A reabertura gradual do comércio na flexibilização
da quarentena implementada em grandes centros urbanos, como São
Paulo e Rio de Janeiro, e a queda nos índices de isolamento social
já aumentaram o movimento no trânsito e devem provocar um aumento no número de acidentes.
Entidades e especialistas em Medicina de Tráfego alertam que isso reflete
diretamente na ocupação de leitos e na mobilização de recursos do Sistema Único
de Saúde (SUS) nos hospitais públicos.
O temor é que haja um prejuízo no atendimento a
pacientes da Covid-19 justamente quando a pandemia está em curva ascendente no
Brasil, que contabiliza mais de 61 mil mortos e quase 1,5 milhão de casos
confirmados.
A preocupação dos especialistas da Mobilização de
Médicos e Psicólogos Especialistas em Trânsito do Brasil é reforçada por dados
da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), que mostram que 60% dos
leitos de UTI são ocupados por vítimas de acidentes de trânsito.
Estes pacientes respondem a 50% das cirurgias de
urgência no SUS. “Em um momento em que há uma explosão na demanda
por leitos, respiradores e profissionais da saúde, um aumento do número de
acidentes pode ter um impacto negativo principalmente nas cidades onde a taxa
de ocupação está se aproximando do limite”, afirma o médico
especialista em Medicina do Tráfego, Alysson Coimbra de Souza Carvalho.
O reflexo do isolamento social na segurança do
trânsito é atestado em números de várias cidades brasileiras. Em cidades do
Nordeste onde o lockdown (bloqueio total) foi decretado, a redução foi
drástica. Teresina teve uma queda de 95% nos acidentes, entre os meses de março
e abril. Fortaleza viu o índice cair 60% durante o período de maior isolamento
social.
A retomada das atividades comerciais, no entanto,
fez crescer o movimento nas ruas e estradas. No dia 8 de junho, a incidência de
congestionamentos cresceu 500% no Rio de Janeiro, na comparação com as semanas
anteriores à flexibilização. Em Minas Gerais, desde o fim de abril, o
isolamento social caiu de 61% para 36%. Com cerca de 5 milhões de pessoas a
mais nas ruas, o número de acidentes aumentou. Apenas em um hospital de Belo
Horizonte, o número de internações cresceu 37% em maio, na comparação com a
abril.
Na avaliação dos especialistas, o impacto da
redução na ocupação de leitos por vítimas de acidentes foi imediato,
contribuindo para que os pacientes de Covid-19 pudessem ter acesso a todos os
recursos necessários para o tratamento, evitando, em muitos municípios, o
colapso do sistema de saúde e um número ainda maior de mortes. “Em uma
situação de pandemia e de temor iminente do colapso no sistema de saúde, a
segurança no trânsito é uma importante aliada. É preciso um esforço de todos
para evitar que isso aconteça. O Brasil é o 4º país do mundo com maior número
de mortes no trânsito, ficando atrás somente da China, Índia e Nigéria. Os
governos precisam adotar medidas para reduzir esses dados e melhorar a
segurança. As pessoas precisam também se conscientizar sobre a importância de
seguir as regras de trânsito em qualquer época do ano e, em tempos de pandemia,
quem puder, deve ficar em casa. A prudência salva vidas”,
afirma o médico.
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