Essa semana, fomos surpreendidos por uma tragédia. Uma mulher de 42 anos, morre por acreditar na falsa promessa de emagrecimento e corpo perfeito através da ingestão de um “chá emagrecedor”, que prometia a perda de peso fácil e rápida, por conter 50 ervas poderosas e naturais.
Resultado: as cápsulas ingeridas pela moça causaram um sofrimento hepático irreversível que a levou à morte. O fato estarrecedor, não é uma situação isolada e nos leva a refletir, o que faz com que, pessoas aparentemente saudáveis caiam nestas armadilhas de promessas mágicas, divulgadas pelas redes sociais, em busca do corpo perfeito, da pele perfeita ou mesmo da necessidade da criação da imagem distorcida e irreal?
E quais são os impactos e motivações psicológicas deste contexto?
A maximização do belo e perfeito, propagada pelas mídias, ganha apoio em potencial, popularizando-se com a utilização exagerada de diversos métodos ou receitas que evidenciam uma necessidade em apresentar uma aparência, distante da realidade, marcada por medidas corporais e simétricas perfeitas para impressionar e se sentir bem.
Infelizmente, a exigência pela perfeição está por toda parte, até mesmo nas redes sociais que divulgam métodos espetaculares para alcançar esse objetivo. Esses exageros, seja por ingestão de substâncias ou mesmo no uso indisciplinado dos famosos filtros virtuais, destacam o desejo da perfeição, estabelecendo um senso de estética e padronização do seu perfil pessoal.
De uma certa forma, percebemos a perseguição desenfreada, por uma imagem que renegue sua aparência, dentro de uma falsa realidade, promovida por um engano estabelecido, sem qualquer acompanhamento médico ou mesmo cuidado com a saúde do corpo e da mente.
Apesar do tímido movimento de defesa de uma exposição, sem pudores ou receios, das imperfeições corporais, somos bombardeados nas mídias e redes socias, por um mercado crescente de inúmeros produtos duvidosos que prometem resultados rápidos, instantâneos e mágicos, como: o corpo sequinho daquela famosa ou famoso que está em evidência no momento ou o rosto sem sinais daquela influenciadora digital.
E desta forma, a venda destes ditos produtos naturais que prometem o corpo ideal em muito pouco tempo e sem qualquer tipo de esforço (nenhum de exercício físico), crescem cada vez mais e promovem o enriquecimento dessa indústria. Mas onde foi parar o senso crítico, o aceite do biotipo, o amor próprio e a autoestima do ser humano que encara essas armadilhas e arrisca tudo para ficar dentro dos padrões de estética e beleza aceitáveis?
Não tenham dúvidas quanto a afetação do bem-estar e do psicológico do indivíduo que vive a partir de uma realidade virtual e corporal distorcida, alimentando através da insatisfação com sua aparência, uma tendência de baixa autoestima e, possível depressão, desconstruindo o real.
Atendendo aos apelos de uma sociedade que cultua o belo e promove uma extrema exposição, através do vício danoso da manipulação da própria imagem e do risco de se expor a qualquer receita ou complexo de ervas naturais que prometa facilidades.
Aqui, entra a ilusão da construção imposta dos chamados padrões de beleza, sobrepondo-se a uma versão distorcida de nós mesmos, trazendo à tona uma questão inerente ao ser humano que é a necessidade de pertencimento. Neste caso, o desejo e a vontade em pertencer ao grupo dos belos e perfeitos, classificados por rótulos, em contraponto a busca de expressão de sua própria individualidade que, na maior parte das vezes, justifica-se por um sentimento de insuficiência e competição.
Podemos afirmar, portanto que, existe aí uma real necessidade de afirmação da imagem que queremos que o outro tenha de nós. E, lógico, na contra mão, o corajoso é aquele que se expõe de cara lavada, com o corpo mais cheinho, com o peso acima do ideal, sem qualquer abuso de efeitos ou substâncias que coloquem em risco sua vida.
Esses exageros podem alimentar o sentimento narcísico do ser humano e aumentar assim, sua necessidade de espelhamento, pois estimula o desejo de que o outro o perceba sempre belo e perfeito, expondo, de forma excessiva, suas emoções e promovendo distorções depressivas através de crises de ansiedade e de uma possível sensação de opressão, uma vez que não se consegue ser feliz sendo ele mesmo, da forma como se é.
Nosso sinal de alerta deve ser disparado quando essa busca insana da perfeição atiça a psiquê, a ponto de tornarem-se indispensáveis a utilização de fórmulas milagrosas, sem comprovação científica ou mesmo sem a aprovação do Ministério da Saúde ou da Anvisa, atropelando a realidade e sendo usados de forma exclusiva, extrapolando desejos e satisfações, sem qualquer acompanhamento médico.
Importante estarmos atentos a estes efeitos psicológicos que, superestimam a nossa imagem e podem desencadear o que chamamos de Síndrome da decepção continuada. É quando não mais me reconheço como sou. Minha imagem real não agrada e só consigo aceitar a imagem distorcida e perfeita, aprovada pela sociedade, que decreta que precisamos ser magros e com o corpo ou o rosto sem qualquer imperfeição.
Uma busca e predileção que refletem uma falsa realidade e a mais pura rejeição do real, em prol de uma imagem desejável e aceitável por todos. Perceba que, quando isso acontece, também está sendo rejeitado o amor próprio e evidenciado os mais variados complexos, camuflados por uma necessidade de reconhecimento.
Enfim, é importante indagar-se onde está seu amor próprio. Porque não se aceita como é? Ou mesmo, encontrar maneiras de cuidar de forma adequada, orientada e saudável de sua saúde, evitando alimentar essa tendência narcísica e exibicionista, que demonstra uma urgente necessidade de ajuste do seu humor, com risco de desequilíbrio de sua saúde mental, onde a falsa realidade, de forma inconsciente, força a divulgação para o outro, apenas do que é belo, sem as imperfeições naturais que, caracterizam e o individualizam como ser humano.
Respeite seus limites e coloque sempre sua saúde e segurança em primeiro lugar. Desconfie de remédios, fórmulas e dietas milagrosas. Fuja da imposição neurótica de uma vida de aparências, pois o ser humano não morre quando o coração para de bater, ele morre quando deixa de se sentir e se perceber de verdade.
Busque
uma terapia, faça exercícios físicos e busque ser menos exigente consigo mesmo.
Seu corpo e sua mente agradecem.
Andréa Ladislau - Psicanalista (SPM); Doutora em Psicanálise, membro da Academia Fluminense de Letras –cadeira de número 15 de Ciências Sociais; administradora hospitalar e gestão em saúde (AIEC/Estácio); pós-graduada em Psicopedagogia e Inclusão Social (Facei); professora na graduação em Psicanálise; embaixadora e diplomata In The World Academy of Human Sciences US Ambassador In Niterói; membro do Conselho de Comissão de Ética e Acompanhamento Profissional do Instituto Miesperanza; professora associada no Instituto Universitário de Pesquisa em Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo; professora associada do Departamento de Psicanálise du Saint Peter and Saint Paul Lutheran Institute au Canada, situado em souhaites; graduada em Letras - Português e Inglês pela PUC de Belo Horizonte.