A partir da elaboração dos meus incômodos sobre o
momento atual, pude organizar algumas ideias para compartilhar meus
aprendizados aqui, que acredito serem úteis para outras pessoas que estejam
enfrentando situações similares, assim desejo!
Tenho pensado muito sobre quantas crises existem em
uma só e de que crise estamos falando quando nos referimos ao momento atual. Já
se passaram algumas semanas, já nos organizamos usando dicas de como fazer home
office, organizar tarefas e prioridades e tantas outras dicas e cursos que
estão disponíveis. Bem, podemos afirmar que estamos basicamente adaptados a
rotina pessoal e profissional. Também estamos descobrindo e reinventando
situações para amenizar o sofrimento gerado pelo isolamento, (des) preparados
economicamente para os próximos meses, enfim, parece que estamos lidando melhor
com a situação do que antes.
Agora, a alteração da nossa forma de trabalho para algo
muito diferente de como fazíamos antes me gerou grande desconforto. Precisei
levar um tempo para compreender e assimilar as perdas que ali existiam. Sim,
uma das crises que enfrentei foi justamente ter que fazer um luto do papel
profissional, ou pelo menos da configuração que ele tinha antes disso tudo
começar.
Compartilho a minha rotina profissional para que
entendam o impacto que foi para mim: Acordar todos os dias, viajar para
diferentes empresas, com amigos do trabalho no carro, dividindo experiências,
contando sobre a vida, rindo e trocando confidências. Chegar e encontrar
diferentes grupos e pessoas queridas, de diferentes empresas e cidades, e
estados, com diferentes culturas, comidas, hábitos, sotaques, além de situações
e problemas diversos. Abraçar e estar próxima das pessoas, ter a convivência
afetiva, conversar no almoço, depois, a volta para casa, a despedida até o
estacionamento, a troca de olhares de “se cuida na estrada”…
Tudo isso, foi substituído por reuniões on line uma
após a outra, ligações, alinhamentos, ou seja, o trabalho não para. E não há
problema algum nisso, a única questão que me deparei foi como acomodar essa
alteração, de uma rotina movimentada e cheia de contatos afetivos para outra
também efetiva mas limitada a um mesmo espaço, sem o contato, sem os abraços,
sem o “fazer junto” lado a lado… Parecia que eu não estava mais “trabalhando”,
apesar de estar o tempo todo produzindo e focada nos clientes assim como antes.
Levei um tempo para perceber o que de fato me
incomodava e então passar a encontrar novas respostas para lidar com a falta da
convivência afetiva, do olho no olho, do toque que conforta, da proximidade
física e tantas outras faltas que sentia. Talvez porque eram tão “naturais” que
nem percebia o quanto eram relevantes para mim.
Assim como eu passei por este processo, tenho
ouvido de muitos clientes e amigos o quanto acomodar o atual formato de
trabalho está sendo um grande desafio também, chegando a afetar a forma como se
reconheciam em seu papel profissional também.
Ouvi dúvidas como: “será mesmo que devemos dar
espaço para sofrer frente a esse caos que estamos vivendo?”, ou “Já temos
tantos problemas para ficar criando mais um, se adapta aí e pronto”. Mas é aí
que está o erro, há um intenso sofrimento emocional causado pela abrupta
mudança, pela perda da situação antiga, o que pode acarretar inúmeras reações
fisiológicas e psicológicas, como ansiedade e depressão entre tantas outras. E
isso jamais deve ser ignorado!
Por isso, achei relevante escrever esse texto como
uma forma de ajudar com esses incômodos. A estratégia que adotei para lidar com
essas angústias foi explorar ao máximo como eu me sentia e do que realmente
sentia falta, isto me permitiu ter um grau de segurança maior para seguir.
Segundo J. Bowlby, psiquiatra criador da Teoria do
Apego, situações de mudanças de forma involuntária são uma das experiências
mais ameaçadoras e intensamente dolorosas que o ser humano pode sofrer, pois
são penosas não só para quem a experimenta como também para quem está
envolvido, devido ao sentimento de impotência para ajudar. Se não nos darmos
conta de que estamos vivendo uma situação dessas, lidamos com ela de maneira
inadequada, dando respostas ineficientes (ou deixando de dá-las), ficando
irritado, impaciente, ou, até mesmo, robotizados, perdendo a capacidade de dar
respostas mais adequadas para a situação atual.
Os eventos estressores em geral, são situações que
trazem sofrimento, angústia, dor e aflição. E precisamos encontrar alternativas
para lidar com essas emoções e minimizar seus efeitos, substituindo-as pela
confiança, a segurança nas ações que já estão sendo tomadas e nas pessoas
envolvidas, garantindo a disposição para buscar proximidade, seja lá a forma
que encontrar para isso.
Alguns exemplos que tenho adotado: Ligar no final
do dia e conversar com um amigo querido, ter uma base segura para dizer o que
sinto e refletir ativamente sobre o quanto estou conseguindo estar presente nas
situações e desafios diários. Além disso, reflito comigo mesma sobre quais são
as angústias que tenho sentido, que me geram medo.
Tente se fazer essas perguntas, não tenha receio de
parecer menos forte por sentir medo e se deixar reconhecer em sua
vulnerabilidade! Já se perguntou do que sente medo e o que te conforta, ou o
que ameniza o seu medo? Diga para as pessoas que admira o quanto elas são
importantes para você! Peça ajuda naquilo que se sente sobrecarregado, diga
como se sente, principalmente para as pessoas que convivem com você
diariamente.
Aproveite esta oportunidade para mergulhar nas
profundezas do seu ser e se reconhecer como Humano. Como alguém que é impotente
frente a algo tão maior que está totalmente fora do seu controle. Só te basta
cuidar do que está ao seu alcance: Você.
Se manter organizado emocionalmente e aproveitar a
oportunidade para fazer boas e sábias escolhas, fortalecer ainda mais relações
que são significativas para você, escolher quais são mesmo as suas prioridades
hoje e o quer fazer daqui para frente. Tudo isso está em suas mãos!
Aproveite a oportunidade do caos, afinal você não
sabe quanto tempo outra pandemia vai demorar para te provocar a refletir de
novo… rs. É uma oportunidade ímpar de escolher, pois talvez essa oportunidade
já estivesse ali, todos os dias, mas hoje – especialmente – estou aqui pensando
com você, te lembrando dela e sobre como é importante dar um significado para o
seu momento presente: reconhecer o que sentimos e valorizarmos as pessoas que
estão verdadeiramente ao nosso lado.
Por que deseja excluir de sua vida todo e qualquer
incômodo, angústia ou medo? Talvez se der espaço para eles você vai se
surpreender com o processo, afinal, nunca se sabe qual transformação essas
condições produzirão em cada um de nós.
Aproveite e faça esse exercício, diga para ao menos
01 pessoa sobre o que tem medo, e fale que escolheu fazer isso porque essa
pessoa te dá segurança e conforto. Isto fará com que tenha esperança na vida e
seguir enfrentando seus desafios com a certeza de que pode e vai dar tudo
certo. Sim, eu garanto que compartilhar este momento com alguém vai ser muito
especial, e que depois você se sentirá tão mais corajoso para seguir seus
planos, mesmo aqueles mais desafiadores.
Experimente e depois me conte como foi!
Fernanda Macedo - no Grupo Bridge é Especialista em formação e
reparação de relações de grupos, desenvolvimento de lideranças e transformação
cultural.
Possui mais de 18 anos de experiência na área da desenvolvimento organizacional e gestão de grupos.
Entusiasta na aplicação prática da Teoria do Apego, de John Bowlby, no contexto organizacional para construção, manutenção e rompimento de vínculos entre lideres e equipes.
Possui mais de 18 anos de experiência na área da desenvolvimento organizacional e gestão de grupos.
Entusiasta na aplicação prática da Teoria do Apego, de John Bowlby, no contexto organizacional para construção, manutenção e rompimento de vínculos entre lideres e equipes.
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