O
conhecimento sobre a epilepsia e como lidar com os pacientes no ambiente
escolar é imprescindível para transformar a escola num ambiente seguro e
inclusivo
Depois
da família, a escola é a instituição mais importante para construção da
identidade social de uma pessoa. Conceitualmente, essa identidade é o modo como
se é percebido pela sociedade e a visão que se tem de si mesmo. No contexto da
epilepsia, muitas vezes, o paciente é visto com olhares preconceituosos,
principalmente, quando está exposto em momentos de crise, como a convulsão,
impactando diretamente nas relações sociais. Quando isso acontece no ambiente
escolar é preciso que os professores estejam atentos e saibam lidar com a
situação, o que significa entender melhor a doença.
Porém,
na maioria dos casos, os docentes não têm informação suficiente para lidar com
essas manifestações, o que faz com que o estudante com epilepsia não receba a
atenção adequada e necessária, tendendo a se isolar.
A
recorrente manifestação de discriminação, principalmente no ambiente escolar,
afeta de diversas formas tanto a identidade social como pessoal do estudante
com epilepsia, o que inclui a autoestima, autoconfiança e motivação. Por isso,
é muito importante que diretores, coordenadores, professores e todos os
funcionários que estão nesse ambiente estejam preparados, não só para lidar com
a criança e o jovem com epilepsia, mas inclui-lo no ambiente social e evitar
que os colegas tenham medo ou preconceito.
Cognição e aprendizagem
De acordo com a neurologista Dra. Maria Luiza Manreza, “pessoas
com epilepsia, mesmo com crises não controladas, não necessariamente apresentam
algum tipo de dificuldade cognitiva. Em alguns casos, porém, podem ocorrer
alguns prejuízos em funções cerebrais, como a memória, atenção e raciocínio, o
que depende de diversos fatores, como o tipo e a frequência das crises e a
dosagem dos medicamentos utilizados para tratamento”, explica.
Em alguns casos, esses prejuízos podem repercutir
no processo de aprendizagem. Dessa forma, os professores têm
o papel de se aproximar da criança em questão e entender sua condição. Além
disso, é importante estabelecer uma comunicação entre a escola e a família e,
se houver necessidade, solicitar relatórios dos profissionais da saúde que a
acompanham para facilitar a percepção da singularidade do caso, com a
finalidade de otimizar o processo de aprendizagem.
Preconceito e bullying
É na transição entre a infância e a adolescência que se busca
desenvolver competências para incluir-se no mundo adulto. Por isso, no momento
em que a pessoa com epilepsia se sente impotente para seguir nessa direção e se
questiona sobre a própria capacidade, a relação com as pessoas que estão a sua
volta se torna mais difícil.
“Tratar inadequadamente uma pessoa enquanto ela está tendo
uma crise pode desencadear uma disseminação de preconceitos e estigmas, maus
tratos e bullying por parte de quem está por perto, principalmente, os colegas”, completa a médica.
Papel do profissional de educação
Os profissionais de educação têm o papel de observar o grau
de iniciativa, participação e de motivação das crianças com epilepsia.
Diferentes estímulos à cognição e expressões de credibilidade por parte do
professor são fatores que também podem beneficiar a autoconfiança e seguraça do
paciente, fazendo com que seu rendimento seja cada vez melhor.
Além disso, os profissionais de educação devem estar
preparados para agir diante de uma crise, sendo ela uma convulsão, crise de
ausência, ou qualquer outra, servindo de modelo para todos aqueles que
estiverem presenciando o ocorrido, fazendo com que absorvam o aprendizado e
ajam de forma correta em situações futuras. Reverter o preconceito e estigma é
uma questão de atitude, in loco, indispensável no momento em que a crise
eclodir.
Projeto Escola
Recentemente, a Associação Brasileira de Epilepsia (ABE)
iniciou um projeto de educação sobre a doença em 92 escolas da rede estadual da
zona sul de São Paulo. A ideia é conscientizar e ensinar todos os membros da
diretoria e coordenação, professores e funcionários das escolas sobre as
características da doença e suas manifestações, como a atitude que se deve
tomar durante as crises e como evitar/eliminar estigmas e preconceitos dos
colegas para que a autoconfiança e autoestima do paciente não sejam impactadas
negativamente.
O projeto da ABE é dividido em etapas, com reuniões para cada
grupo de profissionais mencionados. Na fase atual do projeto, em que se reforça
a importância da escola como potencial elemento na diminuição do preconceito
acerca da epilepsia, há a realização de treinamentos dos profissionais da
Educação para disseminação do conhecimento. Posteriormente, haverá um professor
responsável em levar o material adiante, abordando o tema em sala de aula e
fazendo com que a epilepsia seja percebida como uma doença que não
impossibilita o indivíduo de viver normalmente. Cerca de 100 mil alunos serão
impactados pela ação, o que significa um avanço em direção à desmistificação da
epilepsia e inclusão dos pacientes na sociedade.
Fonte: UCB Biopharma
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