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quarta-feira, 6 de junho de 2018

Assédio sexual no mercado da comunicação


Compliance Cultural


Acredito que a única constante da vida é a mudança e, muitas vezes, por diversos motivos, temos receio de enfrentar as mudanças de frente porque somos humanos e temos medo do desconhecido, da perda de estabilidade e de mais todas as consequências que podem vir das transformações. Advogo pela ideia de que aceitarmos nossos medos e olharmos para eles com franqueza é o primeiro passo para que possamos ser agentes das mudanças e não apenas objetos que indubitavelmente serão superados pelo novo.

Em 1960, como vimos fielmente retratado na série Mad Men, era considerado normal que o chefe, no caso um diretor de criação, contratasse secretárias e empregadas tendo como critério a sua aparência física. Era normal, também, que esse chefe solicitasse – ou exigisse – condutas sexuais ou afetivas de suas empregadas.

Ao final, por mais que esses comportamentos incomodassem as mulheres, era considerado mais um dia de trabalho. E aquela secretária chegava em casa com uma sensação de desconforto físico, uma angústia sem conseguir saber a origem daquilo, mas as vidas tinham que continuar e todos e todas continuavam suas rotinas.

Seria incrível que essa realidade tivesse ficados nos distantes e festivos anos 60 do século passado e apenas aparecesse nos livros como um comportamento datado e já superado.

Porém, infelizmente, os dados nos revelam que isso não é verdade. Segundo pesquisa realizada em 2017 pela associação Grupo de Planejamento com 1.400 respondentes de São Paulo (capital + RM), sendo 68% mulheres e 32% homens, 90% das mulheres e 76% dos homens respondentes afirmaram já ter sofrido algum tipo de assédio, moral ou sexual.

Além disso, 97% das pessoas afirmam que ocorrem situações de assédio sexual em seu ambiente de trabalho, sendo que 52% dos homens e 67% das mulheres dizem que isso ocorre frequentemente.

Em pesquisa internacional, para 23% dos homens, é normal que o chefe espere por sexo com a empregada. [1] A pesquisa foi feita pela ONG Care em 8 países com 9.408 homens adultos. Evidentemente, esse percentual deveria ser de 0%, afinal de contas uma empregada está no ambiente de trabalho para trabalhar e não para atender expectativas sexuais de seus superiores hierárquicos ou de quaisquer outros empregados da empresa – lembrando que o assédio sexual pode acontecer de forma vertical e horizontal, ou seja, entre superior e subordinado ou entre colegas na mesma linha hierárquica.

Esses dados são alarmantes e revelam que ainda não passamos pelo processo de transformação quanto a esse assunto. Mas, voltando ao início do texto, é inegável que ter uma pesquisa específica sobre o assunto feita por próprios agentes do mercado é mudança a caminho e ganhando força a cada dia.

As mulheres passaram a perceber, a partir de conversas com outras mulheres e acesso a conteúdos, especialmente online, que os incômodos que sentiam ao chegar no ambiente de trabalho ou depois de irem para suas casas ou ao longo de todo o dia, eram consequências de condutas assediadoras em suas rotinas. E, aqui, cabe a reflexão: se uma conduta causa incômodo em uma parcela da população que é mais da metade das pessoas do mundo, talvez ela não seja normal nem natural, não é?

Percebemos, portanto, que não conviveremos mais com a naturalização do assédio, ou seja, não tem mais aderência, em nós mulheres, a ideia de quem homens assediam porque são “assim mesmo” e que nós devemos “deixar entrar por um ouvido e sair pelo outro” porque “não adianta, eles não mudam”.

Talvez, hoje, a principal evidência concreta de que isso não será mais aceito seja o Time’s Up, um movimento contra o assédio sexual fundado em 2018 por celebridades de Hollywood em resposta ao Efeito Weinstein[2] e ao #MeToo. Uma aliança feminina e feminista conduzida por mulheres extremamente poderosas em sua área de atuação.

Essa é, portanto, mais uma evidência da mudança. E agora nos caberá aguardar a história nos contar quais foram as empresas que lideraram esse processo de mudança e quais não acreditaram que a transformação estava acontecendo e acabaram desaparecendo. Acredito que todas as leitoras e todos os leitores preferem ocupar o primeiro grupo.

Combater o assédio sexual é fundamental para todos os aspectos do negócio de uma agência, pois empregados saudáveis são melhores; um ambiente de trabalho diverso, tolerante e respeitoso, em que a integridade é a linha mestra, é um espaço com mais criatividade, mais inovação e produtividade e, portanto, mais lucrativo.

E os dados nos apoiam novamente. Segundo pesquisa feita pela consultoria financeira McKinsey, empresas lideradas por mulheres têm rendimentos 21% acima da média industrial em seu país e que empresas com baixo percentual de diversidade têm um desempenho quase 30% inferior à média de sua área. A pesquisa foi feita em 12 países.[3]

Prevenir e combater o assédio sexual exige dedicação e parceiros de trabalho especializados. Investir na formação educacional da equipe de trabalho, na atualização das normativas de conduta dentro da empresa, criar um canal de ouvidoria cuja base de trabalho seja centrada na vítima e focada no agressor, estabelecer políticas de tolerância zero e mais uma série de procedimentos são, hoje, fundamentais. É o que chamo de Compliance Cultural.

A mudança está em curso. Ainda bem, porque já não era sem tempo! Iniciativas como o Comitê de Relações Humanas da Ampro – Associação de Marketing Promocional são reveladoras desse processo de mudança, pois coloca em local de destaque um novo olhar sobre a cultura organizacional do mercado de comunicação. Ter acesso a tal iniciativa foi inspiracional para esse artigo!






Isabela Guimarães Del Monde - advogada sócia do Tini e Guimarães Advogados e Cofundadora da Rede Feminista de Juristas – deFEMde – e membra do Conselho de Relações Humanas da Ampro.





2 Uma tendência global em que as pessoas, coletiva ou individualmente, se apresentam publicamente para relatar sobre condutas sexuais inadequadas cometidas por homens famosos ou em posições de poder. O termo leva esse nome devido às inúmeras alegações de violência sexual cometida pelo produtor de Harvey Weinstein, que foi banido da Academy of Motion Picture Arts and Sciences.




Seis em cada dez (61%) brasileiros não apoiariam candidato à presidência que defende a privatização da Petrobras, aponta Ipsos


Maioria (57%) também não é favorável a candidato que promete realizar a Reforma da Previdência


Seis em cada dez brasileiros (61%) não apoiariam um candidato à presidência da República que defendesse a privatização da Petrobras, aponta a pesquisa Pulso Brasil, da Ipsos, realizada entre 1º e 16 de maio. O levantamento também mostrou que 57% não é favorável a candidato que promete realizar a Reforma da Previdência.

Entre as regiões, o Nordeste teve o maior índice de rejeição à ideia de privatizar a Petrobras: 70%. O Centro-Oeste teve o menor percentual, com 36%. Com relação ao nível de instrução, brasileiros com nível superior (67%) são os que mais rejeitam a proposta de privatização.

“Estudos anteriores já apontavam para esta postura mais estadista do brasileiro, especialmente no que tange à privatização da Petrobras”, ressalta Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos Public Affairs.

Já sobre a Reforma da Previdência, a região Sudeste possui o maior nível de rejeição, com 65%. O Sul é o mais favorável à ideia, quase metade dos entrevistados (45%) disseram que apoiariam um candidato que prometesse realizar a reforma. Quase metade dos brasileiros com nível superior (49%) não apoiaria um candidato que defendesse a Reforma da Previdência.

“A Reforma da Previdência é uma tema delicado e que ainda não foi compreendido pela população. A sensação de perda de direita também acarreta em menor apoio a candidatos que defendam essa bandeira”, diz Cersosimo.

Ainda sobre a privatização, seis em cada dez entrevistados (62%) não apoiariam quem defendesse a privatização do Banco do Brasil. O índice é ainda mais alto na faixa etária entre 60 e 65 anos, com 69%.

Por outro lado, a região Centro-Oeste possui o índice mais alto (46%) entre os que apoiariam um candidato que defendesse a privatização da instituição bancária. As regiões Sudeste e Nordeste são as mais contrárias às medidas, com 68% e 67%, respectivamente.

A pesquisa também mostrou que a maioria dos brasileiros (71%) apoiaria um candidato que prometesse o fim do foro privilegiado. Os brasileiros também apoiariam candidatos que reduzissem os gastos públicos (68%) e promovessem a reforma política (65%).

Nesta última edição, a Ipsos entrevistou presencialmente 1.200 pessoas em 72 municípios, entre 1º e 16 de maio. A margem de erro é de três pontos percentuais. 





Ipsos


A contestação ao governo Temer


O governo de Michel Temer, marcado pela mais baixa popularidade de um Presidente desde a redemocratização, ficará também conhecido por ter sido o governo que foi a nocaute pela maior greve dos caminhoneiros no Brasil, com suspensão do abastecimento de alimentos, combustíveis e medicamentos, entre outros. A paralisação dos caminhoneiros é mais um capítulo que retrata a insatisfação dos brasileiros, que, desde as manifestações de junho de 2013, reclamam de governos, partidos e políticos taxados pela corrupção e pela ineficiência frente à representação das demandas da população brasileira.

Estudos clássicos sobre o governo representativo partem da ideia de que, em democracias, o povo não governa diretamente – para fazer parte do governo, o povo precisa do mecanismo da representação política formado por partidos e políticos. Os argumentos pró-representação política são os mais variados possíveis. Em suas obras, os sociólogos Max Weber (1864-1920) e Joseph Schumpeter (1883-1950) limitam a participação do povo no voto nas democracias, porque ambos entendiam que a complexidade administrativa da sociedade moderna atrelada à incapacidade do indivíduo comum em tomar decisões frente a assuntos complexos se colocavam como condições óbvias que inviabilizavam a participação mais ampla do povo.

Na segunda metade do século passado, no livro Poliarquia, Robert Dahl (1914-2014), bem mais otimista quanto à participação do povo, assevera que, para ser uma democracia, o regime deve conceder ao cidadão diferentes níveis de participação, não restritos ao mecanismo de representação puramente eleitoral. O que acompanhamos em maio último é justamente isso: a ampliação dos níveis de participação do cidadão brasileiro para além do mecanismo puramente eleitoral. Esse é o sentido das greves, manifestações de rua, grupos de interesse, associações da sociedade civil, movimentos sociais etc. São canais de participação não eleitoral que trazem consigo oportunidades reais para a defesa de interesses da população brasileira como: educação, segurança pública, contra corrupção, defesa de direitos políticos, sociais e econômicos.

A greve dos caminhoneiros, por um lado, levou a nocaute o governo de Michel Temer ao mostrar sua incapacidade em conter crises e reduziu qualquer expectativa de sucesso eleitoral deste governo nas eleições de 2018. Por outro lado, greves, manifestações de rua e passeatas, quando organizadas com valores da não-violência e da tolerância a diferenças, mostram-se como eficientes instrumentos à disposição da população brasileira para vetar políticas e contestar presidentes.





Doacir Gonçalves de Quadros - professor do curso de Ciência Política e do mestrado acadêmico em Direito do Centro Universitário Internacional Uninter.



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