Especialista do Instituto de Neurologia do Hospital Santa Paula dá
dicas para melhorar a qualidade de vida dos pacientes
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 90% da
população mundial sofre de cefaleia, nome científico da dor de cabeça. A entidade
escolheu o dia 19 de maio para alertar as pessoas sobre a importância do
tratamento de um problema que é a causa mais comum da busca de atendimento nos
consultórios e ambulatórios de neurologia.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia, cerca de 70% das
mulheres e 50% dos homens apresentam pelo menos um episódio de cefaleia ao mês.
A enxaqueca ocorre em até 20% das mulheres. Um total de 13 milhões de
brasileiros apresenta dor de
cabeça pelo menos 15 dias por mês, o que chamamos de
cefaleia crônica diária.
“São números alarmantes. Geralmente, a cefaleia se torna
crônica, ou seja, se inicia com dores menos frequentes, consideradas ‘normais’,
e com o aumento das crises e o uso excessivo de analgésicos se transforma em
uma cefaleia quase diária”, afirma o neurologista do Instituto de Neurologia do
Hospital Santa Paula João Roberto Sala Domingues, especializado em dor de
cabeça.
Segundo o neurologista, existem mais de 150 tipos descritos
de cefaleia dividida em dois grupos: cefaleia primária e cefaleia secundária.
Cefaleia primária: é quando a
própria dor de cabeça é a doença a ser tratada e não há nenhum problema
estrutural, como tumores, anomalias ósseas ou anatômicas provocando a dor de
cabeça. Exemplos deste caso são a cefaleia tensional e a enxaqueca.
A cefaleia primária é a mais comum e pode evoluir com a
piora da frequência e intensidade das crises, transformando-se em cefaleia
crônica diária. Essa está relacionada ao uso excessivo de analgésicos orais em
decorrência da desinformação dos pacientes e da automedicação. De 3 a 5% da
população mundial adulta sofre de cefaleia crônica diária, o suficiente para
causar algum tipo de incapacidade para realizar tarefas do dia a dia. A enxaqueca
é um subtipo de cefaleia crônica diária. Ela pode ser tratada e
controlada, mas não tem cura, ao contrário de outros tipos de cefaleia.
Um estudo epidemiológico sobre enxaqueca realizado pela
Sociedade Brasileira de Cefaleia fez uma pesquisa com mais de 3800 pessoas e revelou
que 15,2% da população brasileira sofrem de enxaqueca, 13% de cefaleia
tensional (ligada a tensão muscular) e 6,9% de cefaleia crônica diária.
Cefaleia secundária: é quando há
uma causa a ser descoberta e tratada especificamente. Neste caso, a dor está
relacionada a outras causas, como sinusite, tumores, aneurismas, meningite,
etc.
Quando a dor de cabeça pode ser sintoma de algo mais grave,
esses sinais de alerta recebem o nome de red flags. Os mais comuns são início
súbito da dor, forte intensidade, uma dor progressiva ou que não melhora,
alteração no padrão da dor, dor associada à febre e rigidez da nuca ou fraqueza
de alguma parte, dor após traumatismo craniano ou após esforço físico e início
da dor após os 50 anos. Na presença de qualquer um destes sintomas é importante
procurar um médico.
Entendendo a origem da dor
De acordo com o especialista, diversos fatores podem
desencadear uma crise, entre eles aspectos emocionais e estresse, variações
bruscas de temperatura e umidade do ar, menstruação e outros fatores hormonais.
Em alguns casos a dor também pode começar com o consumo de queijos amarelos,
frutas cítricas, banana, linguiças, frituras, chocolate, café, chá,
refrigerantes a base de cola, vinhos e cervejas.
Quem sofre de dor de cabeça diária pode ainda estar sentindo
na pele os efeitos colaterais de outros medicamentos em tratamentos de uso
contínuo ou até mesmo o uso excessivo de analgésicos que pode, inclusive, ser a
causa da dor.
Além disso, alguns tipos de cefaleia são mais comuns em
mulheres, principalmente pelas oscilações hormonais (estrógeno). A principal
delas é a enxaqueca, três vezes mais comum do que em homens. Após a menopausa,
quando não há mais uma oscilação hormonal tão importante, a proporção em
mulheres e homens tende a se igualar. Já nos homens são mais comuns as
cefaleias em salvas, a mais intensa descrita pela medicina. Trata-se de um tipo
de dor de cabeça onde a dor é localizada somente numa parte da cabeça.
Como tratar?
Segundo Dr. Domingues, para cada tipo de cefaleia há um
tratamento, que pode ser desde alteração de hábitos e vícios, terapias
farmacológicas (analgésicos, antidepressivos, anti-hipertensivos e até
anticonvulsivantes) terapia não farmacológica (mudança de hábitos e vícios) e o
tratamento da causa para cefaleia secundária (cirurgia, antibióticos e
anticoagulantes).
Alguns tipos exigem um tratamento mais duradouro, mas a
maioria prevê um tratamento mais pontual. É importante ressaltar que o uso
indiscriminado de analgésicos pode mascarar alguns tipos de dores e atrasar o
diagnóstico correto.
No caso de enxaqueca crônica refratária é liberado o uso
terapêutico da toxina botulínica do tipo A. A cada sessão a substância é
injetada em até 39 pontos da cabeça e do pescoço do paciente, em aplicações a
cada 90 a 120 dias, por um ano, com melhora terapêutica observada mais
frequentemente após a terceira sessão de aplicação.
Veja abaixo algumas dicas do Dr. João Roberto
Sala Domingues:
- Dor de cabeça também pode ser fome. Ficar muito tempo em
jejum pode levar à queda de açúcar no sangue (hipoglicemia), que é um dos
principais desencadeadores da enxaqueca. Em algumas situações de jejum também
nos deparamos com a abstinência de outras substâncias, como a cafeína, que
também pode desencadear na cefaleia.
- Problemas oftalmológicos como a hipermetropia, miopia e
astigmatismo podem causar dor de cabeça. Nesses casos, o paciente relata
acordar bem, mas durante ou no final do dia começam as dores. A este tipo de
queixa damos o nome de astenopia. Uveítes (doença inflamatória nos olhos) e
glaucoma agudo também podem provocar essas dores de cabeça.
- Durante a crise sempre tenha o medicamento indicado pelo
médico por perto. Em caso de dor intensa, procure um local fresco e escuro para
recostar. Beba muita água, coma moderadamente e mantenha-se em repouso. Colocar
gelo sobre as áreas doloridas também pode minimizar a dor.
- A herança genética também tem a sua importância, mas o que
mais tem sido considerado ultimamente é a qualidade de vida do paciente. Um
indivíduo que come mal, fuma, bebe, não faz exercícios físicos regularmente e
não tem um sono reparador terá uma maior chance de desenvolver ou agravar uma
cefaleia já pré-existente.
- A cafeína potencializa os efeitos de outros analgésicos e
tem sido usada como auxiliar no tratamento da cefaleia, principalmente na
enxaqueca e na cefaleia do tipo tensional, inclusive por abstinência da própria
cafeína. Porém o uso abusivo ou em indivíduos sensíveis a esta substância, a
cafeína pode precipitar alguns tipos de cefaleia, principalmente a chamada
cefaleia em salvas que, como foi falado anteriormente, é a mais intensa de
todas.
Dez alimentos e bebidas que devem ser evitados
Na maioria das vezes, os alimentos podem engatilhar a dor de
cabeça. O Ministério da Saúde listou o que deve ser evitado para quem tem
tendência à cefaleia:
- Queijos amarelos envelhecidos;
- Frutas cítricas (laranja, limão, abacaxi e pêssego);
- Banana (principalmente banana d’água);
- Linguiças;
- Frituras e gorduras;
- Salsicha e alimentos com coloração avermelhada em
conserva;
- Chocolates;
- Café, chá e refrigerantes a base de coca;
- Vinhos;
- Cervejas
“A ideia de normalidade atribuída à cefaleia é perigosa,
atrasa o diagnóstico e um tratamento adequado, podendo ainda levar à
automedicação, grave problema cultural em nosso país. Escute seu corpo. A dor é
o meio que ele tem de chamar sua atenção de que algo não vai bem”, conclui o
especialista.
Hospital Santa Paula
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