Uma discussão que acredito ser muito pertinente em
tempos de pandemia é como ficam, neste cenário quase caótico, as entregas? Esta
questão não se limita apenas às entregas de projetos e software, pode abranger
entregas de qualquer trabalho que seja.
Caso nenhuma mudança tenha sido formalizada, os
contratos vigentes, via de regra, seguem vigentes, com ou sem pandemia. Mas é
humanamente impossível que tudo o que viemos vivenciando não gere qualquer
impacto em nossa rotina de trabalho. Rotina esta que também se modificou
drasticamente, seja por alteração de local (remoto/home office), restrições de
horários, medidas sanitárias.
Também é necessário considerar que, entre pessoas
de nível técnico semelhante, que trabalham na mesma empresa, com as mesmas
condições de trabalho, existe variação de produtividade mesmo em situações
normais. Logo, estas variações tendem a se acentuar consideravelmente à medida
que novas variáveis entram nessa equação. Não bastasse a mudança física da
empresa para a casa, há muitos outros fatores que podem impactar o trabalho:
morar sozinho ou com a família, ter ou não animal de estimação, dispor ou não
de equipamentos adequados em casa, ser mais ou menos afetado pelas notícias do
“mundo exterior”, dentre outros. Todas essas variáveis influenciam, em alguma
medida, a produtividade de cada trabalhador.
Sendo assim, a pandemia e suas consequências são
motivos suficientes para que prazos, escopos, custos, contratos (inclusive de
trabalho) e demais acordos sejam sumariamente descumpridos ou ignorados? É
evidente que não. Também seria inviável refazer contratos e acordos com cláusulas
específicas para vigorarem durante a pandemia, haja vista que isso exigiria
levar em conta o fator humano de cada pessoa envolvida em cada processo.
Sem entrar em questões jurídicas, nem na
subjetividade do que é justo ou injusto nesses tempos difíceis, é clara a
necessidade de se chegar a um meio termo. Não é possível agir como se nada
estivesse acontecendo, nem como se houvesse aval para que as entregas sejam
feitas apenas quando houver conveniência.
Assim, acredito que a chave para a superação dessa
crise passe pela empatia. Talvez esta habilidade
nunca tenha sido, em tempos recentes, tão demandada quanto é hoje. É necessário
exercitá-la em todas as relações: entre colegas de trabalho, líderes e
liderados, clientes e fornecedores e qualquer outra relação humana que faça
parte da rotina laboral. É primordial que, antes de se analisarem cláusulas
contratuais potencialmente descumpridas, busquemos descobrir as razões pelas
quais as pessoas envolvidas não conseguiram entregar o
esperado e, então, negociar a melhor forma de se cumprir o combinado. É preciso
analisar cada situação individualmente, sem imaginar que alguém possa estar
utilizando a pandemia como pretexto para trabalhar menos, mas partindo do
pressuposto que vivemos uma situação temporária de caos social em todas as
esferas e que, assim que retornarmos ao (novo) normal, poderemos voltar também
às exigências contratuais e de produtividade tradicionais.
Felipe Massardo - coordenador de projetos no
Instituto das Cidades Inteligentes (ICI).
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