Períodos eleitorais são sempre
conturbados economicamente. Há uma tensão que se espalha do âmbito político
para o empresarial. Isso porque o mercado funciona, em grande parte, em cima
das expectativas geradas pelos planos de governo de um candidato ou de outro.
Esses planos refletem mais ou menos o que as empresas buscam como cenário para
seu desenvolvimento, segurança para investimentos, etc. Assim, enquanto não se
decide que caminho irá vigorar, há uma inação, uma inércia gerada pelo medo de
colocar sua empresa em um cenário pouco favorável ao que cada empresário
entende como ideal.
Esse histórico de incertezas é
grande no Brasil, e nas eleições desse ano a dúvida tem aumentado, sobretudo
pela grande polarização dos eleitores. Há uma impressão de que,
independentemente de quem ganhar, metade da população ficará desagradada, e
isso criará mais tensão econômica. O problema, entretanto, está nas empresas e
não na política. Um negócio não pode ser tão dependente de fatores externos. E,
colocar a culpa da inação na política, é apenas a prova de que há uma má gestão
acontecendo dentro da empresa.
O impacto eleitoral não pode
afetar a continuidade de negócios. Uma empresa precisa ser comandada independente
dos resultados, e até mesmo da insatisfação dos potenciais clientes com o
cenário político. Há de se criar uma independência entre fatores - que não é
muito comum aqui no Brasil, mas é completamente possível.
Para realizar essa tarefa, as
empresas precisam buscar as diretrizes corretas para embasar suas estratégias
de negócios. As duas principais para esse caso específico, são normas que podem
ser implementadas para guiar todos os processos da empresa: a norma de
Continuidade de Negócios (ISO 22301), e a norma de Gestão de Riscos (ISO
31000). Essas normas trabalham com a criação de regras de contingência para
todos os cenários e ocorrências que possam ser considerados riscos para a
empresa, ou seja, que atrapalham seus objetivos estratégicos.
No caso da norma de
Continuidade de Negócios, a atenção é às situações que representam um risco da
empresa falir, ou seja, ela aborda tudo que pode ser uma crise para a empresa,
podendo impactar diretamente na sua saúde financeira, enquanto que a norma de
Gestão de Riscos é mais abrangente e cotidiana. As
diretrizes preveem mudanças de mercado, e o impacto externo, permitindo que se
saia na frente do problema, já estando preparado para lidar com ele. Uma
empresa bem mapeada possui contingências para mais de 15 a 20 mil riscos, mesmo
que a maioria deles seja bem difícil de acontecer, e ela só precise lidar com
algo em torno de 50 a 200 deles de forma mais constante.
Essas normas são suportes ao
sistema de gestão atual da empresa, mas também precisam acompanhar as atualizações
de mercado. Um exemplo recente foi o da greve dos caminhoneiros que ocorreu no
país todo. Esse risco existia? Sim. Era provável? Não. Porém, quem tinha um
plano de contingência, mesmo que achando que nunca o usaria, se saiu melhor do
que quem nem pensou nisso - algo até óbvio se sua empresa é uma transportadora,
por exemplo. A partir de então, esse risco passa a ter mais destaque, e se
torna uma realidade mais provável de se repetir, e por isso vale nova atenção.
No caso eleitoral, pode haver
poucos riscos que sejam institucionais, que ameacem as empresas de fechar, mas
com certeza há muitos que afetam lucro, crescimento, processos, funcionários,
etc. A alta do dólar talvez seja o mais evidente, pois afeta diretamente o
mercado, com a alta nos preços de matéria prima, por exemplo. O mesmo se aplica
a variações no preço do combustível, que é diretamente influenciado pelo dólar.
Outro aspecto interessante é o da tarifação de serviços básicos devido à
privatização ou não privatização de alguns setores. Para ambos os lados, há
quem se beneficia e quem perde. Propostas que envolvam processos burocráticos
ou impostos, agem da mesma forma.
Um risco pouco observado, por
exemplo, é o da evasão de mão de obra especializada. Com a infelicidade de uma
parcela da população, grandes profissionais podem simplesmente buscar países
diferentes para atuar. Aqui entra o fator humano ligado a ideais pessoais e não
há como agradar a todos nesse aspecto. Não importa muito qual a política do
vencedor, sempre há incertezas e fatores de risco para diversos cenários
empresariais. Não existe meio de impedir que esses riscos existam e que alguns
deles se tornem problemas reais. Entretanto, há como controlar isso, estando
prevenido, pronto a agir de forma a se adequar, encontrar novos caminhos e
lidar com os problemas, sem deixar o impacto eleitoral afetar sua empresa.
Aplicar essas diretrizes agora
é começar a blindar sua empresa antes de qualquer choque. Prevenir não é só
melhor do que remediar. Nesse caso, prevenir é remediar. É a única solução real
para lidar com o que não se pode controlar externamente. O presente e futuro de
sua empresa não pode depender dos outros, apenas da sua própria gestão. Assim,
ganhe quem ganhar, sua empresa irá sobreviver e prosperar.
Alexandre Pierro - engenheiro mecânico, bacharel em física
aplicada pela USP e fundador da PALAS, consultoria em gestão da qualidade.