No
início do mês de junho, o Brasil assistiu perplexo a uma perseguição policial,
que não seria muito diferente de tantas outras, se os protagonistas não fossem
duas crianças, uma com 10 e outra com 11 anos de idade.
Após
invadirem um condomínio fechado e furtarem um veículo, foram perseguidos por
policiais militares na região do Morumbi na capital paulista, sendo que durante
a perseguição os menores perderam o controle do veículo e colidiram com um
ônibus e, após troca de tiros com a polícia um dos menores, ítalo, foi baleado
fatalmente.
Os
dois meninos, segundo registros policiais, apesar da pouca idade, já ostentavam
diversos registros em ocorrências como roubos, furtos e ameaças. Os pais do
menino morto também têm condenações judicias. A mãe de Ítalo já cumpriu pena
por diversos crimes entre eles furto e roubo, já o pai encontra-se preso por
tráfico.
Cotidianamente
vemos a crescente violência na capital e no interior paulista, muitas vezes
protagonizada por menores, adolescentes e crianças, que estampam as páginas dos
jornais, ou as manchetes dos grandes noticiários. Diante disso nos perguntamos:
onde está o problema?
Ouço
muitas pessoas se referirem a esses menores como "sementes do mal",
como pessoas que já nascem "bandidos", e como consequência, clamam
pela redução da maioridade penal! Bom, se pensam assim, provavelmente, seja
pelo fato de não se incluírem no problema, como parte da sociedade, mas apenas se
incluem como vítima.
Contudo,
imaginem esses menores sob outro prisma, crianças nascidas em um ambiente
hostil, com mínimas oportunidades, cercados e sofrendo violência, por vezes, de
pessoas que deveriam lhe proteger, mas não o fazem. E assim crescem sem um
apoio familiar, sem o mínimo e devido suporte que o Estado (esse corrompido,
sujo, falido...) deveria prover! Então apenas pensem, poderia ser eu, você, ou
outras pessoas que você ama.
Longe
de dizer que os mesmos menores não devem ser punidos pelos seus atos, ao
contrário, faz-se extremamente necessário existir uma forma de demonstrar que
essas ações praticadas por eles, mais ou menos graves, devem ser coibidas e
punidas.
No
entanto, não podemos esquecer que essas crianças precisam da oportunidade de
serem socializados para que possamos posteriormente, cobrá-los por seus atos, e
então tentarmos reeducá-los.
Vamos
apenas refletir... Depois de corrompidos por esse sistema injusto, hostil, sem
valores algum, esses menores surgem para a sociedade apenas como menores
infratores, mas antes disso, a sociedade nunca os enxergou.
Fernando
Tadeu Marques - professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em Campinas nas
disciplinas Direito Penal e Direito Processual Penal. Mestre em Direito Penal. O
especialista está disponível para entrevistas.
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