Baixa energia e cansaço estão entre os motivos mais comuns pelos
quais os pacientes buscam ajuda de um médico. Apesar de serem sintomas tão
comuns, muitas vezes é difícil apresentar um diagnóstico, e a bola da vez é
cravar que o problema tem nome – fadiga adrenal. É notório que muitos problemas
de saúde podem causar fadiga. Desta forma, os médicos se envolvem em um
trabalho de detetive, obtendo o histórico médico do paciente, realizando exames
físicos e de sangue, e se debruçando sobre os sintomas do paciente. Os
resultados geralmente não fornecem explicações convincentes. Pode ser
frustrante para os clínicos e os pacientes quando um diagnóstico claro
permanece evasivo. Uma teoria atraente, chamada de fadiga adrenal, relaciona a
exposição do estresse à exaustão adrenal como uma possível causa dessa falta de
energia.
Mas a fadiga adrenal é uma doença real?
As glândulas supra-renais são duas glândulas pequenas que se colocam sobre os
rins e produzem vários hormônios, dentre eles, o cortisol. Quando estamossob
estresse, produzimos e liberamos rajadas curtas de cortisol na corrente
sanguínea. A teoria da fadiga adrenal sugere que a exposição prolongada ao
estresse pode drenar as supra-renais, levando a um baixo estado de cortisol. A
depleção adrenal causaria confusão mental, baixa energia, humor depressivo,
ânsias por comidas de sal e/ou doces, tonturas e outros sintomas vagos.
Numerosos sites fazem referência a como diagnosticar e tratar a fadiga adrenal.
No entanto, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e todas as outras
especialidades médicas não reconhecem essa condição. Não existe nenhuma prova
científica para suportar a fadiga adrenal como uma condição médica verdadeira.
Essa interrupção entre o medicamento convencional e complementar aumenta a
frustração para quem acredita ter esta condição.
Uma revisão recente de 58 estudos concluiu que não há base científica para
associar a insuficiência adrenal como causa da fadiga. Os autores relatam que
os estudos apresentaram algumas limitações. A pesquisa incluiu muitos
marcadores e questionários biológicos diferentes para detectar a fadiga
adrenal. Por exemplo, o cortisol salivar é um dos testes mais comuns usados
para fazer um diagnóstico. O nível de cortisol, quando verificado quatro vezes
em um período de 24 horas, não foi diferente entre pacientes cansados e
saudáveis em 61,5% dos estudos. A revisão levanta questões sobre o que deve ser
testado (sangue, urina e/ou saliva), o melhor momento, com que frequência,
quais intervalos são considerados normais, e quão confiáveis são os testes,
para citar alguns. Em resumo, não há critérios formais para definir e
diagnosticar a fadiga adrenal.
Mas e se eu tiver sintomas de fadiga adrenal?
Se você tem cansaço, confusão mental, falta de motivação, entre outros
sintomas, você deve primeiro realizar uma avaliação completa com um médico. A
anemia, a apnéia do sono, doenças autoimunes, infecções, outras doenças
hormonais, doenças mentais, problemas cardíacos e pulmonares e doenças renais e
hepáticas são apenas algumas das muitas condições médicas que podem causar
sintomas semelhantes. Se o tratamento de seu profissional médico for normal e
você acredita que você pode ter fadiga adrenal, eu recomendaria que você
considere uma questão fundamental: por que suas dores suprarrenais serão
drenadas? Veja melhor os tipos de estresse aos quais você está sujeito que
podem afetar você. Para muitos, o ritmo agitado da vida moderna é culpado.
A falta de uma explicação biológica pode ser decepcionante. Para piorar as
coisas, não é incomum que os médicos digam “não há nada de errado com você” ou
“isso está tudo na sua cabeça”. A quantidade quase infinita de informações na
Internet que recomenda diversos tipos de tratamento causa ainda mais estresse.
As condições de saúde mental, como depressão ou ansiedade, podem ter sintomas
semelhantes à fadiga adrenal e podem não responder bem aos antidepressivos e ao
aconselhamento. E alguns pacientes não acreditam que uma preocupação de saúde
mental seja a principal causa de seus sintomas e muitos recusam medicamentos
devido a preocupações com seus efeitos colaterais.
Então, o que devo fazer para melhorar este quadro clínico?
Navegar neste oceano de incerteza não é uma tarefa fácil. Os sintomas
associados à fadiga adrenal provavelmente têm múltiplas causas. Visitas
frequentes de acompanhamento e uma forte parceria paciente-clínico são
elementos críticos para o sucesso. Os clínicos alternativos e complementares
muitas vezes têm melhores resultados, porque os compromissos tendem a durar
mais e vêem os pacientes através de uma lente mais holística. Uma importante
palavra de cautela: alguns profissionais médicos prescrevem análogos de
cortisol para tratar fadiga adrenal. A substituição do cortisol pode ser
perigosa mesmo em pequenas doses. Consequências não intencionais podem incluir
osteoporose, diabetes, ganho de peso e doenças cardíacas.
Independentemente do que ou como chamamos, existem milhões de pessoas que
sofrem de sintomas semelhantes, e um plano personalizado que envolve
aconselhamento, medicamentos, suplementos, mudanças de estilo de vida, entre
outros, poderia funcionar para muitos. A melhoria após esses programas é lenta
e a evidência é fraca, mas espero que avanços em dados importantes, genômica e
sua relação com o meio ambiente e o microbioma possam iluminar a melhor forma
de ajudar as pessoas que sofrem com essas doenças.
A teoria da fadiga adrenal pode caber como uma luva para explicar seus
sintomas, que são muito reais. Mas antes de comprar protocolos caros pela
Internet para tratar algo que nem sequer temos certeza ser real, mergulhe
profundamente e reexamine seu estilo de vida. O caminho para se sentir melhor
pode estar mais perto do que você pensa.
Paula Fernandes Castilho - Nutricionista
graduada pelo Centro Universitário São Camilo. Especialista em Nutrição Clínica
pelo GANEP Capacitada em Fitoterapia em Nutricosméticos. Diretora da Sabor
Integral Consultoria em Nutrição.