Cada vez mais professores no Brasil utilizam os aparelhos celulares como complemento das atividades pedagógicas. Dosar os momentos on e offline é importante para o desenvolvimento educacional e social das crianças
Muito se fala sobre o uso dos smartphones nas escolas e quais as medidas que devem ser adotadas para que ele seja cada vez menor. Mas, em uma sociedade como a nossa, em que jovens e crianças têm o primeiro contato com a tecnologia tão cedo, os dispositivos acabam se tornando uma extensão do trabalho pedagógico e podem auxiliar no desenvolvimento das atividades diárias.
De acordo com uma pesquisa divulgada no final de 2018 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), o percentual de professores que utilizam os aparelhos celulares para complemento das atividades com os alunos têm crescido a cada ano. A Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias de Informação e Comunicação nas Escolas Brasileiras (TIC Educação 2017) mostrou que esse aumento aconteceu tanto nas escolas públicas, onde o percentual passou de 36% para 53%, quanto nas particulares, crescendo de 46% para 69%.
"A tecnologia está presente em todos os âmbitos da nossa sociedade e a educação tem acompanhado essa tendência. Precisamos levar em conta que hoje em dia as crianças já praticamente 'nascem' com um tablet ou um celular nas mãos. Eles são movidos à tecnologia e se não acompanharmos essa tendência corremos o risco de deixar de 'falar o idioma' do aluno", comenta a diretora de comunicação do Colégio Notre Dame, Camila Micheletti. A escola, uma das mais tradicionais da Baixada Santista, utiliza o Sistema Anglo de Ensino, que já prevê o complemento dos estudos utilizando o celular nas próprias apostilas.
Chamar a atenção dos jovens para determinados temas, com o uso de QR Codes, por exemplo, é uma das formas de unir tecnologia e educação. Ao falar sobre um assunto, a apostila apresenta o código que dá acesso a fotos, vídeos e materiais complementares que auxiliam no aprendizado. A vantagem desse tipo de interação on e offline é oferecer o conhecimento para o aluno naquela que é a sua "zona de conforto": o smartphone.
Mas, claro, tudo precisa de equilíbrio. "Precisamos ficar sempre atentos para que a inclusão de tecnologia na sala de aula venha para somar no aprendizado, não diminuir. A partir do momento em que deixa de ser benéfica e passa a desviar a atenção dos jovens, ela não é mais bem vinda na escola", explica Camila.
É o caso, por exemplo, dos momentos de lazer. Quando o uso de celular é permitido na escola, é preciso que alternativas de diversão sejam oferecidas no horário do intervalo, principalmente para os estudantes mais novos, de forma que aquele tempo tão importante para o desenvolvimento das relações interpessoais não seja perdido nem negligenciado.
"É preciso que as crianças saibam interagir e brincar como crianças. Isso significa correr, suar, pular, liberar energia. E, claro, isso não acontece quando eles passam todo o tempo livre com o celular nas mãos. O ideal é que os pais e a escola estejam em harmonia nesse sentido, para que os jovens recebam as recomendações de tempo de uso dos dispositivos eletrônicos em casa e que a escola ofereça atrativos 'desconectados'. Hoje, além das quadras e parquinhos, oferecemos mesas de ping-pong, pebolim, jogo de botão, atividades ao ar livre como corda, elástico, caracol. São as brincadeiras mais antigas, mas que ainda são importantes para o crescimento das crianças", finaliza Camila.
Mais do que diversão, as atividades físicas e brincadeiras em grupo são importantes para a saúde dos mais novos e para que eles possam trabalhar a sociabilidade. Essas relações humanas, por mais tecnológicas que essas gerações possam ser, nenhum celular ou tablet poderá proporcionar.
Notre Dame