gravidez
Alguns auxiliares do sono são
frequentemente considerados seguros para uso ocasional durante a gravidez. No
entanto, segundo a especialista, não se deve tomar nenhum remédio para dormir
ou outro medicamento durante a gravidez, a menos que tenha sido prescrito ou
aprovado pelo médico. “Alguns chás, como o de camomila, valeriana e de
erva-cidreira são excelentes para combater a insônia e dormir melhor, pois
possuem propriedades calmantes que ajudam a relaxar os músculos e a mente”.
Em suma, a ansiedade é muito comum durante a gestação. “São muitas preocupações com o trabalho de parto, com a chegada do bebê e com a nova vida. Essas expectativas podem mantê-la acordada à noite e só trazem prejuízo à saúde. Em vez de remoer pensamentos, tente anotar todas as suas preocupações no papel. Isso lhe dará a chance de considerar possíveis soluções”, finaliza Karina Tafner.
Em suma, a ansiedade é muito comum durante a gestação. “São muitas preocupações com o trabalho de parto, com a chegada do bebê e com a nova vida. Essas expectativas podem mantê-la acordada à noite e só trazem prejuízo à saúde. Em vez de remoer pensamentos, tente anotar todas as suas preocupações no papel. Isso lhe dará a chance de considerar possíveis soluções”, finaliza Karina Tafner.
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