Estima-se que o Transtorno do Espectro Autista
(TEA) atinja, atualmente, mais de 2 milhões de pessoas no Brasil, e a inclusão
dessas pessoas ainda é um desafio para pais e educadores. Somente no Estado de
São Paulo, são mais de 400 mil pessoas. E esse número deve aumentar devido à
maior eficácia dos diagnósticos.
Muitos alunos que têm o Transtorno do Espectro
Autista estão nas salas de aula, alguns ainda sem laudos. E as escolas
enfrentam dificuldades para lidar com esses jovens, pois os professores não
estão preparados.
A Especialista em Intervenção Precoce do Autismo
pelo CBI of Miami (Child Behavior Institute), Amanda Ribeiro, explica que a
inclusão escolar da criança com deficiência é lei há muitos anos, mas a maioria
das escolas regulares, ainda não estão capacitadas para lidar com crises. Esses
episódios, que podem ser confundidos com birras ou comportamento agressivo, são
causados por excesso de estímulos, hipersensibilidade ou quebra de rotina.
Quando o profissional não está preparado para evitar e lidar com essas crises,
fica impossibilitado de contribuir com o desenvolvimento do autista. “Cada autista
é diferente um do outro. Eles têm características dentro do espectro, porém
cada criança é diferente. Não existe possibilidade de um autista ser igual a
outro, cada autista é único”, explica.
É muito comum que crianças autistas tenham o
Transtorno do Processamento Sensorial (TPS), que são hipersensibilidades
auditivas, táteis, visuais, olfativas ou hiposensibilidade tátil. Alguns dos
sintomas são incômodos com sons e ruídos, texturas, alimentos e até cores.
Coisas que, para a maioria das pessoas não provoca qualquer tipo de problema,
podem desestabilizar um autista.
Conhecer quais os estímulos que a pessoa suporta é
uma regra importante. Saber o que a pessoa gosta, o que rejeita, o que a deixa
mais agitada ou o que acalma pode ajudar a prevenir crises e controlar o tempo
de exposição a situações de risco.
No caso de pessoas autistas, algumas podem fazer
estereotipias, que são comportamentos repetitivos para se autorregular (como
tapar os ouvidos e se balançar, por exemplo), e chegar a uma crise com irritabilidade,
agressividade, choro, entre outras reações.
Para o educador, é fundamental saber como acalmar a
criança. Em caso de hipersensibilidade visual, o ideal é ir a lugares com cores
claras ou luz baixa. Para a hipersensibilidade auditiva, é possível utilizar
fones de ouvido para abafar o som e diminuir a exposição aos ruídos excessivos.
No caso da seletividade alimentar, atribuída à alteração de hipersensibilidade
no paladar, o ideal é também fazer a dessensibilização, ou seja, no início
deixar o alimento próximo ao prato, depois servir um pouco, sempre um alimento
por vez, para que a pessoa se adapte à aparência, ao cheiro e à textura.
Algo que dificulta muito o trabalho na escola é que
nem todas as famílias tiveram acesso ao atendimento multiprofissional, ou seja,
a terapia com psicóloga comportamental, fonoaudióloga e terapeuta ocupacional.
Ainda assim, conhecendo o aluno e suas necessidades, é possível otimizar o
aprendizado e as relações.
Neste sentido, Amanda reforça a necessidade em se
ter, também, um acompanhante terapêutico, fundamental para colaborar com o
desenvolvimento e aprendizagem das crianças atípicas. “As escolas
devem estar preparadas e estruturadas para fazer a inclusão desses alunos
corretamente, não basta apenas recebê-los. É preciso que se movimentem e
capacitem seu corpo docente, seja por responsabilidade social, empatia ou pelas
punições previstas em lei”, alerta.
Terapia ABA
Entre os autistas há também os comportamentos inadequados ou de desobediências, identificados por não atender aos comandos, na recusa em parar uma atividade, ao bater ou não fazer a lição, por exemplo, que podem ser prevenidos com técnicas comportamentais baseadas na Terapia ABA (Terapia de Análise do Comportamento Aplicada), que orienta a criação de situações que dão previsibilidade.
Nessa relação, a rotina é essencial para ajudar a
criança a se organizar mentalmente. Imagens que retratem o cronograma das
atividades também são ótimos recursos para que gravem o que deverá ser feito,
assim como os comandos e reforços positivos.
Amanda diz que os educadores precisam conhecer
melhor os meios de aprendizagem e as limitações causadas pelo autismo. Para
ela, a formação dos professores para lidar com essas crianças não é mais uma
escolha, mas uma necessidade. “O tratamento e a terapia para o autismo são
comportamentais. Os professores não tiveram esse tipo de treinamento na
faculdade, dentro das disciplinas que estudaram. Eles precisam ser
capacitados”.
A especialista reforça que conhecer bem o
transtorno e suas nuances é o melhor caminho para incluir as crianças e, assim,
garantir que elas se desenvolvam plenamente. “É importante frisar que há
muitas técnicas baseadas em terapia comportamental que são simples de serem
adotadas e garantem uma convivência harmoniosa nas escolas regulares”, afirma.
Amanda Ribeiro - especialista em Intervenção Precoce do Autismo pelo CBI of Miami (Child Behavior Institute)
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