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quarta-feira, 16 de maio de 2018

Mitos do Transtorno de Borderline


Dr. Diego Tavares, psiquiatra do Hospital das Clínicas de SP explica que algumas doenças psiquiátricas são tão mal compreendidas que com o tempo vão perdendo o sentido original e incorporando características que não são e nunca fizeram parte delas. “Hoje em dia o transtorno borderline de personalidade (TPB) tem sofrido uma ampliação tamanha a ponto de transtorno bipolar clássico (tipo I), esquizofrenia, TOC e até transtornos ansiosos estarem sendo chamados de transtorno borderline por conta da falha na formação adequada de psiquiatras e psicólogos”, fala o médico.


Afinal, qual a verdade sobre o problema? 

1) A principal e definidora característica de um indivíduo com personalidade do tipo borderline é um problema no vínculo com as outras pessoas. “São indivíduos que lançam mão de esforços desesperados para evitar o abandono real ou imaginado. Qualquer fim ou separação (namoro, casamento, amizade, emprego) pode deflagrar uma crise em que a pessoa interpreta o afastamento como sinal de rejeição”, explica Dr Diego.

2) Um padrão de relacionamentos instáveis caracterizados pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização, que é o típico “tudo ou nada”, “amo ou odeio”. O outro tem que ser perfeito e se errar, passa a ser depreciado. Assim, ao recusar um pedido o “melhor psiquiatra do mundo” se transforma em “lixo”. Também é comum a pessoa ficar íntima rapidamente de alguém, alimentar um monte de expectativas e, logo depois, cair em frustração e passar a odiar o outro. 

“Estas são as duas principais e ESSENCIAIS características para um diagnóstico deste transtorno. Todos os outros sintomas (alterações de humor, aumento de impulsividade, ideias de suicídio, automutilação, etc) são secundários a uma situação que envolva um relacionamento interpessoal problemático que tenha envolvido o medo do abandono e de se sentir rejeitado. Além disso, pra ser um TPB estes sintomas ocorrem desde o início da adolescência até a idade adulta”, fala o psiquiatra. 

Dr Diego comenta que mesmo que um paciente comece a apresentar problemas de relacionamento relacionados ao medo do abandono, se for APENAS durante um período de depressão, por exemplo, e não durante a vida toda, NÃO é transtorno de personalidade.  Esse é o problema mais grave que vemos nos dias de hoje, avaliar uma pessoa no momento o presente e por conta de sintomas “típicos de alteração emocional do borderline” fechar este diagnóstico. O transtorno de personalidade é crônico e relacionado ao amadurecimento da personalidade. Não são sintomas que ocorrem exclusivamente em um momento da vida. 


O que muita gente chama de TPB, mas não é:

1) Mudanças constantes de humor;

2) Alteração de humor marcada por raiva, ódio e rancor;

3) Automutilação em pessoas deprimidas;

4) Pessoas extremamente impulsivas;

5) Tentativas de suicídio constantes;

6) Pessoa com transtorno de humor que sofreu abuso sexual ou bullying na infância; 

7) Baixa tolerância à frustração e imaturidade;

8) Pessoa irônica, provocativa e manipuladora que causa uma sensação ruim no terapeuta ou no médico. 

“O grande problema que tenho visto para um excesso de diagnósticos de TPB é que muitas vezes se utilizam sintomas isolados para o diagnóstico, isso é, alterações de humor mais rápidas (no mesmo dia) ou mistas (com disforia, raiva e agressividade) que até podem ocorrer em um portador de TPB são usados como critério essencial e apenas a presença deles leva ao diagnóstico, sem uma devida avaliação da personalidade ao longo da vida. Outro erro comum é achar que todo adolescente que se mutila é borderline, sendo que este sintoma ocorre muito em alguns transtornos de humor”, finaliza o médico.








FONTE: Dr. Diego Tavares - Graduado em medicina pela Faculdade de Medicina de Botucatu - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (FMB-UNESP) em 2010 e residência médica em Psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) em 2013. Psiquiatra Pesquisador do Programa de Transtornos Afetivos (GRUDA) e do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação e Estimulação Magnética Transcraniana (SIN-EMT) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) e coordenador do Ambulatório do Programa de Transtornos Afetivos do ABC (PRTOAB). https://drdiegotavarespsiquiatra.com/

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