Palestrante
do LACC3 aposta na inserção dos pseudocereais no hábito de consumo dos
brasileiros
Sementes
que podem ser usadas na alimentação e com alto índice nutritivo ainda são
exploradas pelas indústrias alimentícias brasileiras de forma tímida e ainda
pouco conhecidas pela maioria da população. Os pseudocereais – amaranto, quinoa
e farinha de sarraceno – são ricas em vitamina E e reduzem o colesterol no
organismo, mas ainda são pouco usados na culinária brasileira. “O objetivo da
palestra é apresentar a composição, processamento e produtos que podem ser
desenvolvidos utilizando os pseudocereais. E, considerando o fato que estes
grãos são pouco conhecidos no Brasil, o objetivo é considerar que estes cereais
têm para a nutrição para a saúde humana e a possibilidade de utilização na
nossa alimentação. Tanto a quinoa como o amaranto já são pesquisados no Brasil
há mais de 30 anos e estão no nosso mercado há 10 anos, mais ou menos. Mesmo
assim, ainda são pouco consumidos e conhecidos pelos brasileiros. Um dos
motivos é o custo. Como a gente tem uma pequena gama de produtos disponíveis no
mercado e o que está disponível são estes pseudocereais na forma de grãos, ou
de farinha integral, ou de flocos, é uma variação muito limitada”, aponta
Vanessa Dias Capriles, pesquisadora da Unifesp, uma das palestrantes do LACC3.
Vanessa
explicou que há várias possibilidades de utilizar estes grãos no dia a dia de
forma semelhante ao trigo, arroz, milho, já que os pseudocereais podem ser
processados de várias formas para a obtenção de nutrientes. Segundo ela, dá
para fazer pipoca, usá-los inflados, em forma de flocos, com aromas diferentes,
adicionar outros ingredientes, na formulação de granola, em barra de cereais,
biscoitos, bolos e pães. “Já fizemos pão sem utilizar a farinha de trigo. Se
comprar amaranto em grãos no mercado, dá para moer no liquidificador – não
precisa de um processo tecnológico sofisticado. Dá para usar para fazer pães,
bolos, panquecas, massas. As possibilidades são muitas. É só substituir 1/3 da
farinha de trigo que seria usada nestas produções. Fica um produto gostoso que
as pessoas podem incorporar no dia a dia normalmente”, explica ela, lembrando
que os três cereais têm um grande potencial para a saúde, com fibras e
minerais. As novidades, no entanto, não param por aí: Outra novidade que já
está bastante difundida em outros países da América Latina – principalmente
Bolívia e México - são as bebidas fermentadas à base destes grãos. A cerveja
sem glúten é uma das opções para os celíacos.
“Esta
oferta é que limita a procura do produto no Brasil, apesar de hoje o consumidor
estar muito interessado em nutrição, em saúde e bem-estar. Por isso que eles
estão no mercado, mesmo que de uma forma muito tímida. A gente vê que a
indústria já está incorporando estes grãos na formulação de alguns alimentos.
Já encontramos pães com amaranto, quinoa, granola e alguns outros produtos, mas
a quantidade que estes pseudocereais são utilizados ainda é muito baixa, aponta
a especialista. Segundo ela, a situação do trigo sarraceno ainda é mais
dramática porque ele já é cultivado no Brasil há mais de 80 anos e é muito
difícil encontrar este produto no mercado nacional. Em alguns mercados da
região sul até se encontra na produção da agricultura familiar porque faz parte
da alimentação de alguns imigrantes poloneses, ucranianos, russos que usam na
culinária tradicional, mas é rara a comercialização em supermercados. “E,
infelizmente, ainda são caros. Isso ocorre porque ainda não tem uma grande
demanda. Se é caro, uma coisa fica presa a outra. Por isso destaco a
importância do desenvolvimento de ações tanto na pesquisa quanto no
desenvolvimento envolvendo toda a cadeia produtiva para aumentar a quantidade
destes grãos ou entender melhor como processá-los, como adaptarmos ao hábito de
consumo dos brasileiros, e este maior desenvolvimento de produtos para que eles
fiquem com o custo mais acessível e, de fato, possam ser consumidos pela
população. Hoje o consumo fica restrito à população de melhor poder aquisitivo,
ou seja, à população de fato”, pondera.
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