Pesquisa do Instituto
Update é o maior mapeamento já realizado sobre inovação política na região
Enquanto o sistema
político brasileiro parece desmoronar, um outro mundo de possibilidades emerge.
São projetos inspiradores que resgatam a confiança e aproximam os cidadãos da
política. É o que mostra a pesquisa Emergência Política, que
mapeou mais de 700 iniciativas de inovação política, em 21 países
latinos. O levantamento é do Instituto Update, organização que estuda e
fomenta práticas políticas emergentes na América Latina.
Confira
os principais resultados da pesquisa Emergência Política em: https://goo.gl/YHdrqE
Este é o mapeamento mais
abrangente já realizado sobre inovação política na região. “São cidadãos,
ativistas, empresários e políticos que desenvolvem soluções para os desafios do
século 21. Ações que caminham para algo positivo e reativam a esperança em
acreditar na política como ferramenta de transformação”, diz Rafael Poço,
pesquisador e cofundador do Instituto Update.
As iniciativas tratam de
temas como despolarização da sociedade, transparência, partidos digitais e
fiscalização das ações de parlamentares e governantes. “Esses assuntos instigam
a participação da sociedade, pois ampliam a confiança, valorizam a diversidade
de ideias e tornam a prática política mais amigável e humana”, observa Beatriz
Pedreira, pesquisadora e também cofundadora da organização.
Beatriz explica que assim
como já acontece em outros países latinos, com culturas e problemas sociais
semelhantes, no Brasil também existem pessoas e organizações se articulando por
um novo jeito de fazer política. “Das 700 ações mapeadas, mais de 30% estão no
Brasil. Tem gente muito boa trabalhando pelo país”, ressalta.
O estudo aponta que as
iniciativas de inovação equilibram o uso de tecnologia digital com tecnologia
social - 50% dos projetos são focados em aplicativos e plataformas onlines,
enquanto outros 50% dedicados a metodologias e processos não-digitais.
A maior parte das
iniciativas (80%) são de empoderamento do cidadão, ou seja, ações que buscam
envolver a sociedade nos processos políticos de forma propositiva. Os outros
20% são de incidência política direta, com impacto nas instituições
tradicionais.
Os resultados do
levantamento são divididos em duas categorias: Hubs - as organizações formais
ou informais que realizam as ações; e Sinais - os temas, ações, projetos,
metodologias e ferramentas em si.
Dos Hubs, a maior parte
são ONGs (55,7%), seguida de redes (15,1%), organizações informais (10,7%),
empresas (7,4%), governos (6,3%), partidos políticos (2,6%), academia
(1,5%) e organismos multilaterais (0,7%).
Os Sinais se dividem entre
cultura política (23,5%), governo 2.0 (19,1%), transparência (17,2%),
participação cidadã (14,8%), controle social (14,8%) e mídia independente
(10,7%).
Tendências
A pesquisa indica que
cinco grandes tendências impulsionam a transformação política na América
Latina, classificadas como: Protagonismo Cidadão; Identidade Estética; Cidadão
em Foco; Transparência 360º e Das Ruas às Urnas.
A primeira, Protagonismo
Cidadão, é quando a sociedade toma para si a responsabilidade de conquistar
as mudanças sociais que deseja. São manifestações e protestos que se organizam
a partir de novas tecnologias, como o Movimento Secundarista (Brasil),
#Tomaelbypass (Peru), YaSunido (Equador), Ayotizinapa (México); ações pontuais
que contribuem para uma questão local, como o Por mi Bairro (Uruguay), Teto
(diversos países), Colab (Brasil) e Ocupa Tu Calle (Peru); e formações em que
ativistas capacitam novos ativistas, à exemplo da Escola de Ativismo (Brasil),
Bairro de las Heroinas (Bolívia), Go 24/7 (diversos países) e HacksLabs
(diversos países).
Em Identidade Estética estão
as iniciativas que utilizam-se de novas linguagens, narrativas e abordagens
para informar e engajar pessoas. Esses projetos demonstram uma mudança
fundamental na comunicação sobre política, com estratégias que passam por
linguagens informais, didáticas e que promovem o engajamento aliado a causas.
São exemplos: Ônibus Hacker (Brasil), En Otros Zapatos (diversos países),
Presidente Hendel (Argentina), Gol Político (México), PimpMyCarroça (Brasil),
FastFood da Política (Brasil), Onda Feminista (diversos países), Internet es
Nuestra (diversos países) e Somos todos Gay (Paraguai).
A tendência Cidadão em
Foco agrupa processos, produtos ou serviços do setor público que colocam o cidadão
como centro de suas ações. É uma nova mentalidade em que o Estado compreende
que não possui todas as respostas para os desafios da sociedade e por isso
aproxima o cidadão para colaborar com o desenvolvimento de política públicas.
São espaços dentro de governos dedicados a co-construção de serviços, como os
laboratórios de governo - Laboratório de Gobierno (Chile), Laboratorio de la Ciudad
(México), SantaFé Lab (Argentina) e LabHacker Câmara dos Deputados (Brasil); à mandatos
que aumentam a participação de cidadãos na tomada de decisões, como Governo Aberto de Nariño
(Colômbia), Pedro Kumamoto (México), Marco Civil da Internet (Brasil) e Código
Ingênios (Equador).
Adoção de
práticas de transparência para todos os aspectos da política dão nome à quarta tendência:
Transparência 360º. Esse conceito, que sempre esteve
ligado a abertura
de dados, agora vai além e avança para tecnologias que mantêm o cidadão
informado sobre o comportamento e patrimônio de políticos - A Quien Elejimos
(Paraguay), Cargografias (Argentina), 3de3 (México) e Ranking Político
(Brasil); analisam a veracidade de informações, como o Polítigrafo (El
Salvador), Chequeado (Argentina), Agência Lupa (Brasil); e realizam
investigações profundas que revelam práticas de corrupção, como o Brasil Leaks
(Brasil), México Leaks (México) e o famoso Panamá Papers (diversos países).
Desde o período das
“redemocratizações” na América Latina, a sociedade civil atuou com mais força
fora das instituições políticas. Entretanto, com o aumento da descrença na
política e políticos atuais, novos grupos da sociedade buscam ocupar esses
espaços institucionais. Essas iniciativas compõem a quinta tendência, Das
Ruas às Urnas, com ações de ativismo eleitoral e novos formatos de
campanhas e candidaturas, à exemplo da Bancada Ativista (Brasil), Muitxs
(Brasil), Wikipolítica (México) e La Matriz (Chile); partidos 2.0, de
diferentes ideologías, como o Revolución Democrática (Chile), Partido Novo
(Brasil), e Rede Sustentabilidade (Brasil); e ferramentas digitais que possibilitam
ao eleitor escolher candidatos por afinidades ideológicas e causas, como o Me
Representa (Brasil), Vote LGBT (Brasil), Elije Tu Candidato (Venezuela) e Vota
Inteligente (Chile).
Futuro da política
As 700 iniciativas
mapeadas na primeira fase da pesquisa Emergência Política representam
uma amostra do ecossistema de inovação política na América Latina.
Na segunda etapa, os
pesquisadores viajaram a 11 dos 21 países – Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,
Colômbia, Equador, Guatemala, México, Paraguai, Peru e Uruguai – e conversaram
com mais de 250 lideranças, de governos ao ativismo informal. Foram mais de 24
mil minutos gravados de entrevistas, que serão transformados em conhecimento e
divulgados na fase final do estudo, em abril de 2018.