A
solução para deslocamentos mais rápidos e seguros pode estar na palma da sua
mão
Sair de um ponto e chegar
a outro. Essa é uma das definições mais primitivas, porém realistas, do
trânsito. Ao longo desse caminho, informações são geradas continuamente e o
acesso a grande parte delas está ao alcance de qualquer pessoa. O curioso é
que, mesmo acessíveis, elas parecem permanecer ignoradas pelos gestores
urbanos. Ironicamente, talvez recaia justamente sobre elas a possibilidade de
tornar o trânsito menos caótico.
Existem aplicativos que
permitem a alteração de rotas, inclusive variando modais e horários preferenciais,
e os que calculam os custos de determinado trajeto. Há ainda aqueles que
fornecem um retrato abrangente das condições de trânsito em tempo real. Os
recursos são tantos quanto a capacidade criativa permitir, e fazer uso de ao
menos um deles é quase uma unanimidade na era da informação.
Quanto maior a adesão a
redes colaborativas como essas, mais ricas, precisas e confiáveis são as
informações compartilhadas. O resultado não poderia ser outro: deslocamentos
mais eficientes. Entender a dinâmica desse ciclo concede aos aplicativos o
posto de potenciais transformadores do trânsito, já que são capazes de alterar
o comportamento do condutor. Se os benefícios de percorrer determinado trajeto
de ônibus e deixar o carro para trás forem nítidos ao motorista, aumentam as
chances da escolha dele ser essa. Isso nada mais é do que a mudança de hábito
provocada pela disseminação de informação.
Por outro lado, na mesma
medida em que podem promover a economia de tempo e dinheiro, esses aplicativos
também podem ser um convite à negligência – e talvez seja esse o temor dos
gestores de trânsito. O Waze, uma das mais conhecidas plataformas colaborativas
de trânsito do mundo, disponibiliza trajetos mais rápidos, mas também permite
que o motorista burle a fiscalização, se inclinado a este tipo de conduta. Tão
arriscado quanto o uso inadequado do aplicativo, porém, é ignorar o poder que
ele tem. Cabe aos gestores, portanto, conhecer e aproveitar essas tecnologias a
seu favor, sem deixar de cumprir seu papel fiscalizatório.
Com acesso aos dados que
alimentam as redes colaborativas desses aplicativos, o gestor pode tanto
projetar o trânsito de maneira mais organizada, quanto prever ações que coíbam
o motorista de escapar da fiscalização. É possível, por exemplo, estabelecer pontos
estratégicos para as blitzes com base nas rotas utilizadas, justamente, para
desviar da principal delas. A parceria com as empresas que desenvolvem
aplicativos é uma solução ainda incipiente, apesar de extremamente frutífera
nesse sentido.
Desenvolver e possibilitar
alternativas vantajosas aos usuários e à própria organização da cidade, indo
além da tecnologia em si, é outro caminho a ser percorrido para melhorar a
mobilidade urbana. Incentivar a adoção da bicicleta para percorrer trajetos
diários a partir do desconto no IPVA, por exemplo. Afinal, quem não quer
encontrar alternativas viáveis, econômicas e que tragam praticidade ao trânsito
e mais qualidade de vida?
Ricardo Simões -
gerente de produtos da Perkons e membro da Comissão de Estudos de ITS da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
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