Levantamento dá um panorama geral das principais áreas afetadas pela Covid-19 na vida dos brasileiros, como renda, saúde e educação
A
crise do novo coronavírus foi um acontecimento praticamente inevitável em
vários aspectos e seu impacto ainda traz muitas dúvidas sobre o futuro. Desde a
população como um todo, bem como empresas, instituições e governos foram, de
uma forma ou de outra, obrigados a se adaptar a uma nova realidade.
Para analisar como a pandemia afetou os mais novos, o Saber - Instituto Brasileiro de Aprendizagem,
entidade voltada à capacitação de aprendizes, fez uma pesquisa com cerca de
1.200 participantes de diferentes regiões do país. A faixa etária predominante
foi acima dos 16 anos. Para o gerente geral do instituto, Ronaldo Cardonia, o
principal objetivo desse estudo foi “identificar e entender a realidade dos
aprendizes para adequações capazes de atender de maneira unificada empresas
parceiras, colaboradores e os jovens”.
Covid-19 no ensino
Dentre o público do estudo, 51,3% já têm o ensino médio completo, enquanto
20,5% ainda passam por essa etapa e outros 21,6% estão na faculdade. No período
de isolamento, as medidas com mais aderência entre as escolas e faculdades
estão as aulas por videoconferência (36,2%) e disciplinas transmitidas na TV
aberta (31,2%).
Renda e emprego
Uma grande parcela (41,5%) dos aprendizes não teve seu contrato impactado pelo
Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda. Para quem sofreu
alterações, 47%, as medidas mais tomadas foram antecipação das férias ou
feriados, licença remunerada e redução da carga horária.
A maioria dos aprendizes, 52%, teve suas funções suspensas nas companhias onde
atuam. Outros 23% estão atuando na modalidade home office e apenas 14%
continuam presencialmente, prática permitida apenas para maiores de 18 anos.
Para Ronaldo, essa diminuição da receita pode causar consequências acentuadas
nas transações do mercado, refletindo na geração de emprego e, consequente, na
piora do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). “A redução da renda impacta diretamente
no poder de compra, no adiamento de investimentos em educação, saúde e
qualidade de vida, bem como na capacidade de honrar suas dívidas, aumentando a
inadimplência, e, lamentavelmente, casos de violência doméstica”, explica.
Em até 16% das famílias dos jovens no Brasil, a arrecadação antes da pandemia
era de até um salário mínimo. Nesses casos, o aprendiz é a única fonte de
proventos da casa. Outros 79,2% dos lares possuíam receita entre 1 a 5 salários
mínimos e 18% já estavam inseridos em programas sociais de auxílio
governamental.
No contexto atual, 68,5% sofreram reduções na receita coletiva. Mesmo assim,
quase 40% dos familiares não tiveram contratos trabalhistas afetados durante a
quarentena. Entretanto, outros 32,3% tiveram diminuição de jornada e carga ou
antecipação das férias. Já 15,4% perderam o emprego.
Contato com o vírus
Mais de 74% dos jovens tiveram contato com pessoas diagnosticadas com a
Covid-19 e 31,1% possuem parentes com o quadro positivo para a doença. A
maioria dos aprendizes (52,3%) cumpriu as medidas de distanciamento e
quarentena, enquanto 41,3% tomaram cuidados, reduziram contatos, mantendo-se
longe das pessoas e evitaram visitas a idosos. 70% deles não se consideram
membros de grupos de risco do contágio, enquanto os outros 30% se identificam
ao menos com algum dos grupos com maior exposição.
Impactos do isolamento
Como resultado do distanciamento, 54,2% afirmaram se sentir mais deprimidos.
53% enfrentaram dificuldades para dormir, 44,3% ficaram mais cansados e outros
34,8% sofreram com o aumento do apetite. Apenas 19,5% não se afetaram
negativamente.
Um dos problemas causados nesse cenário foi o crescimento do sedentarismo. A
prática de atividade física foi de 64% antes da pandemia para 47%. Quase 83%
dos entrevistados consideram seu quadro de saúde como bom ou mediano. Apenas
14% afirmam ter uma saúde excelente.
Sobre a estabilidade mental dos jovens, o gerente do Saber comenta como o
excesso de notícias sobre a Covid-19 pode prejudicar: “manter-se informado é fundamental,
porém, chamamos a atenção para a busca em fontes confiáveis, evitando fake
news e o compartilhamento de informações equivocadas. De acordo com ele, a
recomendação é estabelecer um cronograma de diversas dinâmicas, desligando-se
por alguns momentos das reportagens e dados sobre o coronavírus. “Dentre
as sugestões, destacamos o empenho aos estudos, participação em treinamentos,
pesquisa sobre temas capazes de despertar seu interesse, conversas com
familiares e amigos em momentos de lazer”, diz.
Além disso, a leitura pode ser uma grande aliada. “Ler proporciona diversos
benefícios, tais como ampliação do seu vocabulário. Também permite uma escrita
melhor, aumenta o conhecimento e reduz o preconceito, torna as pessoas mais
empáticas e criativas na resolução de problemas, contribuindo
significativamente para a atividade cerebral”, destaca.
Comportamento na Internet
Aproximadamente 31% dos jovens não possuem computador em suas casas e quase 39%
também não têm pacote de dados de Internet em seus celulares. Para assegurar o
atendimento a esses grupos, segundo Ronaldo, além dos treinamentos ministrados
via Google Meet, o Saber disponibiliza uma equipe de apoio por e-mail
e telefones.
Mais de 75% desses brasileiros passam entre 2 a 6 horas diariamente nos portais
e aplicativos de relacionamentos e interações com amigos. O WhatsApp é
utilizado por quase 93%, seguido pelo Instagram (75,1%) e Facebook (56,4%).
Mesmo assim, o Facebook foi apontado como a rede capaz de gerar mais
sentimentos negativos relacionados à pandemia, com 65,2% dos votos, seguido do
WhatsApp (38,9%).
Para Cardonia, as redes sociais conquistaram grande espaço na vida das pessoas,
pois estabelecem conexões ao redor do mundo. “A princípio, eram usadas
exclusivamente para encontrar colegas, compartilhar fotos e trocar
experiências. Porém, com a evolução da tecnologia, as possibilidades foram
ampliadas, inclusive comerciais. Portanto, as emoções negativas não são
causadas pelas redes em si, mas por pessoas mal intencionadas por publicarem notas
falsas, propagando informações distorcidas, com cunho de ódio e gerando pânico
na população”, explica.
Mesmo em momentos de maior instabilidade, é preciso fugir do desânimo e pensar
com otimismo. “Diante das adversidades, nós nos tornamos melhores enquanto
seres humanos, seja sob a ótica familiar, social ou profissional. Contudo, sob
a lente do empreendedorismo, notou-se uma crescente prática de brainstorming
e benchmarking, em busca de sugestões para atender às novas
demandas. As soluções estão presentes entre nós, basta somente aplicar aquilo
citado por Otto Scharmer: ‘liderar a partir do futuro emergente’”, conclui.
Fonte: Ronaldo Cardonia -
gerente geral do Saber - Instituto Brasileiro de Aprendizagem
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