No Paraná, tem-se constatado de maneira
contínua os efeitos desses eventos hídricos. Entre os anos de 1991 e 2010, as
inundações bruscas representaram a segunda maior causa de desastres no estado
(388 casos registrados atingindo 299 municípios), e os registros demonstram
que, ano a ano, esses eventos têm ocorrido com maior intensidade e magnitude.
Em 2011, os eventos ocorridos no Litoral do Paraná, denominados “Águas de
Março”, nos quais, em um curto período e chuvas concentradas, que corresponderam
ao dobro da média histórica para o mês, ocasionaram danos e prejuízos nos
municípios de Morretes, Antonina, Paranaguá e Guaratuba da ordem de R$ 210
milhões. No ano seguinte, os eventos não foram tão pontuais como os ocorridos
no litoral, mas ocorreram em diversos municípios do estado e superaram em 16
vezes os recursos gastos em 2011 para reconstrução e recuperação.
Em junho de 2014, muitas cidades do Paraná
passaram concomitantemente por enchentes, inundações e alagamentos. Em União da
Vitória, o rio atingiu 8m de profundidade, sendo que seu nível normal é próximo
de 2,5m. Os prejuízos foram estimados em R$ 1 bilhão, sendo decretado estado de
calamidade pública. Nesse mesmo período, outros 163 municípios foram atingidos
pelas chuvas e, destes, 147 decretaram situação de emergência. Esses históricos
têm se repetido e intensificado a cada ano, seja pela influência das mudanças
climáticas ou outros fenômenos desencadeados pela maneira com que se faz a
ocupação do solo, bem como, pela maneira com que o espaço urbano se produz, com
desmatamentos, sistemas de drenagens ineficientes e grandes áreas
impermeabilizadas.
Iniciamos 2016 com problemas conhecidos desses
meses mais chuvosos: alagamentos, inundações, quedas de barreiras, comunidades
isoladas, entre outros. Apesar de não se ter controle sobre as precipitações
hídricas, segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira, a cada R$
1,00 que poderia ser gasto em prevenções a desastres no Brasil, o Poder
Executivo gasta R$ 37,00 para a recuperação e reconstrução dos mesmos. A grande
questão é: “Por que, no
Brasil, insiste-se em atuar mais na resposta aos eventos, se o valor de
reconstrução e/ou reparação após um desastre acaba custando muito mais que a
prevenção e a mitigação dos danos dos mesmos”? Não investir na
redução de risco de desastres no período de normalidade, bem como em prevenção
e mitigação de danos, faz com que os problemas ocasionados por eventos de
origem natural, como inundações e alagamentos, se tornem crônicos e aumente a
magnitude dos prejuízos econômicos e socioambientais.
Patrícia Sottoriva -
professora de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Gestão
Ambiental da Universidade Positivo
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