Não faz muito, Eduardo Cunha - dantes um dos atores político mais
poderosos da República - foi preso pela Política Federal, por ordem do
Juiz Sérgio Moro. A prisão, em caráter preventivo, tem prazo indeterminado,
pois a Justiça entende que Cunha pode não só representa risco à instrução do
processo e à ordem público, bem como tem possibilidade de fugir, graças a
recursos financeiros no exterior e dupla cidadania. No campo político, Cunha já
havia sido derrotado em duas ocasiões: foi afastado da Presidência da Câmara
dos Deputados por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) e, depois, teve seu
mandato de deputado cassado pelo plenário daquela Casa.
A prisão, por conta de tudo que se noticiou, até o momento, acerca da
trajetória de Cunha, era esperada, sobretudo após sua cassação pela Câmara dos
Deputados e a perda de sua condição de possuidor de foro privilegiado. Sem a
prerrogativa de foro, o processo, que tramitava no Supremo Tribunal Federal,
foi enviado a Curitiba, para o tão temido juiz de primeira instância, Sérgio
Moro.
Eduardo Cunha foi, por assim dizer, figura central na admissibilidade do
processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff, na ocasião em que
presidia a Câmara. No desenrolar frenético das ações políticas no país nos
últimos meses, tínhamos, a um só tempo, as investigações da Operação Lava Jato,
o processo de afastamento de Dilma, as manobras protelatórias de Cunha e seus aliados
para salvar seu mandato, Olimpíadas, governo interino de Temer, eleições
municipais, enfim, um turbilhão de eventos, especialmente os da seara política,
incapazes de se apresentarem de forma límpida e previsíveis. A narrativa de
Dilma e do PT, de golpe contra uma “presidenta eleita”, deu a tônica de sua
defesa, buscando, a todo custo, imprimir o processo de impeachment como uma
vingança pessoal de Cunha contra Dilma e o PT, pelo fato de que estes não
quiseram participar de um acordo para salvar Cunha de sua cassação. Sem
recorrer a maniqueísmos fáceis, quis o destino, ou, noutra acepção, a fortuna
(sorte, para Maquiavel), apresentar sua faceta mais cruel para ambos: perderam
o poder, a legitimidade, a força junto aos seus pares e, por fim, seus mandatos.
A prisão de Cunha é mais um alicerce retirado do discurso petista que as
investigações da Lava Jato são seletivas e só miram no PT.
Não bastasse essa infeliz – para Cunha e Dilma – coincidência de
perderem o mandato, há outra que assombra mais do que tudo: ter um processo
criminal nas mãos de Sérgio Moro. Cunha lutou pelo seu mandato para continuar
longe de Moro, perdeu e foi preso; Lula e muitos outros, também, querem salutar
distância de Curitiba. E o porquê disso? Simples: na presença de Sérgio Moro, a
inteligência e astúcia política cedem lugar aos fatos e temas afeitos ao
Direito, às leis – o discurso político não se coaduna, neste caso, com a lógica
jurídica. Tem sido amplamente demonstrado que as ações levadas a cabo por Moro
são muito bem constituídas e que as instâncias superiores tendem a confirmar
suas conclusões.
Esse enredo político-judicial-policial está longe de cessar. Com essa
prisão de Eduardo Cunha um primeiro capítulo se fecha parcialmente, pois, no
próximo, haverá, por certo, um julgamento. Ademais, a trama que ora assistimos
é de se lamentar, mas de se questionar: como chegamos a essa situação na vida
política nacional?
Rodrigo Augusto Prando - sociólogo e professor do Centro de Ciências
Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Nenhum comentário:
Postar um comentário