Imperfeição
é comum e incomoda, mas tem tratamento
O
astigmatismo é uma condição muito comum, que pode estar presente ao mesmo tempo
que alguns erros de refração, como a miopia e o astigmatismo. O que muita gente
não sabe é que o problema pode surgir desde a infância, principalmente em
crianças que coçam vigorosamente os olhos – geralmente, resultado de alguma
alergia preexistente. Nesses casos, é importante que os pais perguntem à
criança se ela também sente dificuldade para enxergar, com visão borrada ou
distorcida, e se tem dores de cabeça – procurando um médico oftalmologista o
quanto antes para diagnosticar e tratar o problema.
“O
astigmatismo é uma imperfeição no formato da curvatura da córnea, que é a lente
abaulada e transparente que protege a íris (parte colorida do olho), a pupila,
e ainda permite a entrada de luz para a formação das imagens. Enquanto uma
córnea normal é arredondada por igual, permitindo focar todos os raios de luz
na retina (ao fundo do olho) e formar imagens nítidas, uma córnea imperfeita
não deixará a luz entrar homogeneamente, resultando em distorções e borrões na
imagem final. No caso das crianças e adolescentes que coçam demais os olhos,
impondo força nas pálpebras, a córnea pode vir a sofrer alterações no formato.
Por isso é fundamental a supervisão de um adulto que identifique o risco e faça
todo o possível para interromper essa prática”, diz o oftalmologista Renato
Neves, diretor-presidente do Eye Care
Hospital de Olhos, em São Paulo.
Neves
explica que, geralmente, o astigmatismo é hereditário e costuma estar presente
nos casos de miopia (dificuldade para enxergar ao longe) e hipermetropia
(dificuldade para enxergar de perto). Mas também é muito comum surgir logo após
um acidente ou uma bolada forte nos olhos. Em casos graves de pacientes que
sofrem de dermatite, rinite, asma brônquica e febre do feno (reação alérgica ao
pólen das plantas), a alteração no formato da córnea pode resultar em
ceratocone – com baixa acentuada da acuidade visual.
“O
tratamento do astigmatismo consiste, primeiramente, em detectar que parte da
curvatura da córnea está causando problemas de visão e seguir com um tratamento
personalizado. Isso inclui desde o uso de lentes corretivas até cirurgia
refrativa. No caso das lentes, podem ser prescritos óculos que vão promover uma
compensação na imagem e também podem corrigir miopia e hipermetropia. Esse
tratamento é indicado principalmente para crianças que ainda não têm maturidade
suficiente para manusear lentes de contato. Quanto às lentes, hoje existe
grande variedade para corrigir o problema: rígidas, gelatinosas, de uso
prolongado, descartáveis, permeáveis e bifocais. Vale a pena conhecer os prós e
contras antes de fazer uma escolha. Mas o tratamento que corrige mesmo o
formato da córnea é a cirurgia
refrativa a laser”, diz o especialista.
De
acordo com o médico, o uso do laser Excimer, que é composto dos gases argônio e
fluoreto, permite esculpir a curvatura da córnea, eliminando o problema. “Ao
programar a cirurgia por computador, um feixe de luz ultravioleta (invisível e
sem calor) retira camadas de tecidos com muita precisão. Para se ter uma ideia,
esse laser pode esculpir um fio de cabelo mantendo intactas a área ao redor. A
partir do momento em que o paciente volta a ter uma córnea abaulada por igual,
sua visão volta a ficar nítida”.
Quanto ao ceratocone, que
pode ser confundido com um grau elevado de astigmatismo, a técnica crosslinking
(reticulação do colágeno corneano) vem apresentando importantes resultados na
estabilização da doença. “O uso da luz ultravioleta, associado a um agente
fotossensibilizante (riboflavina), é determinante para a indução da reticulação
do colágeno corneano, técnica capaz de enrijecer a córnea, promovendo um
tratamento mais conservador do ceratocone. Os resultados costumam ser
observados num intervalo de 90 dias. Trata-se de um procedimento efetivo e de
baixo custo, se comparado ao recurso cirúrgico – necessário em casos avançados. O procedimento não só
endurece a parte anterior da córnea e estabiliza o ceratocone, como em alguns
casos proporciona melhor visão”, diz Neves.
Prof. Dr. Renato Augusto Neves -
médico oftalmologista, diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos,
em São Paulo, e autor do livro “Seus Olhos”
(Editora CLA). www.eyecare.com.br
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