O índice de confiança do empresário da construção
civil atingiu o menor índice da série história, segundo a pesquisa ICEI de
abril, realizada pela Confederação Nacional da Indústria. O receio em relação
ao futuro do mercado é resultado direto da crise provocada pela Covid-19.
Apesar do setor ser considerado um serviço essencial e, por isso, não ter suas
atividades paralisadas, alguns fatores importantes explicam tamanha insegurança
do empresariado.
Antes de mencionar as razões para essa queda de
confiança, é preciso entender a complexidade e a magnitude da construção civil.
As lojas de materiais de construção, por exemplo, não foram impedidas de
funcionar. Mas outras fatias do mercado, como marmorarias, lojas de móveis
planejados ou vidraçarias não entraram no recorte de serviços essenciais e se
veem diante de um cenário imprevisível a médio e longo prazo.
Portanto, é equivocado dizer que o setor não parou.
Algumas áreas de atuação sentiram e ainda sentem o impacto financeiro da
suspensão das atividades. As que não foram impedidas de continuar, entretanto,
notam o fluxo de clientes cair drasticamente, com a recomendação de isolamento.
E aí está o primeiro motivo: a construção civil não estava acostumada a ir
atrás do cliente. Ela simplesmente esperava que ele batesse à sua porta.
Em geral, o comércio da construção civil não estava
muito presente nos meios digitais, como mídias sociais, aplicativos e
e-commerce. E, agora que o cliente está em casa, é preciso encontrar maneiras
de chegar até ele, não só com promoções e ofertas, mas com uma experiência de
compra semelhante aos padrões que ele exige hoje, como entrega a domicílio e
possibilidade de fazer orçamentos online.
O segundo motivo se dá pelo desencontro de informações.
As orientações a nível federal, estadual e municipal geram incertezas entre os
empresários, que, muitas vezes, se sentem à deriva, sem saber como agir. Nesse
sentido, tem sido muito importante a atuação de entidades do setor. Um exemplo
é a ANAMACO (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção),
que, por meio de suas regionais, vem realizando lives e webinars com grandes
nomes da construção civil para ajudar a disseminar informações, buscando dar
uma luz para as empresas de menor porte, principalmente.
A falta de um planejamento para a retomada também
preocupa. Tenho conversado com diversos empresários do setor e todos concordam
com a necessidade de isolamento, mas gostariam que as ações fossem menos
paliativas e mais estruturadas.
O resultado de tudo isso é um ciclo vicioso: a
queda na confiança dos empresários contribui para a paralisação dos
investimentos, que resulta no agravamento da crise econômica.
Por outro lado, o momento tem sido propício para o
setor se repensar. Idealmente, teríamos feito todas essas mudanças, apostando
nos meios digitais e na informatização, sem as demais preocupações que uma
pandemia gera, como a manutenção de empregos. Mas vejo os esforços de muitos
empreendedores, de todos os portes, criando redes sociais, fazendo publicidade
online, indo atrás dos clientes onde quer que eles estejam.
Se pudesse resumir as necessidades dos empresários
da construção civil neste momento, diria que é preciso diálogo e um
planejamento assertivo. Com esse respaldo, que vai além de um auxílio
financeiro, por exemplo, esse setor que emprega milhares de pessoas pelo país
não correria tanto risco de encolher. É preciso ser criativo e, principalmente,
não ficar parado. Assim, será possível navegar nos mares conturbados dos
próximos meses.
Wanderson
Leite - formado em administração de empresas pelo
Mackenzie e fundador das empresas ProAtiva, app de
treinamentos corporativos digitais, ASAS VR, startup que leva realidade virtual
para as empresas e escolas; e Prospecta Obras, plataforma de relacionamento do
segmento de construção civil.
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