Dr. Diego Tavares, psiquiatra do
Hospital das Clínicas de SP explica que algumas doenças psiquiátricas são tão mal
compreendidas que com o tempo vão perdendo o sentido original e incorporando
características que não são e nunca fizeram parte delas. “Hoje em dia o
transtorno borderline de personalidade (TPB) tem sofrido uma ampliação tamanha
a ponto de transtorno bipolar clássico (tipo I), esquizofrenia, TOC e até
transtornos ansiosos estarem sendo chamados de transtorno borderline por conta
da falha na formação adequada de psiquiatras e psicólogos”, fala o médico.
Afinal, qual a verdade sobre o
problema?
1) A principal e definidora
característica de um indivíduo com personalidade do tipo borderline é um
problema no vínculo com as outras pessoas. “São indivíduos que lançam mão de
esforços desesperados para evitar o abandono real ou imaginado. Qualquer fim ou
separação (namoro, casamento, amizade, emprego) pode deflagrar uma crise em que
a pessoa interpreta o afastamento como sinal de rejeição”, explica Dr Diego.
2) Um padrão de relacionamentos
instáveis caracterizados pela alternância entre extremos de idealização e
desvalorização, que é o típico “tudo ou nada”, “amo ou odeio”. O outro tem que
ser perfeito e se errar, passa a ser depreciado. Assim, ao recusar um pedido o
“melhor psiquiatra do mundo” se transforma em “lixo”. Também é comum a pessoa
ficar íntima rapidamente de alguém, alimentar um monte de expectativas e, logo
depois, cair em frustração e passar a odiar o outro.
“Estas são as duas principais e ESSENCIAIS
características para um diagnóstico deste transtorno. Todos os outros sintomas
(alterações de humor, aumento de impulsividade, ideias de suicídio,
automutilação, etc) são secundários a uma situação que envolva um
relacionamento interpessoal problemático que tenha envolvido o medo do abandono
e de se sentir rejeitado. Além disso, pra ser um TPB estes sintomas ocorrem
desde o início da adolescência até a idade adulta”, fala o psiquiatra.
Dr Diego comenta que mesmo que um
paciente comece a apresentar problemas de relacionamento relacionados ao medo
do abandono, se for APENAS durante um período de depressão, por exemplo, e não
durante a vida toda, NÃO é transtorno de personalidade. Esse é o problema
mais grave que vemos nos dias de hoje, avaliar uma pessoa no momento o presente
e por conta de sintomas “típicos de alteração emocional do borderline” fechar
este diagnóstico. O transtorno de personalidade é crônico e relacionado ao
amadurecimento da personalidade. Não são sintomas que ocorrem exclusivamente em
um momento da vida.
O que muita gente chama de TPB, mas
não é:
1) Mudanças constantes de humor;
2) Alteração de humor marcada por
raiva, ódio e rancor;
3) Automutilação em pessoas
deprimidas;
4) Pessoas extremamente impulsivas;
5) Tentativas de suicídio constantes;
6) Pessoa com transtorno de humor que
sofreu abuso sexual ou bullying na infância;
7) Baixa tolerância à frustração e
imaturidade;
8) Pessoa irônica, provocativa e
manipuladora que causa uma sensação ruim no terapeuta ou no médico.
“O grande problema que tenho visto
para um excesso de diagnósticos de TPB é que muitas vezes se utilizam sintomas
isolados para o diagnóstico, isso é, alterações de humor mais rápidas (no mesmo
dia) ou mistas (com disforia, raiva e agressividade) que até podem ocorrer em
um portador de TPB são usados como critério essencial e apenas a presença deles
leva ao diagnóstico, sem uma devida avaliação da personalidade ao longo da
vida. Outro erro comum é achar que todo adolescente que se mutila é borderline,
sendo que este sintoma ocorre muito em alguns transtornos de humor”, finaliza o
médico.
FONTE: Dr. Diego Tavares - Graduado em medicina pela Faculdade de
Medicina de Botucatu - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(FMB-UNESP) em 2010 e residência médica em Psiquiatria pelo Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (IPQ-HC-FMUSP) em 2013. Psiquiatra Pesquisador do Programa de
Transtornos Afetivos (GRUDA) e do Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação e
Estimulação Magnética Transcraniana (SIN-EMT) do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
(IPQ-HC-FMUSP) e coordenador do Ambulatório do Programa de Transtornos Afetivos
do ABC (PRTOAB). https://drdiegotavarespsiquiatra.com/
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