Estudo
publicado no científico Archives of General Psychiatry¹ apresenta indícios
biológicos da relação entre as duas doenças; assunto é tema global do Dia
Mundial da Saúde 2017
A
obesidade é considerada pela Organização Mundial
de Saúde (OMS) como um dos maiores problemas de saúde pública da atualidade. De acordo com o levantamento intitulado “Panorama da
Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe”, o problema já
atinge 20% das pessoas adultas no país, enquanto mais da metade da população
brasileira está com sobrepeso². Considerado
fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes,
hipertensão e problemas cardiovasculares – responsáveis por mais de 70% das
mortes no Brasil³ –, o excesso de peso impacta, também, na expectativa de vida.
Já a depressão é uma doença que se
caracteriza por uma tristeza profunda e duradoura, associada a outros sintomas,
como alterações de humor, perda de interesse e até dores físicas, que atinge atualmente cerca de 11,2 milhões de
brasileiros com mais de 18 anos – o que corresponde a 7,6% da população -,
segundo o IBGE4. A condição é a principal
causa de incapacidade em todo o mundo e tem grande impacto no índice global de
doenças. No pior dos casos, a depressão pode levar ao suicídio.
Mesmo se tratando de duas condições completamente
diferentes, há muitos casos em que a obesidade e a depressão estão
relacionadas. Estima-se que cerca de 30% das pessoas que procuram tratamento
para perda de peso apresentam depressão; por outro lado, pessoas com depressão
têm um risco 58% maior de desenvolver obesidade¹. “Tanto a obesidade quanto
a depressão podem acontecer a partir de alterações bioquímicas no cérebro em
resposta ao estresse. Em pessoas com depressão, há níveis um pouco mais
elevados do hormônio cortisol, que podem alterar as células de gordura e
resultar em um aumento do acúmulo de gordura (principalmente abdominal) no corpo”,
explica Rocio
Riatto Della Coletta, Gerente Médica de Obesidade da Novo Nordisk. A médica
explica que o oposto também pode acontecer: ”Em uma sociedade em que as
pessoas associam estar magro com estar adequado para o padrão de beleza da
atualidade, a questão da baixa autoestima em pessoas com obesidade pode
levá-las a desenvolver depressão”.
Por ser uma doença crônica, muitas vezes a
obesidade está relacionada a fatores genéticos que fazem com que a perda de
peso se torne um desafio muito difícil de ser superado. Os aspectos psicológicos também devem ser considerados, já que não
é fácil mudar de hábitos de um dia para o outro.
“Infelizmente, muitas
pessoas ainda recorrem a métodos radicais para perder peso, e esses métodos não
estão relacionadas a uma mudança real de hábitos, mas sim à privação. Com isso,
a perda de peso pode até acontecer, mas esses quilos acabam retornando no curto
prazo – o conhecido ‘efeito sanfona’. A decepção com o fracasso desses métodos
imediatistas também pode levar as pessoas com obesidade a desenvolver
depressão”, alerta a especialista. “É muito importante deixar de lado o
mito de que só tem obesidade quem quer, ou que basta comer bem e fazer
exercícios para perder peso. A obesidade é uma doença crônica e complexa,
necessitando de tratamento crônico individualizado”, completa.
Exercícios físicos são aliados no combate à depressão e à obesidade
A
prática regular de atividades e exercícios físicos é considerada pelos especialistas
uma das melhores formas de prevenção e controle de diversos problemas de saúde,
principalmente quando se trata de doenças crônicas, como obesidade e diabetes.
No caso da depressão, não é diferente. Pesquisadores
da Universidade do Texas, em Dallas, fizeram uma revisão dos dados sobre o
assunto e descobriram que, se praticados de três a cinco vezes por semana,
exercícios aeróbicos podem amenizar os sintomas da depressão após cerca de
quatro semanas5. O estudo foi publicado no periódico Journal of
Psychiatric Practice.
“A prática de atividades físicas não só
acelera o metabolismo, como também contribui para um maior gasto energético.
Estudos demonstram que, independentemente do peso inicial, uma perda de peso de
5-10% em pessoas com obesidade traz benefícios expressivos à saúde, incluindo
melhoras dos níveis de glicemia sanguínea, da pressão arterial, dos níveis de
colesterol e da apneia obstrutiva do sono. Além
disso, a prática de exercícios libera substâncias como endorfina e serotonina,
responsáveis por melhorar o humor, proporcionando distração do convívio social
e dos problemas, aliviando os sintomas da depressão”, completa a especialista.
Neste ano, a Depressão é o tema de campanha da OMS para o Dia
Mundial da Saúde. Com o lema “Let’s talk” (“Vamos conversar”), a
iniciativa reforça que existem formas de prevenir a depressão e também de
tratá-la, considerando que ela pode levar a graves consequências. A OMS reforça
que “conversar abertamente sobre depressão é o primeiro passo para entender melhor
o assunto e reduzir o estigma associado a ele. Assim, cada vez mais pessoas
poderão procurar ajuda”. Para mais informações, acesse www.nacoesunidas.org.
Novo Nordisk
Referências
1. Archives of
General Psychiatry. Overweight, obesity, and depression: a systematic review
and meta-analysis of longitudinal studies. Luppino FS1, de Wit LM,
Bouvy PF, Stijnen T, Cuijpers P, Penninx BW, Zitman FG. Disponível em www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20194822. Último acesso 30.03.2017.
2. Estudo Panorama
da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe 2013 (p. 14)
Disponível em http://www.fao.org/3/a-as082o.pdf. Último acesso 29.03.2017
3. Pesquisa Vigitel Brasil 2014 – Vigilância de
fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico.
Disponível em www.abeso.org.br.
Último acesso 31.08.2016.
4. Pesquisa Nacional de Saúde 2013. Disponível em ftp://ftp.ibge.gov.br/PNS/2013/pns2013.pdf. Último acesso 30.03.2017.
5. Journal of
Psychiatric Practice. Evidence-based recommendations for the prescription of
exercise for major depressive disorder. 2013.
Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23653077
Último acesso 29.03.2017