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quarta-feira, 22 de março de 2017

Um blefe no caminho da residência médica



  Há cursos de pós-graduação passando a falsa sensação de especialização já que não concedem Título de Especialista aos médicos 
 

A presença de novos cursos de pós-graduação em especialidades médicas pode começar a alterar a percepção dos pacientes em relação aos profissionais responsáveis pelo atendimento. Embora esses cursos ofereçam diplomas e certificados, os pós-graduados não podem se dizer especialistas em determinada área.

Conforme explica o vice-presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), Akira Ishida, só há dois caminhos para o médico receber um Título de Especialista reconhecido pela Comissão Mista de Especialidades - formada pela Associação Médica Brasileira, Conselho Federal de Medicina e Comissão Nacional de Residência Médica: cursar uma residência ou realizar a prova da sociedade correspondente, após comprovar determinado número de anos de experiência na especialidade. Um bom profissional, por vezes, possui os dois.

“Esses exames têm uma série de critérios, definidos pelo Conselho Científico da Associação Médica Brasileira (AMB), do qual participam os representantes das sociedades de especialidades. A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot), por exemplo, realiza três dias de prova (com fases oral, escrita e de habilidades) e exige que o postulante tenha um trabalho científico, que só pode ser realizado se ele tiver passagem por um serviço de especialização credenciado e reconhecido”, exemplifica Ishida.

Entretanto, instituições como o Instituto Brasileiro de Ciências Médicas (IBCMED) e o Grupo Educacional Facinepe (Faculdade Centro Sul do Paraná) oferecem cursos de pós-graduação lato sensu, em nível de especialização, reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC), mas que diferem essencialmente dos Programas de Residência Médica, estabelecidos como padrão ouro do ensino.

Para o presidente da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Gilmar Fernandes do Prado, é extremamente importante que o usuário final da Saúde conheça esses meandros. “Infelizmente, não trabalhamos este tópico ao longo dos anos e a população ficou desinformada sobre o que configura um especialista. Cometemos, às vezes, confusões primárias como chamar um médico apenas graduado de clínico geral – quando, na verdade, o clínico geral é um especialista que precisa fazer três anos de Residência Médica”, pontua.

Questionado sobre a autorização de cursos desta natureza, visto a
particularidade da especialização médica após a faculdade, o MEC afirma que os oferecidos por instituições de ensino devidamente credenciadas independem da autorização, reconhecimento e renovação de reconhecimento. “Em outras palavras,
não compete ao MEC autorizar esses cursos, sendo prerrogativa de cada
instituição de ensino sua oferta. Escapam também às competências do Ministério questões relativas ao exercício profissional, sobretudo das profissões
regulamentadas por lei, como a Medicina”, segue a nota.


Conteúdo insuficiente
Paulo César Giraldo, presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), vê nestes cursos de pós-graduação um erro de terminologia: não são nem isso e nem residências. “Essa formação não dará condição de o médico se qualificar como especialista. A residência tem regulamentação de requisitos mínimos para carga horária e número de procedimentos realizados. Temos dúvidas que esses cursos atenderão”, diz.

Giraldo afirma, ainda, que tanto a Sogesp quanto a Federação Brasileira das
Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) não veem essas
pós-graduações com bons olhos. E explica: “Residências Médicas dão títulos de especialistas. O título da Febrasgo só pode ser requisitado por meio de prova,
em que apenas médicos que fizeram residências podem se inscrever.
Quem se forma nesses cursos não poderá utilizar a pós para se especializar
via sociedade, pois estão totalmente abaixo do mínimo requisitado”.

Gilmar Prado relata que em Neurologia, cursos como estes demandam do estudante cerca de R$ 120 mil em dois ou três anos, com 600 horas de carga – menos de um terço de um ano de Residência Médica, na qual o mínimo de horas é de 2880, entre o programa de treinamento em serviço e atividades teórico-complementares. “Com esse dinheiro, o indivíduo poderia ir a congressos pelo mundo, treinar em hospitais fora do Brasil, investir melhor na própria educação. Estes cursos acabam prestando um desserviço à população e ao próprio colega.”

O presidente da ABN não é contra a propagação do conhecimento. Pelo contrário, acredita que cursos, ainda que teóricos, tenham de estar disponíveis, mas não com o intuito de fazer o indivíduo se perceber especialista. “Ele pode ser enganado para vivenciar essa percepção, mas não é. Um clínico que queira fazer um curso em Neurologia para ampliar o conhecimento na área tem o direito de estudar, mas não sairá de lá como um especialista, mas apenas como um clínico que estudou um pouco mais sobre determinada área.”

O ensino à distância é outro ponto que causa preocupação. Akira Ishida acredita
ser fácil ensinar Medicina a partir de estatísticas e dados estabelecidos.
“É fácil explicar a um aluno que um determinado caso, com variantes diversas,
tem um tratamento indicado porque os dados de resolução apontam. O difícil é
fazer o médico saber quais são os motivos que fazem esse tratamento ser
o mais indicado para este caso e não o outro. Fazer o profissional adquirir,
de fato, conhecimento, saber os porquês”, argumenta.


Padrão ouro
Um dos grandes diferenciais das Residências Médicas é o conteúdo apresentado
de forma lógica ao médico ao longo dos anos. Segundo o vice-presidente da
APM, é lá que o profissional irá aprender a ser hábil – tanto no conhecimento
teórico quanto no prático. Também importante: com os preceptores adequados,
ele irá aprender a base da especialidade e a atitude, parte relevante da Medicina.
Vai entender como se portar diante de um quadro clínico e do paciente que atende.
Por isso, ele considera que as pós-graduações não são nem um primeiro degrau
para o indivíduo galgar a sua especialização.

O verdadeiro treinamento médico é realizado juntamente com um profissional de reconhecida qualificação técnica e ética, entende Gilmar Prado. “E atuando na prática, executando atividades necessárias para que o residente incorpore habilidades, atitudes e conhecimentos que envolvam a especialidade. Isso é o trabalho de formação. É longo e árduo. Portanto, cursos que não se desenvolvam dessa maneira são absolutamente impróprios”, completa.

A Residência Médica tem, no mínimo, 2880 horas anuais – com um mês de férias. Alguns programas precisam de cinco anos de formação – como a Neurocirurgia, a Cirurgia Plástica e a Urologia. A Neurologia passará, em breve, de três para quatro anos. Para o presidente da ABN, a carga horária atual não é suficiente para que se ensine todas as habilidades e conhecimentos necessários – o residente tem de passar por todos estágios, enfermarias, Unidade de Terapia Intensiva, pacientes com doenças específicas, treinamento em clínica médica etc. Por isso, se surpreende que cursos pretendam fazê-lo em ainda menos tempo.

Segundo ele, alguns médicos que se formam nestes cursos de pós-graduação estão tentando via mecanismos legais se inscrever e fazer a prova de Título de Especialista junto às sociedades de especialidades. “Isso não é possível. Para tanto, o postulante deveria ter feito uma Residência Médica. Ou pelo menos um estágio ou curso de especialização com a mesma carga horária de uma e com o mesmo modelo. Indivíduos chegam com 200 horas de treinamento querendo ser titulados e não admitimos isso, até pelas próprias regras nas quais se baseia o Título de Especialista.”




Apenas 13% dos brasileiros são favoráveis ao aborto, mostra pesquisa Ipsos



Brasil está em penúltimo lugar entre os 24 países participantes do estudo sobre apoio ao direito à interrupção de gravidez


Estudo da Ipsos, realizado em 24 países, mostra que somente 13% dos brasileiros apoiam o aborto quando a mulher assim desejar. O número coloca o país em penúltimo lugar entre os países pesquisados, atrás apenas do Peru, repetindo a mesma posição de 2016.

O resultado de 2017 demonstrou uma queda de três pontos percentuais em relação ao ano passado (16%), e inverteu a tendência dos dois últimos anos, quando os índices brasileiros de apoio ao aborto vinham aumentando.

"No Brasil, o aborto cada vez mais tem sido tratado como uma discussão moral e não como uma questão de saúde pública, de democracia e de direitos da mulher, como deveria ser. Além disso, o crescimento recente da bancada religiosa na política contribui para que temas como o aborto deixem de ser discutidos com a população e fiquem fora das pautas do governo"”, afirma Narayana Andraus, gerente da Ipsos.

O Brasil diverge da opinião mundial, já que na consolidação dos dados de todos os países analisados 43% dos entrevistados concordam que a mulher tem o direito de abortar quando quiser.

Os países europeus lideram o ranking de favorabilidade ao aborto, sendo a Suécia a primeira colocada com 77%, seguida pela Hungria com 67% e França, na terceira posição, com 65%.

Na outra ponta da lista, os peruanos são os que menos concordam com a interrupção de gravidez (12%), seguido pelos brasileiros (13%) e mexicanos (22%). A Argentina, país vizinho, apoia mais o aborto do que o Brasil, com 28% a favor da interrupção.

Outro questionamento feito aos participantes é sobre o aborto não ser permitido. A média global é que 12% acham que ele não deve ser realizado, com exceção de quando a vida da mãe está em perigo. Porém, 5% afirmam que são totalmente contra ao direito de interrupção da gravidez, não importando a situação.

No Brasil, 17% são totalmente contra o aborto, independente do cenário. Já 21% dos entrevistados no país afirmam que o aborto não deve ser realizado, exceto em casos em que a mulher esteja em perigo.

Realizada entre 20 de janeiro e 03 de fevereiro, a pesquisa aconteceu em 24 países: África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Hungria, Índia, Itália, Japão, México, Peru, Polônia, Rússia, Servia, Suécia e Turquia.  Foram entrevistadas 17.551 pessoas, sendo adultos de 18 a 64 anos nos Estados Unidos e no Canadá e de 16 e 64 anos nos demais países. A margem de erro é de 3,5%.




Ipsos







Um depoimento



Viajei, por meio século e mais quinze anos, por este País que aprendi a amar. 

Incentivado por meus pais modestos. A política sempre esteve cravada em meus nervos mercuriais. No meu coração, cérebro e neurônios. O prefeito de uma cidadezinha do interior, pensava eu, infante, não deveria permitir que ventos cortantes, lá abundantes nas noites estreladas, penetrassem e raspassem minha pele e meus ossos, invadissem meus pulmões, que até hoje exibem cicatriz. Lia os jornais, até mesmo o pesadíssimo Estadão e seus editoriais, para descobrir o destino do País onde nasci. Vibrava com as campanhas políticas e os belos cartazes coloridos pregados nos postes, com as imagens elegantes de homens sorridentes, passavam-me a impressão de que os mais bonitos correspondiam ao melhor candidato. Senti diferença política imediata quando minha avenida cheia de terra, pó e barro quando despencavam as chuvas, começou a mudar. Asfalto, os primeiros carros em algumas casas.

 Delícia viajar no primeiro banco de uma Kombi, olhando para o chão bem abaixo, que passava correndo. Íamos para o futuro e o chão ficava no passado
.
 Einstein. Claro, mal sabia. Também pouco suspeitava de que tudo era feito com dinheiro estrangeiro, que um dia seria cobrado, o primeiro amontoado dessa dívida impagável. Com não mais de "oito anos de minha idade" (a expressão é de Carlyle), dei as primeiras correrias na Capital. A praça da Sé assistindo em bloco uma valente mulher falando contra o governo, quando, do lado da baixada leste, vieram as viaturas repressivas com sirenes malucas e tropas dispostas a descer o pau. A multidão se dispersou e, num instante, eu estava na tranquilidade da avenida Liberdade. Senti, como muitos, o assassinato de John F. Kennedy, que me impressionava por seu porte, carisma e oratória incomparável. Vi muitos a chorar.  Claro que não sabia que, no mesmo dia, Aldous Huxley, no leito de morte, pedia sua última injeção de LSD (não suportava os erros do mundo, queria ser feliz) e também morria C.S. Lewis.  A marcha "com Deus pela liberdade" andava devagar, havia muitas senhoras, religiosas, crentes de que tinham razão, porque Fidel Castro punha no "paredón" os católicos. Minha humilde mãe, "católica apostólica romana", não pensava sequer em ir a passeatas, tinha de lavar roupa de quatro filhos, além de tudo o mais, mas expressava enorme repulsa ao comunismo, por essa única razão.

 Como punir, inclusive com a morte, alguém, por sua crença religiosa? Esse tal de comunismo era o satanás. Vi o golpe de 64, não imaginava que um golpe de estado ou uma revolução era tão insossa. Os tanques passavam e o povo olhava bestializado. Castelo Branco me pareceu um baixinho indigno de presidir o Brasil. Presenciei alguns estudantes protestando no Largo de São Francisco e achei que eles deveriam ter razão. A decisão foi ir ao Governador pedir resistência, como mais tarde me falou o falecido deputado, então Presidente do XI de Agosto, Hélio Navarro, Ademar respondeu de bate pronto: resistir com o quê, meus filhos? Com a bunda? A ditadura consolidava os interesses dos grandes, o povo sofria, sindicalistas não se viam, a USP enfrentou o Mackenzie, a cidade ficou silenciosa e cheia de medo, com restos de carros quebrados ou incendiados nas ruas. Silêncio amedrontador na terra arrasada.  Li o AI n. 5 no interior de um ônibus, quando passava pela Praça da Árvore. Pressenti o golpe no golpe, sem saber defini-lo. Terminaram as passeatas. Fiz vestibular e ingressei na Faculdade cujos alunos admirei. Contestei um a um, por panfletos lançados por trás das Arcadas, os "projetos impactos", entre eles o PIS, demagogia que serve até hoje. O FGTS, incorporado ao preço dos produtos, de modo que os próprios trabalhadores financiam suas indenizações quando rompido o contrato. Só eles suportam o ônus das engenharias financeiras, por isso  o abismo social não sai do lugar. Jamais imaginei que a esquerda brasileira, tão bem representada pelos artigos que lia na Revista Civilização Brasileira, seria desmoralizada por um governo de supostos trabalhadores, corruptos e que danificaram a ideia para sempre. Nem por isso o capitalismo ganhou, como imaginam alguns, porque é de sua natureza a injustiça, a menos que o transformemos em pontos fundamentais. Saiu Dilma, não foi golpe, na minha visão, que respeita as outras.  Temer não apresenta uma reforma ampla e compacta, num mesmo projeto cabe a reforma tributária e dentro dela a da Previdência. Só esta conta, como se fora a panaceia. Não se diz que os recolhimentos do PIS e do COFINS, segundo a Constituição, são destinados à Previdência. Se não tivessem sido usados para outros fins, como, por exemplo, estradas que estão cobertas de mato, a previdência hora do dia estaria apresentando superavit e não deficit. Agora é preciso mudá-la, mas devagar, que o santo é de barro. A União tem milhares de imóveis não usados dos quais pode fazer bom dinheiro. Tem crédito de mais de 100 bilhões contra as empresas de telefonia, monopólio controlado do exterior, capaz, também, de solucionar os problemas. Mas é só crédito. Inexequível, salvo pela vontade popular unida em torno de um governo forte e democrático. Quanto dinheiro do Brasil não saiu pelo ladrão! Não poderia dar outra. Mas uma vez fomos saqueados, pelos próprios brasileiros no mando do desmando por meio das bandalheiras. Se formos saqueados, é porque temos potencial. Não sei se temos carne, mas ainda temos gordura.  Só que não podemos ser roubados de novo.

 Já se aproximando dos últimos caminhos de minha trajetória, compromissado com filhos e netos, ainda elucubro política. A questão nacional ficou muito mais grave, mas se as malandragens vêm à tona e os pérfidos espertalhões forem para o buraco dos cárceres, ainda poderemos evoluir com a ação da parcela do povo que restou, honesta e capaz de construir um País feliz, caso reine um mínimo de harmonia. Nada mais.         

     


                                              
Amadeu Roberto Garrido de Paula - Advogado e sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados, com uma ampla visão  sobre política, economia, cenário sindical e assuntos internacionais.  





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