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terça-feira, 21 de março de 2017

Síndrome do Zika Congênita ou microcefalia?



Especialista explica as diferenças e alerta para as falhas na denominação das doenças em reportagens recentes 


Diversas reportagens têm trazido belíssimas histórias em torno de jovens portadoras de microcefalia com diferentes manifestações clínicas e que atingiram a adolescência com importantes conquistas. A primeira delas é Ana Victória, de 17 anos, moradora de Manaus. A outra,  Victória, de 15 anos, de Ituberá, Bahia. Em comum, além do nome, ambas têm obtido êxito na carreira de modelo, mesmo com todas as eventuais dificuldades que têm enfrentado, com apoio de suas famílias e desde seu nascimento.

As coincidências entre as meninas são diversas. Tanto a menina de Manaus, como a da Bahia são portadoras de microcefalia primária, que é mais frequentemente causada por mutações genéticas, que podem ou não interferir no crescimento do córtex cerebral já nos primeiros meses do desenvolvimento fetal.  

Segundo o Dr. Thomaz Gollop, Professor Livre-Docente em genética médica pela Universidade de São Paulo, a microcefalia primária pode não vir acompanhada de nenhuma outra anomalia neurológica exceto, em alguns casos, déficit intelectual de intensidades variáveis, e não há anomalias esqueléticas ou de outra natureza a ela associada. 

Os quadros parecem com os relatos de ambas as mães. Ana Victória consegue se comunicar de maneira simples e seu desenvolvimento mental equivale ao de uma criança de oito anos. 

Já Victória, que foi adotada 17 dias após o nascimento, começou a andar e falar no tempo esperado para qualquer criança da mesma idade. Frequentou escolas regulares, conseguindo acompanhar as outras crianças até o quinto ano. Hoje, segue os estudos com acompanhamento especializado. 

Como é possível perceber, são casos de meninas e famílias batalhadoras, que merecem todo o nosso apoio e respeito. Histórias de superação como estas certamente servem de estímulo para muitos pais que hoje, eventualmente, encontram-se diante de situações semelhantes. 

Por outro lado, existe a microcefalia secundária. Esta ocorre por causas do meio ambiente e compromete fetos ou recém-nascidos e até adultos que originalmente são normais, explica o Dr. Thomaz. 

"São as agressões decorrentes do excesso de ingestão de álcool na gravidez (Síndrome do Álcool Fetal), agentes infecciosos, como por exemplo, as Síndromes Congênitas da Rubéola, Citomegalovírus, Toxoplasmose, Sífilis e, atualmente, a Síndrome Congênita do Zika. Esta última tem, além da microcefalia, lesão irreversível do cérebro, dilatação dos ventrículos cerebrais, calcificações intracranianas, lesões oculares e auditivas e, em alguns casos artrogripose (rigidez grave das articulações ou "juntas"). É um quadro clínico gravíssimo que vai muito além da microcefalia isoladamente e traz grave déficit intelectual e motor."


E o Zika vírus?

As meninas acima relatadas nada têm a ver com o vírus da Zika, alerta o especialista.

"Elas têm uma microcefalia primária que, como vimos, não é acompanhada de outras anomalias. Mais do que isto, é lógico que o seu quadro clínico não está relacionado ao vírus Zika até porque há 15 e 17 anos não havia epidemia por este vírus. São casos completamente diferentes entre si!"

É um equívoco muito grande associar a Síndrome Congênita do Zika à microcefalia isoladamente e até mesmo dizer que a principal consequência da infecção pelo Zika vírus na gravidez é a microcefalia, avalia o Dr. Thomaz.

"A microcefalia é, entre outras manifestações desta síndrome, um de seus sinais e não é o mais grave seguramente", afirma.  

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil teve 214 mil casos prováveis de Zika de fevereiro até 17 de dezembro de 2016, período no qual a notificação dos casos tornou-se obrigatória. Cerca de 11 mil infecções em gestantes foram comprovadas.




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