O médico Ricardo Pimentel comenta sobre o congelamento de
óvulos, assunto que surgiu na mídia depois de falas da atriz Fernanda Paes
Leme, da ex-BBB Fani e da jornalista Maju Coutinho
Recentemente,
a atriz Fernanda Paes Leme concedeu uma entrevista a um podcast e se emocionou
ao compartilhar sobre seu processo de congelamento de óvulos aos 38 anos. “As
pessoas precisam ter muito cuidado com o que cobram dos outros”, desabafou
Fernanda. Dias depois, a ex-BBB Fani também fez uma live falando sobre sua
decisão de congelar óvulos aos 39 anos e, na última semana, a jornalista Maju
Coutinho, de 43 anos, também compartilhou em entrevista que congelou óvulos há
seis anos. Segundo o médico ginecologista e especialista em Reprodução
Humana, Ricardo Pimentel, o congelamento de óvulos após os 37
anos é desafiador porque a qualidade dos óvulos tem relação direta com a idade.
“Mesmo
com uma reserva ovariana normal ou até mesmo aumentada, a chance de uma
gravidez futura é menor. É compreensível a emoção por causa da cobrança. As
cobranças são indevidas e no momento errado. E não é só de fora não, a cobrança
até dentro de casa é prejudicial. A infertilidade remete a sentimentos
relacionados à impotência e perda de controle da situação. Segundo estudos, é
tão desafiador emocionalmente como o diagnóstico de um câncer, e quase sempre
os amigos e familiares desconhecem os obstáculos que a pessoa está
enfrentando”, diz.
Quanto
mais o tempo passa, menores são as chances de gravidez
Para
Ricardo, o grande problema é que as mulheres não têm acesso às informações no
momento certo. Na adolescência são levadas ao ginecologista pela primeira vez -
muitas vezes acompanhada da mãe -, e o especialista diz que é preciso fazer um
‘planejamento familiar’, o que na maioria das vezes se resume em iniciar um
método contraceptivo para evitar a gravidez até a mulher estudar, se formar,
casar e se consolidar no trabalho.
“Ela
inicia o uso do anticoncepcional por anos afora e o ‘planejamento’ termina ali.
Quando a mulher está com seus 26 a 28 anos, esse assunto deveria ser abordado
novamente no consultório e isso não é feito. O tempo passa e as mulheres chegam
às mãos do especialista em reprodução humana já em condições não ideais, como
no caso da atriz Fernanda Paes Leme. Os obstáculos existem e são individuais de
cada paciente, mas o nosso papel é fazer de tudo para que eles sejam superados
e o objetivo alcançado. Em uma paciente com menos de 35 anos, por exemplo, um
bom planejamento seria congelar algo em torno de 15 a 20 óvulos, o que daria a
ela uma chance futura de gravidez em torno de 70 a 80% de sucesso”, explica o
médico.
Além
disso, o médico afirma que nenhum tratamento de reprodução assistida é fácil -
nem para quem deseja engravidar e nem para quem quer preservar sua fertilidade.
Ele acrescenta que todo planejamento tem que ter um objetivo final. Por isso,
se esse resultado - que no caso é a gravidez espontânea -, não está sendo
alcançado, é porque ele precisa ser revisto.
“Se
a mulher é pega de surpresa e vê que a reserva dela está diminuída por alguma
razão e que ela não conseguirá atingir o número de óvulos que seria ideal,
precisaremos realizar dois ou três ciclos de estimulação ovariana, necessitando
de um maior investimento financeiro e emocional. Já uma mulher com 40 anos ou
mais, o mesmo número de óvulos entregaria uma chance de gravidez no futuro
entre 30 e 40%, dependendo de cada caso”, diz.
De
acordo com dados da literatura médica, a cada ano que passa a chance de a
mulher produzir um embrião de boa qualidade se reduz em 5%. Quanto mais próximo
dos 40 anos, mais obstáculos aparecem porque a quantidade e a qualidade dos
óvulos diminuem a cada ciclo. Segundo o especialista, até os 35 anos
aproximadamente 50% dos embriões formados serão alterados geneticamente
falando, enquanto aos 42 anos ou mais essa porcentagem sobe para 80-85%. Diante
disso, ele argumenta que com os processos mais desafiadores, o emocional fica
abalado.
“Apesar
de ser seguro e relativamente rápido, o procedimento exige dedicação e
disciplina. São 10 a 12 dias de injeções subcutâneas, cerca de três a quatro
ultrassonografias e o procedimento de captação de óvulos exige uma sedação
realizada por um anestesista. Alguns efeitos adversos como alteração de humor,
barriga inchada e desconforto abdominal podem ser observados por causa das
altas doses de hormônios necessários para o crescimento folicular. São duas
semanas dedicadas a este objetivo. Essa é uma preocupação nossa na Perfetto:
tornar a jornada da paciente uma caminhada segura, eficaz e com toda atenção e
cuidado com cada detalhe. Temos três psicólogas à disposição do casal para que
obstáculos emocionais possam ser amenizados”, diz.
Coisas
que toda mulher adulta deveria saber sobre gravidez e fertilidade
1- A
mulher produz todos os seus óvulos ainda na barriga da mãe e nunca mais produz
óvulos novos. Então, os óvulos acompanham a idade da mulher e a cada ano vão
perdendo a sua “qualidade”;
2- Para
ter dois filhos de forma natural o ideal é começar logo, por volta de 27 a 29
anos, se as condições permitirem. Vale lembrar que necessitamos de um intervalo
entre as gestações;
3- Após
30 anos, se não existe expectativa de gestação nos próximos 2 ou 3 anos, o mais
indicado é congelar os óvulos e aumentar suas chances de gravidez futura;
4- Depois
dos 35 anos a taxa de gravidez cai muito, enquanto a de complicações, como o
aborto, sobe. Isso acontece porque os óvulos não terão a mesma qualidade;
5- O
congelamento de óvulos é um tratamento seguro e eficaz. Estudos mostram que não
há aumento no risco de câncer ou trombose;
6- Uma
vez congelados, os óvulos não perdem mais qualidade, não importa o tempo que
passe. Uma mulher de 40 anos que congelou óvulos aos 32 anos terá a mesma
chance de gravidez de uma mulher de 32 anos, desde que outros fatores não
estiverem associados.